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Grande ABC lidera atividade física no Estado
Por Lola Nicolas
Do Diário do Grande ABC
20/02/2005 | 16:34
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O ABC é a região mais ativa fisicamente do Estado de São Paulo. Supera a média de todas as regiões paulistas. Pesquisa feita em 2002 e concluída em 2003 pelo Celafiscs (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano) no ABC, interior, litoral e capital, com 2 mil pessoas por região, revela que 59,2% dos moradores de Santo André, São Bernardo e São Caetano praticam algum tipo de atividade física por pelo menos 30 minutos todos os dias, contra 52,5% da média estadual. No litoral, o índice ficou em 56,4%, no interior, 54,1%, e na capital, 40,4%.

Números que impressionam se levarmos em conta que em 1999 o ABC registrava 47,5% da população inativa, enquanto hoje é de 40,8%. Havia 51,3% de homens e 43,7% de mulheres que faziam atividades físicas com freqüência muito irregular ou eram sedentários. Pelo resultado da pesquisa, os profissionais do Celafiscs observaram que, considerado a população total das três cidades analisadas da região – cerca de 1,5 milhão –, mil pessoas por mês estão se iniciando na atividade física.

O Celafiscs pesquisa a evolução da atividade física com entrevista domiciliar envolvendo pessoas de 14 a 77 anos, selecionadas de forma estratificada por sexo, idade, nível sócio-econômico e educacional.

E o por quê da atividade física na vida das pessoas? Qual a sua importância? Victor Matsudo, médico especializado em medicina esportiva e fundador do Celafiscs, revela que o sedentarismo responde por 60,3% como fator de risco de mortes no Estado de São Paulo, bem acima do tabagismo (37,9%), hipertensão (22,3%), obesidade (18%) e alcoolismo (7,7%). “O sedentarismo é um problema social, temos de tratá-lo como o inimigo público número um. Saiba que o sedentarismo leva a 300 mil mortes cardiovasculares por ano no Brasil. E custa dinheiro.”

Impacto econômico – Em 2002, o Celafiscs calculou pela primeira vez o impacto econômico da falta de atividade física da população paulista: R$ 93,7 milhões aos cofres públicos no Estado de São Paulo. O valor corresponde a 3,6% do total de gastos em saúde por ano e mais da metade do total de gastos hospitalares (R$ 179,9 milhões) com 10 problemas de saúde associados à inatividade.

No mundo, segundo a Revista Âmbito Medicina Esportiva, de julho de 2001, a cada ano mais de 2 milhões de mortes são atribuídas à inatividade física. Essas mortes são parte do incremento de enfermidades e incapacidades causadas pelas doenças crônicas não-transmissíveis, como cardiovasculares, cânceres e diabetes.

Em 1992, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) alertou os órgãos internacionais sobre o perigo do sedentarismo à saúde da população, um grupo de especialistas em medicina, educação física, nutrição e terapia ocupacional se uniu para criar um programa que estimulasse a atividade física, sem os cansáveis e enfadonhos exercícios físicos. Quatro anos depois, o Celafiscs lançava o Agita, que, com ações contínuas por todo o país, passou a estimular o sedentário a ser pelo menos um pouco ativo; o pouco ativo a se tornar ativo; o ativo a ser muito ativo, e o muito ativo, a se manter neste nível.

A meta é atingir o prazer pela atividade física, não necessariamente a prática esportiva. “Queremos que as pessoas coloquem em prática as expressões mexa-se, caminhe, movimente-se, seja como for, mas de maneira freqüente, por pelo menos 30 minutos diários. Não são todos os que gostam de exercício físico intenso, de esporte de competição. Também nem todos têm condições financeiras de freqüentar uma academia. Nas escolas, os professores de Educação Física já começam a injetar a atividade física, a recreação nas aulas, deixando o esporte de competição como atividade extra-curricular”, explica o professor de Educação Física Timóteo Leandro de Araújo.

