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Acqua questiona
impactos de usina verde

Entrevista com Ronaldo Querodia, o Pepe, diretor-presidente do Instituto Acqua

Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
20/05/2013 | 07:06
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A usina verde que será construída na área antes ocupada pelo lixão do Alvarenga, em São Bernardo, a fim de incinerar lixo para produção de energia, precisa deixar claro os possíveis impactos desse tipo de solução para a destinação final de resíduos. Essa é a opinião de Ronaldo Querodia, o Pepe, diretor-presidente do Instituto Acqua, que desenvolve políticas voltadas ao meio ambiente.

Em entrevista exclusiva ao Diário, Pepe destaca que é necessário ampliar o debate para além do benefício da geração de energia, mas garante que o empreendimento é alternativa viável para a questão da falta de espaço na região, cercada por áreas de preservação de mananciais.

O especialista aborda ainda a questão dos catadores e a urgência da profissionalização da categoria. Para Pepe, enquanto o catador for tratado como política da área social, a ampliação da reciclagem não poderá avançar.

Os temas devem ser discutidos durante a realização da Conferência Regional de Meio Ambiente nos dias 14 e 15 de junho. O evento servirá de preparativo para os debates da conferência nacional.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

DIÁRIO Como você avalia a instalação de usinas de incineração de lixo na região?
RONALDO QUERODIA (PEPE): É evidente que a destinação do lixo para o aterro sanitário é uma questão esgotada na região, por conta da falta de espaços. A maior parte dos terrenos disponível é área de manancial, o que torna o modelo inviável. A usina de incineração resolve a questão da falta de espaço, mas deveria ser encarada como última alternativa para resolver a questão do lixo. Tanto que entrou na base da porrada no Plano Nacional de Resíduos Sólidos.

DIÁRIO: Por que a usina deveria ser a última opção?
PEPE: O problema é que não se conhecem exatamente quais são os impactos que a usina verde de São Bernardo irá gerar. A estratégia da Prefeitura é divulgar a vantagem da geração de energia como atrativo. Eles alegam também que a tecnologia atual minimiza o impacto. Mas há estudos que garantem que, do ponto de vista da poluição do ar, a usina é prejudicial.

DIÁRIO: Há outras cidades interessadas em construir usinas, como Mauá e Diadema. Mesmo com os impactos, o modelo é viável ou deve ser descartado?
PEPE: Temos de encarar que, na situação de atual falta de espaço, a incineração é alternativa viável pela geração de energia e também de subprodutos, que podem ser usados para cobertura asfáltica de ruas e na construção civil, entre outros aproveitamentos. Mas isso não significa que a população tem de se conformar com o benefício da energia. É preciso debater os impactos, e pretendemos fazer isso na Conferência Regional de Meio Ambiente deste ano.

DIÁRIO: Quando será?
PEPE: Vamos realizar nos dias 14 e 15 de junho de forma regional, em vez de fazer as conferências municipais individualmente. O Consórcio (Intermunicipal) propôs o debate com as sete cidades como forma de preparar a região para a etapa nacional. O tema deste ano é o Plano de Resíduos Sólidos, que tem tudo a ver com essa questão da destinação final do lixo, reciclagem, reaproveitamento e redução do consumo.

DIÁRIO: Que outros assuntos serão debatidos?
PEPE: Além da usina, também pretendemos discutir a questão dos catadores e cooperativas e da necessidade de transformá-los em um modelo de negócio economicamente forte, e não que oscile conforme a economia do País.

DIÁRIO: As cooperativas podem ser vistas como uma solução para a questão do lixo?
PEPE: Elas fazem parte da solução, mas apenas se tirarmos o catador do foco social. Ele não pode ser visto como um coitadinho. As cooperativas precisam se profissionalizar, porque o mercado do lixo é muito sazonal. Fora vidro e alumínio, que tem demanda o ano todo, os demais materiais recicláveis oscilam de preço. Por isso defendemos que assim como se paga pela coleta porta a porta, os catadores, organizados em cooperativas, também tem de receber do poder público pela coleta dos materiais recicláveis. É uma forma de profissionalizar e garantir a geração de renda.

DIÁRIO: Além da reciclagem, o Plano de Resíduos Sólidos discute também a logística reversa. Qual a importância disso para a questão do lixo?
PEPE: Essa política mostra a necessidade de responsabilizar também quem produz pela destinação dos resíduos. Isso já acontecia com pneus e pilhas, mas o plano prevê a ampliação também para equipamentos eletrônicos, fármacos e outros produtos que têm grande impacto para o meio ambiente se descartados com o lixo comum.

DIÁRIO: Reciclagem, logística reversa e usina. O modelo resolve o problema?
PEPE: Ainda é necessário que a população se conscientize sobre a necessidade de consumir menos. Porém, o Brasil vive hoje um momento de pleno emprego e incentivo ao consumo desenfreado. Isso tem impactos não apenas no meio ambiente, mas também na saúde do brasileiro, que está se tornando um povo obeso, assim como os norte-americanos, campeões mundiais de consumo desenfreado. Não é fácil resolver o problema do lixo na região, mas a solução passa por esses pilares: reduzir o consumo, ampliar a reciclagem e resolver o problema da destinação final.

DIÁRIO: As universidades da região poderiam ajudar de forma a propor soluções e estudar o impacto da produção industrial e geração de resíduos na região?
PEPE: Poderiam, mas não têm cumprido esse papel. O foco das universidades deveria ser o estudo da região, a fim de propor soluções para as questões daqui. O Grande ABC tem demanda por profissionais e por pesquisas, mas isso está ficando dentro da academia, sem expandir para o mercado.

DIÁRIO: E o Consórcio Intermunicipal, que papel tem assumido nessas discussões?
PEPE: O Consórcio nasceu para debater duas áreas: Saúde e Lixo. Anos se passaram, e a região chegou a um impasse na questão dos resíduos. O aterro municipal de Santo André não consegue resolver o problema da ampliação, e o Lara, em Mauá, recebe resíduos até mesmo de cidades do Interior. E não se tem informação de qual é a vida útil que ainda lhe resta. As cidades precisam adotar modelos mais sustentáveis para o futuro, e o Consórcio deve assumir certos estudos em relação à região a fim de propor soluções para as sete cidades, pois o que é feito em um município esbarra no outro.




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