Para o cidadão comum, igual aos outros, o ano começa no início de janeiro. Para os bempostos, mais iguais que os outros, o ano começa no Carnaval, ou logo após a Semana Santa. Para a Câmara dos Deputados, o ano ainda não começou.

Nesta semana, as desculpas são boas: além das medidas provisórias que trancam a pauta (e que não são votadas pelo bom motivo de que Suas Excelências não as votam), houve a morte de dois deputados, o que gera luto oficial, com suspensão do trabalho. Aliás, como um dos deputados falecidos já exerceu mandato de senador, há luto oficial e suspensão do trabalho também no Senado.

Na semana que vem, as desculpas são igualmente boas: dia 21 é feriado de Tiradentes - feriado nacional. E, em muitos municípios, dia 23 é feriado de São Jorge. Os parlamentares que têm votos nesses municípios precisam visitar as bases. E quem irá a Brasília na quarta, se na terça e quinta não há sessão?

Mas, caro leitor, não pense mal dos nobres parlamentares. O presidente da Câmara, Michel Temer, promete um choque de gestão, para dar mais agilidade à Casa e reduzir seus custos. Tremei, fantasmas! Tremei, funcionários que recebem pela Câmara e trabalham em serviços particulares dos deputados!

Pois as coisas vão mudar! Medidas rigorosas de economia serão implementadas! Desperdícios serão eliminados! O dinheiro público será gasto da maneira mais parcimoniosa possível! Basta aprovar o choque de gestão - o que acontecerá tão logo alguém consiga reunir os deputados para discussões e votações.

A LUTA PELA VAGA

Mal passou o luto, começa a luta. É pelo posto do deputado João Herrmann, do PDT paulista. O suplente é Fernando Chiarelli, mas há um problema: ele saiu do partido e agora faz tudo para voltar. Se Chiarelli não puder assumir, a vaga é de João Jorge Fadel (o dirigente que tenta bloquear a volta). É briga boa: Chiarelli já foi cassado por falta de decoro, por ofender um colega deficiente físico.

COISA ANTIGA

A Polícia Federal acaba de afastar o delegado Protógenes Queiroz, que comandou a Operação Satiagraha, de todas as suas funções. Porém, desde que foi substituído pelo delegado Ricardo Saadi na Operação Satiagraha, Queiroz viajou pelo País, participou de comícios, recebeu homenagens, e ao que se saiba não exercia funções na Polícia Federal. Em tempo: o delegado Queiroz, mesmo formalmente afastado do trabalho, continua recebendo seus vencimentos.

PURA COINCIDÊNCIA

A Anvisa, agência de Vigilância Sanitária, liberou um aumento de 5% no preço dos remédios, a partir de 1º de abril, só que válido apenas para estoque novo: os estoques antigos deveriam manter o mesmo preço. Pois não é que, por uma daquelas coincidências notáveis, o estoque antigo de todas as farmácias e drogarias do país acabou ao mesmo tempo, à meia-noite de 31 de março? Por isso todos os remédios eram de estoque novo e subiram no primeiro segundo de 1º de abril. Outra coincidência: bem no Dia da Mentira!

O HOMEM DA CRUZ

O secretário da Fazenda de São Paulo, Mauro Costa, acha que seria justo pregar os sonegadores numa cruz. Este colunista pesquisou e não viu qualquer declaração do secretário Mauro Costa sobre o calote dos governos (federal, estadual, municipal) contra seus credores. O advogado Alexandre Thiollier, citado no portal Migalhas (www.migalhas.com.br), diz que este é "o maior calote da História" - o calote dos precatórios, dívidas passadas em julgado, em que o Estado foi condenado e não paga. O jurista Saulo Ramos é duro: "É a terceira vez que se dá calote através da Constituição: 1988, 2000 e agora (...) é calote continuado". A proposta do calote é do senador Renan Calheiros. Cruz nele, secretário Costa?

LOS HERMANOS

O encontro dura de amanhã a domingo; e o tema deve ser o único país americano que não tem representação da Cúpula das Américas, que se realiza em Trinidad-Tobago. O presidente venezuelano Hugo Chávez já disse que vai exigir a participação de Cuba, e exigir também que o presidente americano Barack Obama suspenda o embargo comercial a Cuba. Obama tomou algumas medidas para distender as relações entre Cuba e EUA, mas informou que o embargo continua. O encontro pode virar samba de uma nota só.