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Programa Saúde da Família muda a periferia do ABC
Por Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
19/04/2003 | 17:25
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“Oi, meu amor. Este menina é um anjo, ela cuida de mim, é muito boa para mim.” É assim que a médica generalista e responsável pela Unidade de Saúde da Família da Vila São Pedro Nilce Quejada é recebida ao chegar à casa da aposentada Saviana Pereira de Jesus, 85 anos, uma das 45 mil moradoras da Vila São Pedro, bairro periférico de São Bernardo. A cena, impensável em um hospital público lotado, com médicos sobrecarregados que às vezes mal olham nos rostos de seus pacientes, ocorre nos PSFs (Programas da Saúde da Família). É com eles que o sistema tradicional de saúde vem mudando e dando atenção à prevenção de saúde antes que a doença chegue. Assim como a família de Saviana, outras 72.614 famílias no Grande ABC estão hoje cadastradas neste tipo de programa.

É subindo e descendo ladeiras e muitas vezes sendo recebido com “a porta na cara” que agentes comunitários (que obrigatoriamente também são moradores do bairro) enfermeiros e médicos chegam à população. Em São Bernardo, o Programa de Saúde da Família foi implementado em 2000 em bairros que tinham Pacs (Programa de Agentes Comunitários de Saúde). São oito equipes na Vila São Pedro, quatro equipes no bairro Santa Cruz e outras quatro no Jardim das Orquídeas. Ao todo, 16.727 famílias atendidas nos três bairros.

Desde a implementação, segundo a coordenadora municipal de Pacs/PSF, Maria de Fátima Sanchez, a taxa de mortalidade infantil na Vila São Pedro caiu de 17,93% em 2001 para 14,81% em 2002. O porcentual de crianças vacinadas passou de 95,34% em 2001 para 98,5% em 2002. O mesmo ocorreu nos outros bairros onde o programa está. “É um modelo novo de atenção, estabelece vínculo e ajuda a diminuir os índices epidemiológicos na população mais vulnerável”, disse Maria de Fátima.

Por ter uma formação generalista, os médicos dos PSFs conseguem atender à toda a família. “O médico do posto nem conversa. Com eles não é assim: ensinam o que pode comer, como tomar o remédio. Minha diabetes já chegou a 400, hoje é controlada em 160”, disse Maria Jasmeira Soares, 49 anos, filha da aposentada Saviana, que também é diabética e hipertensa e recebe acompanhamento da equipe. “O Programa de Saúde da Família consegue atender entre 70% e 80% das necessidades básicas de saúde”, disse Nilce.

Pioneirismo – O primeiro município da região a implementar o PSF foi Mauá, em dezembro de 1997, no Jardim Oratório. A experiência deu tão certo que, no ano seguinte, Mauá recebeu o prêmio do Ministério da Saúde pelo trabalho de Intersetoralidade. “O programa ajudou a resolver problemas de saneamento, levou asfalto para o bairro, linha de ônibus, com a união com outras secretarias da Prefeitura”, disse a coordenadora do PSF de Mauá, Maria de Lourdes Caixeta Gilioli. Hoje, Mauá tem 24 equipes nos bairros mais desprovidos, que atendem a 18,5 mil famílias. Para Maria de Lourdes, o programa pioneiro na região foi bem aceito no Jardim Oratório. “Eles não tinham nenhum serviço de saúde”, disse.

Na opinião da dona de casa Marli Galdino da Silva, 40 anos, o programa não poderia ser melhor. Marli teve uma gravidez de risco e contou com a visita de médico, enfermeira e agentes.

Aumento – Em São Caetano, o programa foi implementado em agosto de 2001 e atende a 15 mil famílias nos bairros Prosperidade, Fundação – nestes também com equipes de saúde bucal – Olímpico, São José e Nova Gerty, o mais recente. Para o coordenador do PSF de São Caetano, o pediatra Caio Williams de Castro, as vantagens são inúmeras, como evitar que a doença se agrave posteriormente, o que pode causar internação ou a ida ao Pronto-Socorro, com custos muito maiores. O programa também ajuda a levar à população informações sobre surtos de conjuntivite, por exemplo. Os resultados aparecem. “A taxa de mortalidade infantil caiu 10% depois que implementamos o programa, porque há o acompanhamento da gestante e do recém-nascido”, disse o médico.




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