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‘Eu comecei a democracia neste País’, afirma deputado Paulo Maluf

O deputado federal Paulo Maluf (PP) sustentou que ele, quando assumiu o comando do governo do Estado, em 1979, deu início à democracia no País

Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
27/04/2014 | 06:32
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Claudinei Plaza/DGABC


O deputado federal Paulo Maluf (PP) sustentou que ele, quando assumiu o comando do governo do Estado, em 1979, deu início à democracia no País. Em entrevista exclusiva ao Diário, o progressista tentou destituir sua imagem de aliado do regime militar (1964-1985), embora prefeito nomeado e eleito governador indiretamente no período. “Fui o governador que fez a abertura do regime ditatorial, mas ainda não me fizeram justiça”, alegou o parlamentar, que era filiado à Arena, partido ligado aos generais. Mais adiante, ele ponderou que o Brasil, de maneira errônea, não reverencia os vultos da história. “Tivemos bons governadores, bons presidentes da República, independentemente do regime.” Ao invés de combater os militares, Maluf buscou parcerias na cúpula do governo para obter recursos para São Paulo. “Tive apoio sim (de ministros e do Figueiredo)”, emendou. Aos 82 anos, o deputado, pré-candidato à reeleição, considerou que não tem mais condições de disputar cargo majoritário. “A idade chega. Atualmente, posso ser útil (no Congresso) como bom conselheiro.” Sobre o episódio em que a parlamentar Luiza Erundina (PSB) desistiu de ser vice de Fernando Haddad (PT), em 2012, devido à sua aliança firmada com o ex-presidente Lula, o dirigente do PP projetou que ‘aquele aperto de mão’ deu a vitória aos petistas. Garantiu adesão ao projeto de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), porém, sinalizou que o suporte à sucessão de Geraldo Alckmin (PSDB) não está definido. Em relação ao problema de desabastecimento d’água, o engenheiro apontou erro pela falta de investimentos da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo).


DIÁRIO – Referindo-se ao último pleito municipal, de 2012, qual é a avaliação da postura da deputada Luiza Erundina (PSB), então indicada para ser vice de Fernando Haddad, que se retirou da chapa quando houve o aperto de mãos (aliança) entre o sr. e o ex-presidente Lula?
PAULO MALUF – Aquele episódio deu a eleição ao Haddad. Porque a Erundina se vai numa churrascaria ela pede macarrão, se vai numa pizzaria ela pede peixe. Ela é do contra. Se fosse vice, iria fazer campanha eleitoral falando mal dele. Ela iria derrotá-lo. Ele teve sorte de pegar a Nadia Campeão (PCdoB), moça discreta. Vice é expectativa. Da minha parte, não tenho rixa, porque eu sempre a derrotei.

DIÁRIO – Regionalmente, o PP não possui representação. Qual o trabalho que está sendo pensado para mudar esse cenário desfavorável?
MALUF – É verdade. Em todo o mundo, os partidos nascem e morrem. Na Inglaterra, havia uma deusa chamada Margaret Thatcher, a dama de ferro. Em 11 anos tirou o país do buraco e colocou como nação progressista e perdeu a eleição. O povo quis mudar. O meu partido já dirigiu o País e São Paulo. Acho que fui bom governador. No meu tempo não faltava água e bandido não falava grosso com a Rota. Hoje, a polícia tem medo de bandido. Há uma inversão. Meu partido foi grande, hoje não é.

DIÁRIO – Como ex-governador, como o sr. analisa a falta d’água no Estado?
MALUF – Falta investimento da Sabesp. Conheço bem esse problema. (Na época em que eu governava o Estado) São Paulo captava e tratava 30 metros cúbicos por segundo, basicamente Guarapiranga e um braço da Billings. O Sistema Cantareira capta e trata 33 metros cúbicos, ou seja, nós mais que dobramos. Eram 12,5 milhões de habitantes na Grande São Paulo, no Censo de 1980. Hoje, tem 21 milhões, mas quase nada foi feito. Outra coisa: uma represa não seca em um ano, demora cinco anos. Falta de planejamento e previsão. Se eu fosse o governador Geraldo Alckmin (PSDB), hoje, demitiria a superintendente da Sabesp (Dilma Pena) por incompetência.

DIÁRIO – O PP vai apoiar o PT na eleição de outubro?
MALUF – Não tem nada definido. Estou há 20 anos como presidente estadual ou nacional do PP porque acho que o dirigente tem que ser o depositário das tendências dos integrantes do partido. Posso ter minhas preferências pessoais, mas ficam no meu coração. São três candidatos viáveis: o atual governador, Alexandre Padilha (PT), com apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) e do Lula, e tem o Paulo Skaf (PMDB), dirigente da Fiesp, que representa renovação. O PP vai marchar, independentemente, de pesquisa de intenção de voto.

DIÁRIO – Por que o sr. ignora a pré-candidatura do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) ao Estado?
MALUF – Quem ignora são as pesquisas de voto. Acredito que ele será candidato, mas acho, honestamente, que não vai ter chance. Primeiro, porque não tem tempo de TV. Segundo, não conheço alianças que lhe deem tempo. A mim não me procurou, diferente do governador, do Padilha e do Skaf.

