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Gaia joga a toalha
Por Rodolfo de Souza
16/04/2020 | 00:01
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Na era da pandemia o vulcão acorda cheio de razão. Estivera adormecido, e agora decide que é tempo de se pronunciar. Rugiu feio e espalhou alto suas entranhas pela atmosfera oriental deste mundo, talvez para dar um recado de Gaia, que, ao que parece, começa a sinalizar exaustão. Estaria entrando na retal final a sua paciência.

A humanidade há muito que vem perdendo o controle da febre que faz dela refém do dinheiro e do poder, máquina que, para se sustentar, esgota os recursos da Terra, sem pensar que depende dela a vida. 

Mas toda essa gente que toca a máquina, em dado momento, foi obrigada a parar e se aquietar. Parece até que um freio fora colocado repentinamente na engrenagem voraz do mercado. Vive agora, esse povo, confinado e com medo de ser apanhado pela molécula tinhosa que se vale da sua invisibilidade e da sua enorme população para deixar doente aquele que a atraiu, sabe-se lá como.

E, por falar em esgotamento dos recursos da natureza, vi em matéria recente denúncia de investidas ainda maiores do garimpo ilegal contra as terras indígenas deste País, que concedeu permissão para que toda a ilegalidade se tornasse legal. O facínora, então, se aproveitou das atenções voltadas para a peste e atacou com mais voracidade. E os povos, normalmente isolados, que aqui estavam quando da chegada do europeu, passaram a receber com mais frequência a visita indesejada do invasor que, além de tomar e destruir sua mata, sua terra e sua água, também lhe presenteia agora com o vírus que infelizmente não distingue rostos. Do contrário, talvez dizimasse só a gente que carrega no cerne o prazer pela aniquilação do meio e pela morte do outro.

O fato, visto com tristeza, está correlacionado com o despertar do vulcão, e é somente um exemplo que serve para ilustrar o sentimento de que Gaia se cansou e começa a espremer o ser humano, tal como este faz com pernilongo chato. As selvas que restaram estão sendo queimadas, o gelo derrete a olhos vistos, a atmosfera encontra-se envenenada, tal qual a água, sobretudo a pouca água doce, que é necessária para a sobrevivência da espécie. Até as marés andam meio estranhas ultimamente. Tenho visto vídeos que me fazem lembrar da última vez em que estive numa praia e me deparei com ressaca em época nada típica do fenômeno.

E o homem, para cercear o poder daquele que o ameaça, também parte perigosamente para o ataque com arma, cujo manuseio não conhece de todo. E provoca tragédia, com direito a tiro pela culatra e tudo. 

Um tanto sinistro este texto, admito. Talvez tenha chegado a este ponto dado o momento de angústia que nos pesa nos ombros. E a destruição da natureza continua a ser o quadro que melhor ilustra o ce nário em que vivemos nos dias de hoje. 

Dias de pandemia em que o futuro se nos afigura obscuro, deixando repletos de angústia nossos corações, que já denotam cansaço extremo.




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