A principal testemunha do assassinato do adestrador Edson Néris da Silva reconheceu pessoalmente Vanderlei Cardoso de Sá, um dos 18 skinheads acusados de espancar até a morte a vítima no dia 6 de fevereiro deste ano, na praça da República, em Sao Paulo. O comerciante Carlos Augusto de Souza Borges apontou Vanderlei entre os acusados durante uma audiência com o juiz do 1º Tribunal do Júri de Sao Paulo, José Fuy Borges Pereira, realizado nesta terça na capital.

Terceira das nove testemunhas a depor, Carlos - que já havia identificado Vanderlei por fotografia na 1ª Delegacia Seccional de Sao Paulo - se confundiu no início do seu depoimento e apontou Juliano Filippini Sabino como principal agressor do adestrador. O promotor Marcelo Milani, relator da denúncia contra o grupo, percebeu a discrepância e pediu esclarecimento a Carlos, que voltou a analisar as fotos dos indiciados anexas ao processo, tiradas no dia do flagrante. "Eles estao muito diferentes agora, por isso me confundi", disse Carlos, que só reconheceu Vanderlei depois que o juiz pediu que o acusado retirasse os óculos.

O comerciante indicou ao juiz o nome de uma outra testemunha do homicídio. Trata-se de Nessilvio Mathias Tavares, um funcionário de Carlos que estava com ele na calçada em frente ao prédio da Secretaria da Educaçao na hora do crime. "Vimos exatamente o momento em que o grupo de pelo menos 30 skinheads cercou o adestrador e o amigo dele, que conseguiu fugir." Carlos, considerado por Marcelo Milani o principal trunfo da Promotoria para levar os 18 acusados a júri popular, reconheceu também a indiciada Regina Saran, moradora de Santo André, como integrante do grupo. "As duas moças ficaram de longe observando o espancamento, mas nao ajudaram", disse Carlos, referindo-se também à acusada Edilene Aparecida Pereira Bezerra, de Sao Bernardo.

A audiência desta terça contou ainda com uma nova testemunha de acusaçao, que afirma ter presenciado o espancamento. O office-boy Abrao Godoi Teixeira, 17 anos, compareceu ao Fórum e foi convocado a depor pelo promotor Marcelo Milani, em substituiçao ao morador de rua Adinei Santos Rocha, que nao se apresentou. Confuso e desacreditado pelos advogados de defesa do grupo, por já ter sido interno da Febem por porte de entorpecentes, Teixeira reconheceu pessoalmente Vanderlei Sá, Regina Saran, Henrique Velasco (marido de Regina) e Davi Alves dos Santos Júnior como os agressores que teriam atingido primeiro Edson.

O morador de rua Hélio Cândido da Silva, que no dia do crime disse à polícia nao ter condiçoes de identificar individualmente os responsáveis pela morte do adestrador, reconsiderou nesta terça e denunciou alguns dos acusados ao juiz. Segundo Hélio, Marcelo Pereira Martins, Jorge da Conceiçao Soler, Henrique Velasco, David Alves dos Santos Júnior, Regina Saran, José Nilson Pereira da Silva (morador de Diadema) e Roberto Fernando Gros Dias, foram alguns dos skinheads que agrediram o adestrador.

O investigador de polícia Alexandre Casimiro Lages deu duas informaçoes importantes para as provas de acusaçao, segundo Milani. Durante a elaboraçao do flagrante, os indiciados teriam afirmado informalmente ao investigador que se conheciam, e o barman Fernando Azadinho dos Santos realmente teria informado ao delegado plantonista que o grupo participara de um espancamento na praça da República, contrariando o que os skinheads disseram em depoimento ao juiz no início de março.

A próxima fase do processo vai consistir em depoimentos das 73 testemunhas de defesa dos 18 skinheads. O juiz José Ruy Borges Pereira ainda nao marcou data para tomar depoimento dessas testemunhas.