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Pedreiro improvisa moradia em viaduto

Na Avenida Prestes Maia, em Sto.André, moradores de rua montaram estrutura com doações

Por Yara Ferraz
do Diário do Grande ABC
17/11/2014 | 07:07
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Orlando Filho/DGABC


‘Não tenho tudo que eu quero, mas amo tudo que eu tenho.’ Essa é a frase escrita na parede da Avenida Prestes Maia embaixo do viaduto da Avenida Dom Pedro II, em Santo André. Quem passa por lá se surpreende com a ‘casa’ improvisada, montada por dois moradores de rua. São duas camas, uma pequena estante com televisão e telefone, uma mesa mais afastada com filtro de água e alguns alimentos, além de um fogão. A organização, impecável, chama a atenção. Os eletrodomésticos não funcionam, mas dão a sensação de que o ambiente é realmente o de é uma casa.
O pedreiro Márcio César da Silva, 46 anos, é o morador em tempo integral do espaço. Fluminense, natural de Santa Cruz, ele chegou a São Paulo há quatro meses em busca de melhores oportunidades de trabalho. “Sempre diziam que por aqui eu conseguiria mais trabalho, aí eu comprei a passagem e vim. Assim que cheguei ao Terminal Tietê fui roubado. Levaram todos os meus documentos e as minhas coisas.”
Silva conta que ficou perdido e desorientado em uma cidade que não conhecia, e começou a morar nas ruas. Um dia chegou a Santo André com o trem. Foi aqui na cidade que ele procurou a Casa Amarela, que abriga moradores de rua, e passou a viver lá. “As pessoas são muito boas, porém, tem muitas regras, como dormir cedo, por exemplo. Na Casa Amarela acabei conhecendo o Daniel, que é marceneiro e também morava nas ruas. Aí um dia a gente decidiu sair de lá”, explica.
Os móveis foram todos conseguidos em doações ou foram encontrados nas ruas. Depois, foi só encontrar um viaduto vazio e pronto.
Em meio a estabelecimentos comerciais e empresas, a única residência que fica em frente é a da dona de casa Vera Rodrigues Ferreira, 60. “O rapaz é ótimo e esse viaduto nunca esteve tão limpo. A situação comove muito a gente, por isso, se ele precisa de algo, eu faço uma doação.”
Daniel, o outro morador do espaço, passa o dia inteiro fora trabalhando, de modo que Silva é o responsável pela organização do local. Ele encontrou uma ocupação para a qual não é necessária a saída dali. “Eu olho os carros que as pessoas estacionam e aí elas me dão um trocadinho. Cada um dá o que pode. Quem não pode, vai com Deus. Eu não desejo nenhum mal para ninguém não.”
Ele relatou que nunca havia morado na rua. Perguntado sobre sua família, ele manteve a cabeça baixa e respondeu que tem seis filhos e é divorciado. Quanto ao fato de ter entrado em contato com eles, Márcio simplesmente deu de ombros. Esse foi o único momento em que o sorriso sumiu do seu rosto. Em seguida, disse que até o fim do ano está de volta para a família. “Eu já tenho quase todo o dinheiro da passagem e estou tirando meus documentos de novo, com a ajuda do pessoal da Casa Amarela. Se Deus quiser vou passar o Natal com eles.”
O pedreiro também se alegra ao falar da pequena mascote que encontrou, a gatinha Laila. “Ela é muito especial para mim, minha única companhia. Agora ela vai comigo para o Rio também.”
Sobre a experiência que viveu na cidade, ele se emociona, mas diz que não se arrepende. “Eu gostei daqui, vou correr no Parque Celso Daniel pela manhã. E nos fins de semana vou olhar carros em outros locais. É uma experiência sabe? A gente tem que viver. Eu não imaginei que seria assim, mas é isso.” 




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