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Conhecendo a turma por meio de fotos

Na Emeief Chico Mendes, crianças aprendem a se envolver com colegas e criar vínculos

Por Selma Viana
Do Diário do Grande ABC
29/11/2011 | 07:00
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A professora Mariângela de Oliveira Fortes está acostumada a dar aula para alunos do Ensino Fundamental. Mas neste ano ficou com a tarefa de cuidar de 30 alunos de Educação Infantil, com idade entre 5 e 6 anos, na Emeief Chico Mendes, no Recreio da Borda do Campo, em Santo André. 
Mariângela estava com uma preocupação: ela sabia que alguns dos novos estudantes nunca tinham frequentado uma escola. Sabia também que uma das características dessa faixa etária é a de gostar de levar objetos para mostrar em casa e trazer material na escola para compartilhar com os colegas. Ligou conflitos internos e conhecimentos para criar o projeto Álbum de Fotos da Turma.

Por meio de gênero literário, o portador textual, Mariângela mandou bilhete para os pais solicitando foto dos filhos e o contexto em que os retratos foram tirados. Encaminhou ainda questionário com perguntas sobre preferências de comida, música, brincadeiras, cores e programas de TV das crianças. Envolver os pais no projeto era o seu ponto de partida. "Também tinha o pai que, pela primeira vez, trouxe seu filho para escola e poderia estar apreensivo. O álbum foi a forma que eu achei de apresentar o trabalho da escola e os amiguinhos de seus filhos para eles", conta.

A educadora colou a foto de cada um em uma folha de sulfite e, em outro papel, colocou as predileções listadas. E assim foi montando o seu material de trabalho. Diariamente, o álbum era levado por um aluno que, com ajuda dos pais e familiares, criava espécie de moldura em suas fotos, enfeitando-as.

No passo seguinte, trabalhou em sala de aula o momento em que as fotos foram tiradas. Fernando Pereira, 5 anos, conta para a classe que tinha ido passear no Parque Celso Daniel e viu uma árvore caída. "Eu subi no tronco e minha mãe tirou a foto". Ele informa ainda que gosta de brincar de dinossauro e sua comida predileta é o morango. "Eu queria trabalhar a identidade de cada um e ampliar o vínculo afetivo entre eles e a professora", explica a professora da turma.

O álbum continuava a ir diariamente para as residências. Dessa vez, os pais tinham de relatar na última página as impressões que tiveram sobre os companheiros de escola, que agora seus filhos conheciam melhor ou sobre o projeto. "A melhor fase de nossas vidas é quando somos crianças, pois carregamos a inocência de que o mundo pode ser uma grande brincadeira...", escreveu Eliane, mãe de Guilherme Correa de Souza.

"A participação dos pais foi surpreendente para mim em todos os aspectos. No compromisso em devolver o álbum sem falha, porque sabiam que tinha um outro aluno que iria levá-lo, no compromisso em não estragar o material e na disposição de deixar a mensagem", comemora Mariângela.

Professora diz que iniciativa trouxe ótimos resultados

Quanto ao resultado entre os alunos, a professora Mariângela Fortes avalia que, como utilizou a história de vida das pessoas, a aprendizagem foi mais significativa, pois estava relacionada aos fatos vividos por cada um. "No começo havia alguns atritos entre eles, hoje eles já compartilham material e ajudam um ao outro", relata.

É a primeira vez que o garoto Fernando Luis de Melo e Silva, 5 anos, frequenta uma escola. Pelo comportamento, está bem adaptado com os colegas, só estranha um pouco quando tem pessoas não conhecidas na sala. Ele até já tem um melhor amigo na classe. E, pelo jeito, a amizade vai durar. 
"É o Bryan. Às vezes eu vou para a casa dele, às vezes ele vai para a minha para jogar videogame. Nós gostamos de soltar pipa de peixinho também", conta a criança.

Alunos resolvem dizer ‘não' ao desperdício

Na Emeief Dom Jorge Marcos de Oliveira, no Condomínio Maracanã, em Santo André, a quantidade de comida desperdiçada na hora da merenda quase enchia uma grande lata de lixo. "Hoje, esse descarte foi reduzido a menos da metade", afirma o assistente pedagógico Kilder Jarier Lucio.

A mudança é resultado de uma série de ações, entre as quais o projeto Alimentação Inteligente, idealizado pela professora Vera Lúcia Negri Marins. Atenta à questão do desperdício e mais ainda ao resultado de uma pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde apresentada aos professores, que registrava 94 casos de alunos com sobrepeso, obesidade ou obesidade grave, em universo de 700 alunos, Vera decidiu levar o tema para a sala de aula.

Por meio de atividades interdisciplinares e usando recursos como pesquisa, notícias na mídia, exibição de vídeos, discussões em grupo, apresentação de gráficos, entre outros, ela começou a trabalhar a valorização da merenda para evitar o desperdício, tanto na escola quanto em casa. A partir daí, passou a estimular a conscientização da necessidade de alimentação saudável; a mudança de hábitos alimentares; e o conhecimento sobre as formas de aproveitar todo o alimento, inclusive partes normalmente descartadas, como ramas de cenoura e casca de banana. Como resultado, os alunos estão mais atentos sobre a qualidade do que consomem e mais abertos para experimentarem alimentos muitas vezes rejeitados pelas crianças.

"Temos de comer tudo na medida certa para termos alimentação saudável e equilibrada." A frase que parece de uma nutricionista é da aluna Giovanna Oliveira, 9 anos, que sabe a importância da alimentação de qualidade, até porque sabe que isso interfere na saúde, causando problemas como obesidade. "Eu não quero ficar gorda nem ter outros problemas", diz. Já a coleguinha Luana Souza Bezerra, 9 anos, conta que tem gostado de conhecer mais sobre os alimentos e até de experimentar coisas diferentes na merenda da escola, como suco de inhame. "Mas eu ainda não consegui deixar de comer bobagens, como balas, chocolate e, principalmente, refrigerantes", admite.

Vera, que já foi adolescente obesa, tem consciência do cuidado alimentar desde muito cedo, mas afirma que não para de aprender com o próprio projeto. "Ainda estamos longe de esgotar o assunto", diz ela, que torce para o trabalho ter continuidade nos próximos anos. E é isso também que espera Kilder. "Certamente é um projeto que deve continuar e se tornar mais amplo", diz ele, que tem percebido as crianças mais questionadoras em relação aos alimentos. Perguntas para as quais eles vão obtendo respostas na medida em que vão descobrindo em aulas como Matemática e Ciências a qualidade e quantidade de alimentos que consumidos, descartados ou necessários para uma alimentação saudável. (Mirela Tavares)

Estudantes sabem a importância de balancear refeições

Com uma pirâmide alimentar que elas mesmas fizeram sobre a mesa, as crianças hoje sabem que salgadinhos e hambúrgueres são muito diferentes de feijão com arroz e entendem os motivos de necessitarem desses alimentos.

"Eles também puderam entender mais claramente porque algumas pessoas precisam de alimentação especial, como uma coleguinha da turma, que durante o ano apresentou diabetes", conta Vera. Ela salienta ainda para a importância da participação da família nas atividades, até pelo fato de que a base da alimentação está em casa. O aluno Ronald de Souza Santos, 9 anos, seja em casa ou na escola, se diz muito mais interessado em experimentar novos pratos. "Gostei do suco de inhame e passei a comer mais frutas." (Mirela Tavares)




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