E Araújo tem razão. Basta lembrar os resultados da pesquisa da Unesco, divulgada em janeiro, sobre hábitos esportivos dos jovens brasileiros, de 15 a 29 anos. Na pergunta “você prática atividade esportiva?”, 57% responderam que não. “A pergunta foi mal formulada. Não dá para afirmar que mais da metade dos jovens é sedentária, mas que essa parcela (57%) não faz qualquer tipo de esporte no sentido real da palavra (conjunto de exercícios físicos praticados com método). Se tivessem perguntado se faziam alguma atividade física, como caminhar, por exemplo, o resultado poderia ser diferente”, observa Victor Matsudo, fundador do Celafiscs.

A própria autora da pesquisa, Miriam Abromovay, professora da Universidade Católica de Brasília e vice-coordenadora do Observatório sobre Violência nas Escolas da Unesco-Brasil, explica, por meio de sua assessoria de imprensa, que o fato de 57% dos jovens brasileiros não praticarem esportes não significa necessariamente que sejam sedentários.

Agita ABC – As mulheres, segundo pesquisadores do Celafiscs, são mais preocupadas com o bem-estar e, por isso, entenderam a mensagem do Agita. Em 1999, três anos após a implementação do programa, o ABC tinha 56,3% de mulheres movimentando-se pelo menos 30 minutos por dia. Em 2002, esse índice subiu para 61%. Já os homens demoraram um pouco mais para entender os benefícios da movimentação física moderada, mas constante. Em 1999, apenas 48,7% deles se preocupavam com a saúde física. Em 2002, o índice subiu para 57,4%. “Isso significa que as pessoas, homens, mulheres, crianças e idosos, estão entendendo que o melhor remédio para prevenção e combate às doenças é manter um bom condicionamento físico, aliado à alimentação balanceada, fazendo exatamente o que gostam”, explica Matsudo.

São Caetano, segundo o próprio Celafiscs, é a cidade da região que melhor absorveu os ensinamentos do Agita. Há 10 meses, a professora Alexandra Marçal iniciou, apoiada pela diretora do programa municipal Saúde em Família, Mara Ferrante, um grupo de caminhada com idosos do núcleo de doenças crônicas da cidade. A idéia era tirar dos postos de saúde os hipertensos e diabéticos e colocá-los para caminhar. “No começo enfrentei muita resistência, medo e desconfiança. Achavam que não iam aguentar, que iam passar mal. Começamos com 40 pessoas; hoje são mais de 500. De um grupo, agora já somos cinco”, conta Alexandra.

Atualmente há grupos nos bairros Fundação, São José, Prosperidade, Nova Gerti e Olímpico, que, uma vez por semana, caminham, dançam, brincam e se exercitam dentro de clubes municipais. A aula dura em média 30 minutos (a maioria das vezes ultrapassa essa carga horária, por força do entusiasmo dos alunos da terceira idade), mas os participantes estão caminhando muito mais.

“Eles já não se limitam apenas a essa atividade semanal. Estão andando todos os dias, em trajetos por eles estabelecidos. A avaliação médica trimestral a que são submetidos constata a melhora na qualidade de vida desse pessoal”, explica Alexandra.

A professora assegura que seus idosos estão mais bem-humorados. “Saem mais de casa, não se queixam de dores, não se lamentam mais da vida, estão com mais equilíbrio e melhoraram a auto-estima, a saúde mental e física. Esvaziamos os consultórios e aumentamos a perspectiva e a qualidade de vida deles”, orgulha-se Alexandra.

O sucesso do Agita ABC contagiou o prefeito paulistano José Serra (PSDB). Preocupado com a acomodação da população da capital, que ocupa a última colocação no ranking das regiões paulistas em atividade física, Serra incumbiu o Celafiscs de elaborar atividades em conjunto com todas as secretarias e subprefeituras da metrópole. O pontapé inicial acontece nesta segunda-feira, na estréia do Agita Sampa.

Duas mil pessoas já estão confirmadas para, das 9h às 12h30, em frente ao prédio da Prefeitura, se mexer.



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