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A culpa é realmente dos técnicos?
Thiago Silva
do Diário do Grande ABC
19/03/2011 | 07:09
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Todo mundo é contra demissão de treinador após poucas partidas, mas faz parte da cultura do futebol brasileiro. Essa é a teoria da maioria dos dirigentes dos clubes, mas a mudança de comando não surtiu efeito em grande parte dos times do Campeonato Paulista.

Somente no Estadual, 13 dos 20 clubes - inclusive os três da região - trocaram de técnico ao menos uma vez, e apenas o São Caetano teve evolução expressiva na tabela. Toninho Cecílio deixou o time na zona de rebaixamento. Agora, com Ademir Fonseca, a equipe subiu para a 11ª colocação e é a única do Grande ABC com chances de brigar por classificação às quartas de final.

"O grupo aceitou a nossa filosofia de trabalho e tem se esforçado muito para atingir nossa meta de ficar entre os oito primeiros colocados", disse Fonseca, que criticou o excesso de troca de técnicos. "Infelizmente, isso ocorre porque falta planejamento em alguns clubes", afirmou.

Já o Santo André reflete os outros times. Quando foi demitido, Pintado deixou o Ramalhão na 19ª colocação, exatamente a posição que o time de Sandro Gaúcho se encontra hoje. "Na maioria das vezes, nós não somos os culpados, mas sim uma sucessão de erros, inclusive na montagem do elenco e na própria escolha do treinador", destacou Pintado. "Depois, acertamos com outra equipe por pouco tempo e temos que fazer milagre", desabafou.

No início da competição, o São Bernardo parecia que quebraria a regra. Ruy Scarpino dirigia o time desde o início de 2010, ainda na Série A-2, e recusou proposta do América-RN para participar efetivamente da montagem do time. Mas bastaram apenas alguns resultados ruins para a diretoria esquecer o passado. "Dificilmente se faz projeto a longo prazo. Quando iniciamos fala-se uma coisa, mas a conversa muda quando o resultado não vem", criticou o treinador, que hoje está no Ituano e sem muito sucesso. O antecessor, Sérgio Ramirez, deixou a equipe do Interior na 16ª colocação, a mesma de hoje.

O mais interessante, no entanto, é que todos dirigentes dos clubes da região não concordam com a demissão de treinadores, apesar de agirem de modo contrário. "Está enraizado na cultura do nosso futebol. Quando o resultado não vem fica complicado manter o treinador", justificou o presidente do São Caetano, Nairo Ferreira de Souza. "Esse não é o caminho porque não é o técnico que determina a qualidade do elenco. Mas, no nosso caso, o São Bernardo estava perdendo pontos preciosos em campeonato curto", emendou o mandatário Luiz Fernando Teixeira, justificando a demissão de Scarpino.

Para Toninho Cecílio, que também foi dirigente, existe uma única solução para resolver o problema. "Apenas mudaria se houvesse uma legislação, o que dificilmente vai acontecer", lamentou.

 

Marcelo Veiga, do Braga, é exceção à regra

Toda regra tem sua exceção e o Bragantino é quem vai na contramão dos clubes que demitem seus treinadores em pouco tempo. Marcelo Veiga comanda a equipe do Interior há sete anos, ficando longe do time apenas por quatro meses em 2007, quando se aventurou no Paulista de Jundiaí e no América-RN.

Nesse período, ele conquistou acesso na Série A-2 do Paulista, em 2005, e também o título da Série C do Brasileiro de 2007. Nos anos seguintes, a equipe falhou ao buscar vaga na elite do Nacional, mas o treinador foi mantido no cargo.

 "Isso é questão de filosofia. Quando se tem técnico competente e o time não vai bem, trocamos o jogador. Mas é necessário ter relacionamento de confiabilidade entre a diretoria e a comissão técnica", explicou o presidente Marcos Cheid. "Ele também conhece bem as dificuldades do clube e faz trabalho sério. Aqui, diferentemente de outros lugares, panelinha não derruba treinador", completou.

Para Marcelo Veiga, a postura da diretoria do Bragantino lhe dá tranquilidade para trabalhar. "Temos planejamento a longo prazo. Estamos disputando o Paulista, mas não temos a intenção de conquistá-lo. Nosso objetivo é montar equipe para alcançar o acesso para Série A do Brasileiro", destacou o técnico, que tem vínculo até o fim de 2011. "Claro que tenho objetivo de comandar time grande. Mas hoje tenho a expectativa de cumprir meu contrato", garantiu.

Colaboraram Dérek Bittencourt e Marco Borba




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