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Cadeia produtiva do setor da saúde
Jefferson José da Conceição, professor e Coordenador do Observatório Conjuscs
Marcos Sidnei Bassi, professor e ex-reitor (março/2013 a junho/2020) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano)
07/08/2020 | 07:05
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Na 13ª Carta de Conjuntura da USCS, lançada em julho de 2020, em nota técnica na forma de entrevista, tratamos de alguns temas estratégicos relacionados ao desenvolvimento econômico nacional e regional. Analisamos, por exemplo, a importância de se ter uma cadeia produtiva da saúde bem estruturada no País, como mostrou a pandemia da Covid-19. Dissemos que o Brasil ainda tem longo caminho a percorrer para alcançar este objetivo. Neste texto, aprofundamos este assunto.

O País percebeu, por exemplo, o risco que é ser altamente dependente de importações de itens de baixa e média complexidade tecnológica na área da saúde (como são os respiradores). Estudos apontam que o Brasil importa 95% das máscaras N-95, 94% dos fármacos e 80% do maquinário adquirido pelo SUS. Há inúmeros outros itens importados como luvas, equipamentos e instrumentos cirúrgicos, remédios etc que, em uma estratégia de médio e longo prazos, já poderiam estar sendo produzidos aqui. O País possui elevado deficit na balança comercial do setor, que passou de US$ 5 bilhões para algo em torno de US$ 10 bilhões, entre 2007 e 2016 (Carta de Conjuntura FEE, RS).

Por cadeia produtiva da saúde entende-se o complexo de produção de produtos e serviços em saúde; relações comerciais, produtivas, tecnológicas e de empregos envolvidos; atores e instituições que compõem a cadeia produtiva. Na prática, como exposto em site da Fiesp, a cadeia produtiva da saúde envolve a indústria de bases química e tecnológica (fármacos, vacinas, hemoderivados, reagentes para diagnósticos); indústria de base mecânica (equipamentos mecânicos, eletroeletrônicos, próteses e órteses, materiais de consumo); hospitais e clínicas; serviços de diagnóstico e tratamento. Esta cadeia produtiva envolve ainda operadores de saúde, empresas de serviços especializados (como alimentos, lavanderias etc) e universidades, entre outros. Estimativas indicam que a cadeia produtiva da saúde do Brasil representa 9,1% do PIB, 11,6% da força de trabalho, 5,1 milhões de empregos com carteira assinada, sendo 3,6 milhões na iniciativa privada e 1,5 milhão de estatutários (Relatório do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar).

A região – e a cidade de São Caetano, em particular – deve dar bastante atenção ao complexo produtivo da saúde, já que possui grande número de empresas e serviços, como hospitais, universidades, laboratórios, empresas industriais e de serviços especializados diversos. Há um grande potencial nesse segmento em São Caetano, tanto para o poder público quanto para universidades, como é o caso da USCS, que criou novos cursos, buscando readequar-se às necessidades locais e regionais. É nesse contexto estratégico que, por exemplo, foi criado o curso de medicina na USCS, o que também propiciou o fortalecimento de todos os outros cursos na área da saúde. Experiências recentes, com a instalação e treinamento de médicos, que a universidade desenvolve no âmbito do curso de medicina com a utilização de um robô para cirurgias bariátricas endoscópicas, também mostram um pouco desse potencial. Outro projeto importante nessa área será a criação do Hospital Universitário da USCS. O projeto prevê a constituição de um hospital de ‘dupla porta’ (SUS e particular). Neste, além das atividades de prática dos cursos de saúde, poderão ser desenvolvidas as atividades de pesquisa, formação de professores, residência etc. É igualmente um marco histórico a USCS ter sido designada como um dos 12 centros responsáveis pelo teste da vacina contra o coronavírus, cuja pesquisa é desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, e que, no Brasil, é coordenada pelo Instituto Butantan, um dos maiores centros de pesquisa, desenvolvimento e produção de imunobiológicos do mundo.

O fomento às startups, que ajudam a encontrar soluções para os desafios do complexo produtivo da saúde, entrelaçados com os desafios da economia digital e da economia criativa, deveria ser a base da formação de incubadora tecnológica em nossa região e cidade. É fundamental que esta incubadora esteja vinculada às empresas e instituições que compõem a cadeia produtiva da saúde na cidade e na região.

Entendemos também que é importante impulsionar o recente APL (Arranjo Produtivo Local) em saúde, constituído em São Caetano, reunindo Prefeitura, universidades, institutos de tecnologia e empresas, em torno de uma agenda de trabalho comum, com metas de curto, médio e longo prazos. 




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