Na época, Robert Marley, um rastafari convicto (os "rastas" consideram o Negus Hailé Selassié como o descendente de Deus/"Jah" na Terra), foi hospitalizado alguns dias antes em um estado desesperador. Doente há muitos meses, Marley rejeitou a medicina ocidental, optando por tratamentos alternativos. Sem forças, refugiou-se na casa de sua mãe antes de consentir sua hospitalização.

Marley deu seu último show em Pittsburgh (Estados Unidos), em 23 de setembro de 1980, mas já se mostrava muito debilitado em palco. Em menos de dez anos, este filho de mãe negra e um ex-militar britânico branca que trabalhava como contra-mestre, converteu-se em um ídolo mundial, o equivalente à figuras emblemáticas do rock, John Lennon, Jimi Hendrix, e Jim Morrison.

Esta popularidade se devia, em parte, a um homem branco, o jamaicano Chris Blackwell, que fez fortuna importando discos de ska (o antecessor do reggae) e de reggae na Grã-Bretanha. Depois fundou a Island, a estrela do rock dos "Setenta" (Cat Stevens, Free, Emerson, Lake & Palmer, U2...). Grande conhecedor dos ritmos jamaicanos, Marley intuiu que esta música, adaptada ao gosto ocidental sem ser descaracterizada, podia seduzir o público do rock.

De personalidade carismática, esmerado compositor de letras e melodias, quando foi descoberto por Blackwell em outubro de 1971, ele já tinha uma bagagem de dez anos de música. Suas primeiras gravações datam, de fato, de 1962. Com os Wailers, gravou uma centena de canções entre 1963 e 1966. Blackwell ouviu seu trabalho, selecionou uma dezena de canções e as confiou a músicos londrinos, encarregando-os de acrescentar matizes de rock suscetíveis de seduzir o grande público.

O álbum "Catch A Fire", lançado em 1972, é o primeiro de uma série de discos que construiriam sua lenda: "Natty Dread" (1974, cujo tema "No Woman No Cry" foi popularizado esse mesmo ano por Eric Clapton), "Rastaman Vibration", em 1976, que conseguiu situar-se no Top-10 americano, "Exodus", em 1977, "Kaya", em 1978, "Survival", em 1979, e "Uprising", em 1980.

A popularidade de Marley se formou também nos palcos, onde as atuações do "xamã rasta" adquiriram cada vez mais o ar de maratonas musicais e espirituais. Em 1980, Marley reuniu 50.000 "fiéis" em Bourget (perto de Paris), muito mais do que congregou, segundo dizem, o Papa no mesmo lugar, algumas semanas antes.

Na França, em particular, Marley sempre gozou de grande popularidade. Dezenas de grupos e cantores da atualidade, Sinsemilia, Pierpoljak, K2Riddim são herdeiros direto desse símbolo de liberdade.

Segundo Bruno Blum, especialista de reggae, Marley, que morreu sem deixar testamento e teve treze filhos, um deles não reconhecido, nascido depois de sua morte. Primeiro teve três filhos com sua esposa Rita, David, ou "Ziggy", de 32 anos, Cedella, de 33, e Stephen, de 29. O casal também adotou uma menina, Sharon, atualmente com 36. Os quatro iniciaram uma carreira muscial sob o nome Melody Makers.

Seu filho Rohan casou-se com a cantora Lauryn Hill, dos Fugees. Outros três filho de Marley também se dedicaram à música: Damian, Julian e Kymani.

A herança musical é gerenciada pela Tuff Gong International, sociedade com sede em Miami, presidida por Cedella Marley, com a garantia artística de Chris Blackwell, editor dos discos oficiais de Marley (os realizados a partir de 1972).

A propriedade das inúmeras gravações realizadas nesse período está sujeita a litígio, o que explica o grande número de produtos piratas disponíveis no mercado.