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Inclusão aumenta no Grande ABC

Ao todo, seis cidades da região têm 3.664 pessoas com deficiência no ensino regular

Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
21/09/2014 | 07:00
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Hoje, Dia Nacional de Luta das Pessoas com Deficiência, o crescente número de pessoas que compõem esse público matriculadas em escolas regulares da região mostra que a batalha de inclusão na sociedade vem se efetivando. Nas sete cidades do Grande ABC, 3.852 pessoas, entre crianças, jovens e adultos com variados tipos de deficiência, frequentam a rede municipal de ensino.

Em Santo André, por exemplo, de 1.032 alunos em 2013, o número subiu para 1.117 neste ano. Em Diadema o número passou de 680 alunos para 776. Ribeirão Pires ampliou de 207 para os atuais 246 e Mauá de 176 para 188. Rio Grande da Serra informou que no ano passado tinha 17 estudantes e, neste ano, incluiu outros cinco. Em São Caetano, frequentam as unidades escolares 345 crianças e em São Bernardo, 1.159.

O aumento da inclusão escolar é sentido em todo o Brasil, segundo a professora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Ensino e Diferenças, Maria Teresa Eglér Mantoan. “Temos 692 mil matrículas de pessoas com deficiência na escola regular, contra 211 mil nas escolas especiais. É um salto mais que positivo, como não poderia deixar de ser, porque não se pode admitir, em pleno século 21, uma escola excludente e segregadora como a especial.”

Francielly Ferreira dos Santos, 12 anos, é um desses estudantes. Ela está no 5º ano da Emeief (Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental) Luiz Gonzaga, no Parque Erasmo, em Santo André, e tem paralisia cerebral, microcefalia e atraso no desenvolvimento psicomotor. Mas nada disso a impede de conviver harmoniosamente com os colegas que não possuem deficiência e ajudar os que têm, como empurrar a cadeira de rodas da colega Silvia Souza de Oliveira, 10. “A inclusão é importante tanto para o aluno com deficiência quanto para o outro, que acaba convivendo sem perceber as diferenças. Todos ganham”, destaca a diretora Luciane dos Santos Mansano.

A mãe de Francielly, Kelly dos Santos, 32, tinha receio dessa convivência. “Tive medo de que ela sofresse preconceito e não queria colocá-la na escola regular. Vejo que ela evoluiu em tudo. Me arrependeria se não a tivesse matriculado.”

Evolui a pessoa com deficiência e ganham valiosas lições de vida as que não a têm. “Tenho um filho de sete anos, o Nickollas, com deficiência visual. Quando ele estudava em um colégio particular, um amiguinho chegou em casa e pediu para a mãe apagar todas as luzes, dizendo que queria saber como era para o Nickollas ficar sem enxergar. A família agradeceu pela oportunidade de o filho aprender a conviver com a diferença”, conta a empresária Silvia Prin Grecco, 52, moradora de Mauá.

Próximo passo depois do aprendizado, a inclusão profissional ainda precisa avançar mais, na opinião do presidente da Avape (Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência), Carlos Ferrari. “Temos no mercado por volta de 300 mil trabalhadores formais com algum tipo de deficiência. Isso é positivo, mas, por outro lado, são 45 milhões de deficientes no País. As empresas precisam trabalhar com o diferente, se reinventar.”

DENÚNCIAS

Há avanços na inclusão das pessoas com deficiência, mas ainda existe desrespeito. Em 2012, o Disque 100, serviço de denúncia nacional, registrou, nas sete cidades do Grande ABC, 108 queixas entre abuso financeiro, negligência, discriminação e violências físicas, sexuais e psicológicas. Em 2013 foram 197 chamadas e 90 até junho deste ano.

Especialistas divergem sobre os benefícios da prática nas escolas

Manter as pessoas com deficiência em escolas especiais ou incluí-las em unidades regulares junto a alunos que não possuem nenhum tipo de deficit? A questão divide opiniões de especialistas.

A professora da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisa em Ensino e Diferenças, Maria Teresa Eglér Mantoan, defende a inclusão escolar. “Nenhuma escola pode ser de qualidade se for apenas para alguns. Que desafio uma instituição que só tem casos graves oferece para uma criança se desenvolver?”, indaga.

Para ela, as entidades que atuam, entre outras áreas, também com a Educação especial, deveriam oferecer apenas serviço de atendimento clínico e programas de preparação para o mercado de trabalho.

Já para a consultora da Federação Nacional das Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) e professora Erenice Natália Soares de Carvalho, falta estrutura nas escolas regulares para atender ao público com deficiência. “Embora se fale em avanço, há turmas cheias, dificuldade de qualificar os professores e de relação com a família, porque o aluno com deficiência intelectual apresenta dificuldades cognitivas e também no comportamento adaptativo.”

Além disso, ela pontua que as instituições públicas não têm como absorver toda a demanda. “São mais de 2.000 Apaes no Brasil. Se cada uma tem 200 alunos e multiplicar por todas as unidades, o País não tem condições de colocar todas essas pessoas na escola. Deve haver mais respeito com as entidades, porque são elas que fazem a ponte para a inclusão escolar.”




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