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Turistas sofrem nas rodoviárias da região
Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
24/04/2011 | 07:02
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Nario Barbosa/DGABC


Os passageiros que chegam ou usam as rodoviárias da região para partir em direção a outras cidades do Estado ou do País enfrentam problemas que vão da falta de organização, de conforto e de limpeza à ausência de opções de alimentação - quem precisar matar a fome, só com salgados.

As vítimas são os passageiros que utilizam os terminais Nicolau Delic, em São Caetano, João Setti, em São Bernardo, o de Ribeirão Pires e o de Santo André. Eles sofrem também para conseguir informações e até para usar os banheiros, por exemplo.

As administrações são municipais nos casos de São Caetano e Ribeirão, e os demais têm controles próprios, como o Tersa, em Santo André, e a SBCTrans, em São Bernardo.

A equipe do Diário visitou as quatro rodoviárias e ouviu outras diversas queixas, como as péssimas condições dos sanitários, as precárias cadeiras de espera - quando existem -, além da falta de vagas e dificuldades para estacionar.

Os turistas estrangeiros que vierem para a região e não souberem se comunicar em português estarão perdidos. Em nenhuma das rodoviárias existem placas com informações em inglês ou outro idioma.


MAU CHEIRO

A carência de estrutura adequada é a principal marca desses lugares. Poucas mantêm banheiros gratuitos e, quando isso acontece, não há higiene. Faltam assentos nas privadas, o mau cheiro é constante e o papel higiênico é disponível apenas em pedaços que ficam em cima das pias, como nos casos de Ribeirão e São Caetano.

Em Santo André é necessário desembolsar R$ 1 para utilizar o toalete; para um banho, o preço vai a R$ 3 em São Bernardo.

O destino mais procurado é o Litoral Sul paulista, mais especificamente as cidades de Santos, Mongaguá e Praia Grande. Diariamente são milhares de passageiros que utilizam os terminais. Uma parte para viagens de lazer; outra para trabalhar.

A dona de casa Maria do Socorro, 42 anos, sofreu no embarque para Santos, quinta-feira, em São Caetano. Ela e os três filhos esperaram por cinco horas para embarcar.

"Isso sempre acontece nos feriados. Como pode se repetir tanto e ninguém fazer nada para melhorar? Até parece que estamos pedindo e não pagando", reclamou ela, que mora na Vila Prudente, na Capital.

No terminal João Setti, em São Bernardo, a desorganização era generalizada no primeiro dia do feriado prolongado. Os passageiros aguardavam em pé em filas dispersas e apertadas nas únicas duas plataformas - as outras são para ônibus municipais. Muitos utilizavam as próprias malas como cadeiras. Uma mulher pediu informações sobre o seu ônibus. O fiscal da Viação Cometa apenas disse: "É só ficar olhando". É assim que é passada a maioria das informações.

Perguntado sobre aonde estariam os carregadores das bagagens, o mesmo profissional foi seco: "Não sei, você vai ter que procurar."

O descaso é visível nas rodoviárias. Não existem informações sobre os pontos de embarque e desembarque, de táxis e estacionamentos. As praças de alimentação não oferecem opções para quem não gosta de salgados e refrigerantes.


Desorganização é marca em S.Bernardo

Adriana, Marcos, Juliana e Dora carregaram malas e enfrentaram problemas como falta de informações e desorganização na hora do embarque, na rodoviária João Setti, em São Bernardo, no primeiro dia do feriado.


O pior é que o problema não foi pontual, pois é uma constante para quem chega ou parte rumo ao litoral, interior de São Paulo ou outros estados.


As filas desorganizadas e o calor - o termômetro marcava 32º C às 11h de quinta-feira - são reclamações frequentes entre os passageiros. Soma-se a isso a falta de vagas gratuitas para estacionar, lanchonetes com diversidade de produtos, espaço de espera confortável e painéis digitais com informações.


A rodoviária, que está localizada na região central, entre as avenidas Jurubatuba e Faria Lima, recebe até 1.500 passageiros diariamente, sem contar os que utilizam as plataformas de ônibus municipais. Os destinos mais comuns são as cidades litorâneas, segundo informou a administração do local.


A dona de casa Dora Marques, 49 anos, mora em Diadema e precisou ir até o local após tentar obter informações por telefone, e não conseguir. "Tentei ligar para saber mais detalhes, como horários e os valores das passagens. Mas não deu muito certo. E agora, na hora de viajar, nós temos que ficar atrás para saber de onde o ônibus vai sair", disse.


Ela, o marido Reinaldo e o filho não conseguiram ficar em um espaço mais sossegado para embarcar com a poodle Gabi. "Não tem jeito, a gente fica nervoso. E com a cachorra, parece que a situação fica pior", comentou.


Na hora de comprar os bilhetes os passageiros não têm muitas escolhas. Poucas viações aceitam cartões de crédito ou débito. Na hora de buscar informações junto aos funcionários, poucos conseguem atender e responder com educação.

Para usar os sanitários é preciso desembolsar R$ 1, mas a ficha deve ser comprada em uma lanchonete.


PONTO DE TÁXI

Na região do terminal faltam placas sobre os locais de embarque e desembarque, assim como não há na parte interna indicativos de onde o passageiro pode conseguir um táxi.


