Setecidades Titulo Saúde
Paciente morto não tinha
gripe suína, aponta laudo

Homem de 47 anos faleceu na quarta-feira em Santo André;
família diz que ainda não teve acesso ao resultado do exame

Por Fábio Munhoz
Do Diário do Grande ABC
28/07/2012 | 07:00
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O exame de secreções das vias respiratórias, realizado pelo Instituto Adolfo Lutz, aponta que a gripe suína não foi a causa da morte do paciente José Roberto Felício, 47 anos. O homem faleceu na quarta-feira no PA (Pronto Atendimento) da Vila Luzita, em Santo André e chegou a ser medicado com o remédio indicado para combater o vírus H1N1.

O laudo do instituto estadual aponta que Felício não apresentava sinais de gripe sazonal ou suína. Os materiais para análise foram coletados na segunda-feira, dois dias antes da morte. O resultado foi emitido três dias depois da coleta.

A família do paciente afirma que ainda não teve acesso ao resultado do exame. "Fomos à tarde ao PA e uma moça da Vigilância Sanitária nos disse que ainda não havia ficado pronto", conta a sobrinha de Felício, Selma Messias do Nascimento, 39.

Ao ser informada pela equipe do Diário sobre o diagnóstico, Selma continuou a acusar os médicos da rede municipal de negligência. "Ele passou várias vezes pelo PA e não recebeu atendimento adequado."

Familiares da vítima alegam que, durante duas semanas, Felício procurou o posto com febre alta, dores no corpo e na garganta, além de crises contínuas de tosse. Ele teria sido levado cinco vezes à unidade, mas só foi internado na segunda-feira. A família diz ter solicitado aos médicos relatório detalhado sobre o atendimento recebido. A intenção é entrar com processo judicial.
Felício chegou a ser tratado pelo medicamento tamiflu, que é utilizado para curar pacientes infectados pela gripe suína. No velório, o caixão foi lacrado, procedimento adotado em casos de vítimas do vírus H1N1.

A Prefeitura de Santo André informa que o tamiflu também é indicado para casos suspeitos de síndrome respiratória aguda grave, o que, segundo a administração municipal, "condiz com o quadro apresentado pelo paciente". O Executivo voltou a ressaltar que Felício não apresentou febre alta, um dos principais indicativos de gripe suína, o que é contestado pela família.

Procurado pelo segundo dia consecutivo, o secretário municipal de Saúde, Antonio de Giovanni Neto, não atendeu aos pedidos de entrevistas feitos pelo Diário.

O infectologista Hélio Vasconcellos Lopes, da Faculdade de Medicina do ABC, questiona a indicação generalizada de tamiflu. "O remédio acaba sendo usado como coringa. As pessoas acham que vão tomar e vai ficar tudo bem. Com isso, o tratamento, principalmente de quem não está com a gripe, é deixado de lado." Para amenizar o risco de contágio, o médico reforça a importância da vacina.

Região teve 29 suspeitas neste ano

Desde o início do ano, o Grande ABC já registrou pelo menos mais 28 casos suspeitos de gripe suína, além do paciente José Roberto Felício, 47 anos, que morreu na quarta-feira em Santo André. O único caso confirmado da doença foi diagnosticado na Santa Casa de Mauá. Segundo a Prefeitura, a pessoa infectada pelo vírus H1N1 foi medicada e já recebeu alta. O município emitiu ao Centro de Gerenciamento de Vigilância Epidemiológica do Estado dez notificações de possíveis casos.

Em Diadema, também foram registrados dez alertas sobre a possibilidade da doença. Do total, sete já foram descartados e três seguem em análise. Já em São Caetano, sete pessoas deram entrada em hospitais com suspeita da doença. No entanto, nenhum deles foi confirmado após exames. Apenas um paciente apresentou os sintomas da doença em Ribeirão Pires, mas o diagnóstico foi negativo.

A Prefeitura de Rio Grande da Serra afirmou que nenhum paciente foi contaminado com o vírus na cidade, mas não informou se houve suspeitas. A administração municipal de São Bernardo foi procurada, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

Nos casos em que os médicos desconfiam da possibilidade de contágio pelo vírus, é coletada amostra da secreção nasal do paciente e encaminhada para o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo. O resultado negativo fica pronto entre 48 e 72 horas. Para diagnósticos positivos, o a conclusão demora cerca de dois dias a mais. O tempo pode aumentar conforme a demanda.

Em todo o Estado, a secretaria estadual da Saúde informa que 29 pessoas morreram e 146 foram internadas em função da doença até a metade do mês.

Em 2009, 12 mil pessoas foram infectadas em todo o Estado, sendo que 578 morreram. Nos sete municípios da região, foram registrados cerca de 700 casos, com 50 mortes. Em 2010 foram 89 contaminações e 15 óbitos em São Paulo, sendo um no Grande ABC.

Para evitar o contágio, a secretaria recomenda medidas de higiene, como cobrir a boca ao tossir e espirrar e evitar permanecer em locais aglomerados. Para os grupos de risco, como idosos e pessoas com doenças pré-existentes, a vacina é indicada.




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