DIÁRIO – Recentemente, série de eventos ‘celebraram’ os 50 anos do golpe militar. O sr. exerceu mandatos de prefeito (Arena, de 1969 a 1971) e governador (Arena, 1979 a 1982) na época da ditadura. Como o sr. enxerga aquele período político da história?
MALUF – Fui o governador que fez a abertura do regime ditatorial. Quem foi indicado para governador em 1978 foi Laudo Natel. E Maluf foi à convenção contra candidato do regime e ganhei. Foram para Justiça e eu ganhei de novo. Fui governador por inteiro democrata e ainda não me fizeram justiça, mas não tem importância. Eu comecei a democracia neste País. Disse ao Ulysses Guimarães (morto em 1992): ‘Todos vocês foram candidatos a Tiradentes, mas todos foram com o meu pescoço’. Eu botei meu pescoço, eles não botaram. Lá fora (Exterior) reverenciam vultos da história. Aqui no Brasil temos o costume autofágico. Nós tivemos bons governadores, bons presidentes da República, independentemente do regime. Fazem parte da história. Eu me orgulho do que fiz no regime democrático.

DIÁRIO – Mas havia afinidade do sr. com o regime.
MALUF – O presidente da República era general. Se alguém tivesse no meu lugar, ia combater o presidente ou ia buscar verbas para São Paulo? Fiz o maior plano de investimento da história do Estado: cinco hidrelétricas construídas. Nada mais foi feito depois. O Sistema Cantareira, o Metrô, 250 mil casas populares. Quero dizer que eu tive o apoio sim do ministro Delfim Netto, do Planejamento, Ernane Galvêas, da Fazenda, tive apoio do presidente João Figueiredo, que nunca me negou nada. Quando você se elege tem que fazer sua obra. Não é eleito para brigar e sim para resolver.

DIÁRIO – E quem brigou contra a ditadura e foi exilado?
MALUF – Quem brigou teve uma opção. Parece que têm 40 mil deles que recebem, não sei se certo ou errado, uma boa aposentadoria. E tem a Justiça. Quem se sente, eventualmente, prejudicado vai para a Justiça. E no Brasil temos Justiça independente. O STF (Supremo Tribunal Federal) tem demonstrado isso.

DIÁRIO – Como o sr. avalia o julgamento do caso do Mensalão? Houve análise política?
MALUF – Decisão da Justiça não se reclama nem comenta. Cumpre-se. Mostrou que o Judiciário é independente. Se um ex-presidente da Câmara dos Deputados, que é o terceiro na sucessão, o João Paulo Cunha (PT) foi condenado, eu não entro no mérito. Não sou juiz, mas reafirmo que ele teve independência para julgar.

DIÁRIO – Qual a avaliação que o sr. faz da postura polêmica do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), seu correligionário, na Câmara?
MALUF – No Brasil há liberdade de expressão. Mesmo que o Bolsonaro fale bobagens, ele pode e deve ter o direito de falar. Se é do meu partido, como todos os outros, são partidos. Tem gente que pensa A, outra pensa B. É a mesma coisa no PT, PSDB e PMDB. É partido. Tenho muito respeito pelo deputado. Posso concordar com algumas ideias dele e discordo de muitas, mas eu convivo, não mordo. Eu o cumprimento, abraço, respeito.

DIÁRIO – O sr. tem obtido votações expressivas para deputado federal. Por que o sr. considera esse insucesso em eleições majoritárias?
MALUF – A idade chega, tenho 82 anos. Apesar disso, faço sorrindo o que muito jovem não faz chorando. Avalio que governador e presidente da República no máximo seriam na faixa de 65 anos, pois a idade é coisa que não pode substituir. Era governador ativo, eleito aos 47 anos. Considero que como deputado federal posso ser bom conselheiro, principalmente de outros Estados, onde existe dificuldade administrativa intelectual.

DIÁRIO – Existe ainda frustração de não ter sido eleito presidente?
MALUF – Não. Deus não quis. Aliás, quando me dizem: ‘Se o (senador) José Sarney, que era presidente do PDS, tivesse sido seu vice você teria sido eleito’. Digo que não. Estava escrito que o titular ia morrer. Deus me salvou (risos).

DIÁRIO – Engenheiro, conhecido como homem de Executivo, o sr. se sente de mãos atadas no Congresso?
MALUF – O Congresso é mais lento. Faço parte das duas comissões mais importantes: na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), na qual passam todas as leis, e Finanças e Tributação. Me sinto útil como conselheiro. É óbvio que eu queria brigar para que não faltasse água em São Paulo e tivesse mais Segurança, mas passou. Eu já fiz a minha parte. Nesta campanha, serei crítico ao que estiver errado. Tem muita coisa que o governo federal faz que eu critico, inclusive da tribuna.

DIÁRIO – Está garantido apoio à presidente Dilma?
MALUF – O PP vai apoiar de maneira pública e dará tempo de TV para a Dilma. Ela está sendo boa presidente, de honestidade rara. Não vejo nos oponentes condições pessoais para resolver os problemas atuais do País. 




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