Quem quiser guardar mala e pacotes tem o guarda-volume, com preço acessível. Para deixar uma caixa de som, televisão, fogão ou bicicleta custa R$ 5 por 24 horas. Os volumes menores saem por R$ 4.

Santo André é o mais completo, mas também tem problemas

O Tersa (Terminal Rodoviário de Santo André) é o mais completo na região. Mas deixa a desejar em alguns itens, como a falta de placas em inglês ou outro idioma, banheiros acessíveis gratuitamente e o funcionamento das escadas rolantes.

No geral, os passageiros ficam sentados em cadeiras confortáveis, os acessos às plataformas dos ônibus são separados e sinalizados. A área de alimentação tem mesas e cadeiras. Os elevadores de acesso ao piso superior funcionam, o que facilita a movimentação de cadeirantes e pessoas com dificuldade de locomoção.

A farmacêutica Fernanda Guazzelli, 34 anos, e o filho Cauê, 16, que moram na Vila Pires, usam com frequência os serviços do Tersa, e aprovam.

"Nunca tivemos problemas. Às vezes falta passagem, mas isso é normal. Do resto é tranquilo", disse Fernanda. Na quinta-feira, Cauê foi viajar para Campinas e não teve atrasos no embarque.

Ao contrário, a dona de casa Elenice Belo da Silva, 55, precisou esperar por mais de cinco horas para embarcar para Campinas. "Para que diminuir o número de passagens no feriado? Falta planejamento", reclamou.

São Caetano tem instalações precárias e muita sujeira

Sujo e com instalações precárias. Assim é o pequeno Terminal Rodoviário Nicolau Delic, em São Caetano, na região central da cidade.

Na quinta-feira, o local estava em péssimas condições de higiene. Os passageiros precisavam aguardar debaixo de sol e ainda sofreram com a falta de informações sobre os horários de chegada e saída dos ônibus.

O banheiro masculino passa por reforma. O teto está todo quebrado e os fios das lâmpadas ficam para fora. Mesmo assim, está aberto. Não há assentos nas privadas e o papel higiênico é servido por um simpático funcionário.

No local existe uma ‘Sala VIP' com poltronas aparentemente confortáveis, mas que está fechada para o público. As pessoas precisam aguardar em bancos de concreto, sob sol ou chuva.

Segundo os funcionários, quando chove, várias goteiras incomodam quem está na rodoviária. Também é visível a falta de cuidados com a limpeza.

A Prefeitura, responsável pela administração do terminal, informou que aproximadamente 45 mil pessoas circulam pelo local diariamente, de onde saem ônibus também para cidades da região e da Grande São Paulo.

O analista de processo Cassio de Souza Vieira, 23 anos, e duas amigas aguardaram por mais de quatro horas para conseguir embarcar para a Praia Grande.

"O complicado é que não tem nem onde esperar em conforto. Tudo fica mais difícil", disse o jovem, que mora na Vila Prudente, na Capital.

A maioria dos usuários com os quais a equipe do Diário conversou não mora em São Caetano. "Não somos da cidade, mas sempre ouvimos falar que é a melhor da região. Acho que é apenas discurso, pois não conseguem arrumar essa rodoviária", disse Maria do Socorro.

Em R.Pires, sobra beleza e falta estrutura

O Terminal Rodoviário Turístico de Ribeirão Pires tem apenas o nome interessante. A bela obra arquitetônica deixa sobretudo os passageiros que chegam de fora na mão. Informações não existem e falta estrutura.

O passageiro que chega à cidade e não conhece seu destino está em maus lençóis. Na rodoviária não há informações sobre pontos de táxi, e o turista pode ter problemas se entrar em ônibus das linhas municipais.

O terminal tem um ponto a favor, mas apenas para quem tem deficiência visual. As placas internas têm informações em Braille. Os banheiros são gratuitos, mas falta limpeza e condições adequadas para um local que se determina como ponto turístico. As linhas de telefone, que poderiam ser uma facilidade para os usuários, não têm capacidade para atender à demanda.

Isso foi o que aconteceu com a dona de casa Valcenir Bastos, 32 anos. Ela foi uma das vítimas devido à carência de detalhes para comprar e saber sobre os horários de partidas dos ônibus. Uma familiar precisou ir até a rodoviária para obter as informações. Chegou às 8h e apenas às 9h30 conseguiu as passagens que garantiriam a diversão do restante da família no feriado.

"Não precisava passar por isso. Como pode o lugar se declarar estância turística e não ter nem informações corretas para os moradores. Imagine então para os turistas. Mas parece que falta vontade de transformar essa cidade em um lugar atraente para os visitantes", reclamou Valcenir.

A estrutura para quem vê de fora é impressionante. As colunas altas e o estilo europeu exibem um certo glamour. Sem contar a combinação com as linhas dos itinerários municipais e mais a ligação com a linha da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

A falta de estrutura não se repete na segurança. Um carro da Polícia Militar dá cobertura para os passageiros. Uma placa gigante traz alguns detalhes, mas apenas sobre os nomes das linhas. Como disse a dona de casa Valcenir, basta vontade política ou administrativa para transformar realmente em Terminal Rodoviário Turístico Ribeirão Pires.




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