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Débora Falabella quer incomodar
Márcio Maio
Da TV Press
22/11/2007 | 07:00
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Débora Falabella é bem menos extrovertida e agitada do que Júlia, sua personagem em Duas Caras. Mas na hora de demonstrar sua indignação com as críticas que já ouviu sobre a relação de sua personagem com Evilásio (Lázaro Ramos), a atriz muda completamente. Quando leu a sinopse, não acreditou que o romance de uma menina branca com um negro ainda pudesse gerar polêmica. Mas se enganou. “Se isso incomoda, o melhor é mostrar mesmo e tentar mudar essa imagem”, afirma. Confira os principais trechos da entrevista:

Em Duas Caras, você interpreta um menina rica que se apaixona por um homem negro e favelado. O que as pessoas comentam sobre essa história nas ruas?

DÉBORA FALABELLA – Quando comecei a gravar a novela, tinha uma outra idéia de como o público poderia se manifestar. Já interpretei em Senhora do Destino a Maria Eduarda, que se envolvia com um homem da Baixada Fluminense e vi que existe um preconceito social forte. Mas agora fiquei um pouco desapontada. Achei que essa questão racial não se destacaria.

Você já ouviu comentários preconceituosos pelo Evilásio ser negro?

DÉBORA – Sim, e o que mais me espanta é que muitos saíram de pessoas conhecidas e próximas à minha família. É triste porque isso significa que os negros ainda sofrem e que essa história de que o preconceito acabou só está na ficção. Mas fico muito satisfeita por poder, de alguma forma, ajudar a sociedade a repensar certos conceitos. É um outro jeito de fazer novela, diferente de tudo que já fiz na TV.

Você já fez outros personagens envolvidos em temáticas sociais. Por que esse é especial?

DÉBORA – A verdade é que, apesar de não buscar esses personagens, tive a sorte de seguir essa linha em muitos trabalhos. Em O Clone, com a questão das drogas, em Senhora do Destino com as diferenças sociais, a escravidão em Sinhá Moça.

Onde você buscou as referências para essa criação?

DÉBORA – Esse jeito curioso e ativo de produtora eu encontrei em várias amigas minhas que são produtoras de cinema. Para mexer com esse romance entre ela e o Evilásio, passei a observar mais as coisas ao meu redor. Quero construir uma mocinha mais contemporânea e descolada. E acho que a tendência é que esse casal apareça muito daqui para frente. A Júlia está ganhando destaque de protagonista, apesar de não ser.

Você não reconhece a Júlia como protagonista, mas a chamou de mocinha. Como descreve a função dela na trama?

DÉBORA – Não sei. Se a gente parar para pensar no conceito de mocinha, acho que a Maria Paula (Marjorie Estiano) tem mais ar de mocinha. Mas até agora, o romance de Duas Caras está na Júlia e no Evilásio. E mocinha sem romance é estranho. As novelas contemporâneas têm essa característica de construir vários personagens centrais e desconstruir essa denominação de protagonista. Acho ótimo, porque me deixa mais segura.

Em que sentido?

DÉBORA – É que como a novela não está tão focada em um casal de protagonistas, a gente pode se destacar, ver a história dos personagens bem desenvolvidas, mas não carregar o peso de conduzir a trama toda. Isso dá uma aliviada na pressão de fazer novela, até porque hoje em dia as pessoas começam a discutir audiência já no primeiro capítulo.

E qual é o papel mais importante da sua carreira?

DÉBORA – Até agora, O Clone foi a novela que mais me trouxe visibilidade e retorno de público. Sinhá Moça foi muito gostosa de fazer, mas era no horário das seis. Papel-título nessa faixa não é a mesma coisa que uma personagem polêmica no horário nobre. É impressionante a diferença. Mas esse mesmo assédio me faz repensar a carreira na TV. Não sei se quero isso para sempre. Prende você ao trabalho e à reclusão, já que não pode ficar se expondo. Sou muito nova, mas já fiz coisas bem legais na televisão. Acho que já posso dar uma parada e partir para outras atividades.

Que tipo de atividades?

DÉBORA – Adoro figurino. Tenho vontade de estudar mais e, quem sabe, me aventurar nessa área. Tenho um grupo de teatro com dois amigos, o Grupo 3, e pretendo dar um gás nele também. Teatro é a base da minha carreira. Me esforço muito para não ter de abandonar os palcos e a TV. até porque se tiver de escolher entre um ou outro, fico com os espetáculos. O ator precisa se renovar, respirar um pouco outros ares. E no teatro sou a dona do meu trabalho, posso variar o quanto quiser. A televisão prende um pouco alguns atores a determinados perfis.



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