Os diretores das Ciretrans (Circunscrições Regionais de Trânsito) negam ter qualquer informação do esquema ilegal. De acordo com o Detran (Departamento de Trânsito de São Paulo), eles são os únicos com acesso ao sistema que armazena as informações sobre carteiras e condutores e que podem desbloquear as carteiras. O órgão estadual afirma desconhecer a prática irregular, mas não descarta a possibilidade de levar a denúncia à Corregedoria da Polícia. "Se um funcionário da Ciretran usou a senha para fraudar, ele será identificado pelo sistema. Ele (o sistema) acusa dia, hora, máquina e senha de cada operação. Se fez besteira, está registrado", disse na sexta-feira o delegado-assistente do Detran, Mário Gobbi. Ele afirmou que o órgão não tem nenhuma responsabilidade caso a denúncia seja comprovada, mas confirmou que o departamento é responsável por fiscalizar as unidades municipais de trânsito.
A proposta do esquema ilegal não é apresentada pelos despachantes ao interessado de imediato. Para conseguir a informação e acertar a transação, o motorista precisa insistir e até narrar os problemas que terá caso fique impossibilitado de dirigir por um período. Por telefone, a maioria se recusa a fornecer informações de preço e de prazo da entrega da nova habilitação. "É melhor você vir até aqui para falarmos pessoalmente", diz um deles. O jeitinho, de acordo com os despachantes, envolve pessoal das Ciretrans e dos CFCs.
"Eles não dizem exatamente para quem vai o dinheiro, mas afirmam que o esquema é quente com a Ciretran. Paguei R$ 1 mil e em 15 dias estava com a habilitação na mão", disse um motorista de 20 anos que conseguiu regularizar sua situação, mesmo com 37 pontos no prontuário, enquanto dirigia com uma carteira provisória. "Cheguei a pedir para falar com quem recebia o dinheiro para tentar parcelar, mas eles não abrem o jogo." O motorista fez o esquema com um despachante de São Caetano.
Os diretores das Ciretrans, no entanto, afirmam que a prática é impossível. "Principalmente depois da mudança no sistema (há cerca de dez dias)", disse a diretora da Ciretran de Mauá, Ana Lúcia de Souza. Segundo ela, a mudança restringe o acesso dos diretores à ficha do motorista de outro município. Apesar do argumento, na sexta-feira um despachante de São Bernardo se ofereceu para regularizar uma carteira de São Paulo.
"A única possibilidade de alguém deixar de fazer o CFC é se estiver morta", garantiu o diretor da Ciretran de São Bernardo, Marcos Antonio Latari. Segundo ele, não existe chance de uma pessoa de fora da Ciretran, sem domínio do sistema e conhecimento das senhas, fazer alterações. Porém, Latari não descarta a possibilidade de "estar sendo enganado". "Se desconfiarmos de alguém, vamos investigar, porque a pessoa deve ir para a cadeia." O diretor disse que na segunda-feira irá instaurar um inquérito para apurar as denúncias. Os diretores de Santo André, Newton Santos da Costa, e de São Caetano, Adilson da Silva Aquino, afirmaram desconhecer o jeitinho de livrar os motoristas das punições. O responsável pela Ciretran de Diadema, Antônio da Costa Pereira Neto, não foi encontrado para comentar a suposta fraude.
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