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Em reunião, Alckmin expõe racha com Doria
Fabio Martins
10/10/2018 | 06:31
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Ciete Silvério/A2img/Fotos Públicas


Reunião da executiva nacional do PSDB para discutir o posicionamento do partido no segundo turno da eleição presidencial expôs racha entre o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), quarto colocado no primeiro turno, e o ex-prefeito paulistano João Doria (PSDB), candidato da legenda ao governo do Estado.

Durante o encontro, Alckmin, que preside o PSDB em âmbito nacional, interveio no discurso de Doria e insinuou que o ex-afilhado político o traiu. Doria e os ‘cabeças pretas’ – ala mais jovem da sigla – queriam que o partido embarcasse oficialmente na campanha do candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, mas o tucanato optou pela neutralidade no segundo turno, que tem também o ex-prefeito da Capital Fernando Haddad (PT), liberando os filiados.

Áudio divulgado pelo jornal O Estado de S.Paulo apresenta trecho da fala de Doria na reunião da executiva nacional. O ex-prefeito tecia comentários sobre a necessidade de avaliação de “erros e acertos” do PSDB no primeiro turno, quando foi interrompido por Alckmin. “O temerista não era eu, não, viu. Era você”, esbravejou o ex-governador, em referência ao desejo de Doria de apoio ao presidente Michel Temer (MDB) assim que o emedebista ascendeu ao poder, em 2016. “Você, você”, prosseguiu Alckmin, em tom irritado. O PSDB teve quatro ministérios e, internamente, tucanos avaliam que a participação efetiva no governo Temer fez transferir a impopularidade do presidente ao tucanato.

“Você está aqui diante de dois ex-ministros do governo Temer que estão aqui. Acredito que você não queria desrespeitar nem o (José) Serra nem o Bruno (Araújo)”, respondeu Doria, citando os ex-ministros de Relações Exteriores (Serra) e de Cidades (Araújo). “Precisamos ter discernimento, calma e equilíbrio, o que sempre foram características do PSDB”, continuou. “Traidor eu não sou”, bradou Alckmin, na sequência. “Nem falso”, emendou um outro tucano, cuja identidade não foi divulgada – pelo tom da voz não é possível reconhecer o militante.

Alckmin introduziu Doria à cúpula do PSDB em 2015, em movimento que causou fissuras no tucanato. Empresário, Doria era filiado ao partido, mas estava longe do alto clero partidário. Alckmin ungiu o então afilhado para ser candidato à prefeitura de São Paulo em 2016, comprando briga com figuras históricas da sigla.

Doria foi eleito no primeiro turno como prefeito da Capital, jurando lealdade a Alckmin e assumindo compromisso de findar seu mandato de quatro anos. Em 2017, iniciou movimentos que sugeriam que ele tentaria se cacifar como presidenciável do PSDB neste ano – algo que estava reservado a Alckmin. Sem sucesso e com relação estremecida com Alckmin, Doria foi alçado à disputa pelo governo do Estado. E, já no primeiro turno, à medida em que pesquisas de intenções de voto mostravam que Alckmin fracassaria nas urnas, fez acenos públicos para Bolsonaro. (com Estadão Conteúdo) 

Prefeitos condenam ação contra ex-governador

Os prefeitos Paulo Serra (PSDB), de Santo André, e José Auricchio Júnior (PSDB), de São Caetano, se posicionaram ontem, de forma oficial, por nota encaminhada às executivas estadual e nacional, contrários à saída do ex-governador de São Paulo e candidato tucano derrotado na eleição presidencial, Geraldo Alckmin, do comando nacional do partido. 

 “Passadas apenas 48 horas do resultado das eleições, não é o momento de acharmos culpados e, muito menos, expor negativamente em praça pública nossos principais líderes”, afirma o texto.

 A postura diverge de ala ligada ao ex-prefeito da Capital e postulante ao governo do Estado, João Doria (PSDB), que tem o chefe do Executivo de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB), como um dos porta-vozes. Esse grupo defende antecipação do processo de escolha para presidente do partido – o pleito acontece apenas no fim do ano que vem. A medida, no entanto, ainda não foi formalizada internamente. Seria necessário, na visão deste bloco, que integrantes dos chamados ‘cabeças pretas’ fossem alçados à direção para evitar esfacelamento do tucanato.

 “Sou completamente contrário a qualquer troca na direção (da sigla). O momento é de reflexão. Temos que fazer autocrítica, claro, é importante, buscar entender o recado das urnas, mas depois do período eleitoral, sem rasgar a trajetória de principais lideranças do PSDB. Um partido político não se constrói do dia para noite, e suas lideranças, que foram vitoriosas até aqui, quatro vezes governador, não podem ser descartadas diante de um insucesso eleitoral”, alegou Paulo Serra, ao Diário. Alckmin terminou a disputa de domingo em quarto lugar, com 4,76% dos votos. 

 “E justamente por não acreditarmos em extremismos e soluções simples para problemas complexos é que defendemos a permanência de Alckmin”, sustentou o prefeito andreense, ao ponderar que o tucanato tem a obrigação de corrigir erros e fazer redefinição de rumos. “Só que não podemos atacar um culpado, individualmente, até porque ele (Alckmin) não é a causa, é consequência de série de equívocos que o PSDB cometeu”, emendou, ao citar os casos envolvendo o senador Aécio Neves e do ex-governador mineiro Eduardo Azeredo. “Tem que existir diálogo, precisamos tratar de reconstrução, porém esse momento de tensão eleitoral não é apropriado. As lideranças precisam ser respeitadas.” FM 




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