Numa espécie de prefácio do livro, Ribeiro afirma que não o escreveu, mas recebeu um pacote de laudas datilografadas que continham o depoimento de uma mulher de 68 anos. Ela, que se identificou com as iniciais CBL, teria dado ao escritor a permissão de assinar o livro. A mulher narra diversas aventuras sexuais, derrubando tabus como um trator a um arbusto – virgindade, sexo anal, sadismo, incesto e bissexualismo, por exemplo. E religiosidade.
“Essa mulher é uma deusa, uma pessoa que talvez não exista. Trata o sexo com liberdade e sem culpa, tem a coragem de cumprir uma vocação libertina. A peça obriga o espectador a se perguntar qual o limite de sua liberdade. A nossa sociedade é muito moralista”, diz Domingos. “Essa mulher é bonitona, gostosa e devassa”, afirma Fernanda. De acordo com o diretor, a montagem não choca porque “humaniza a personagem”.
Para a atriz, a proposta que Domingos lhe fez, aceita em 24 horas, após a leitura do livro, “foi irresistível”: “O texto é vertiginoso e oportuno, e tenho interesse nessa aproximação entre literatura e teatro”. “A peça pergunta se você está feliz no ponto até onde a libido o levou, além de mostrar uma bandeja de opções. A personagem usa a vida dela para provocar em quem assiste a liberação da libido. Ou não. Ela também tem lá os seus limites”, afirma.
O tom do espetáculo é o de depoimento. As luzes na platéia ficam acesas na maior parte do tempo – apagam-se apenas nos momentos de maior introspecção, como quando a personagem fala da relação afetuosa com seu irmão. No cenário: uma mesa onde estão duas pequenas imagens – os budas – e o gravador que acolhe o depoimento, além de uma mesa lateral onde fica o litro de uísque. Daniela Thomas assina a direção de arte.
Há pontos de identificação entre a atriz e a personagem? “Sim, como entre o público também”, diz Fernanda, que acentua no trabalho de interpretação o bom-humor presente no texto. A atriz colocou na personagem um sotaque nordestino, já que a mulher é uma baiana que vive no Rio.
A Casa dos Budas Ditosos pertence à coleção Plenos Pecados da Editora Objetiva – é o volume dedicado à luxúria. Quando começa a narrar suas memórias, a mulher já está no fim da vida. Domingos optou por uma atriz “na faixa dos 30 a 40 anos, inteligente e com equilíbrio interno suficiente”. Embora no original a mulher já esteja próxima dos 70 anos, na peça ela está no auge da forma. “Fernanda herdou o talento da mãe (Fernanda Montenegro)”, diz.
A Casa dos Budas Ditosos – Monólogo. De João Ubaldo Ribeiro. Adaptação e direção de Domingos de Oliveira. Com Fernanda Torres. Sextas, às 20h, sábados, às 18h e às 20h, e domingos, às 19h. No Centro Cultural Banco do Brasil – r. Álvares Penteado, 112, São Paulo. Tel.: 3113-3651. Ingr.: R$ 15. Até 14 de dezembro, e de 16 de janeiro a 1º de fevereiro.
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