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Tratamento médico alivia os sintomas do vitiligo
Thaís Moraes
Do Diário do Grande ABC
29/04/2013 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Verônica do Couto Schmidt é uma adolescente de 16 anos. Apesar da pouca idade, desde os 10 ela convive com o vitiligo, doença que se caracteriza pelo surgimento de manchas brancas na pele.

Quem conheceu Verônica antes, com quase todo o lado esquerdo do rosto despigmentado, percebe nela hoje nítida diferença, pois o foco do problema se encontra apenas em uma pequena região próxima à boca.

A mudança ocorreu porque a jovem passa por tratamento há seis anos no Ambulatório de Vitiligo da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), referência no assunto. Embora a mancha esteja em lugar visível, a adolescente diz conviver bem com ela. "Às vezes me incomodo, mas já estou acostumada porque tenho desde criança".

A adolescente é uma dos mais de 1.000 pacientes que passaram pelo ambulatório em seus 10 anos de existência. Atualmente são feitos em média 50 atendimentos por semana. Já o centro cirúrgico para essa finalidade, criado em 2012, realiza semanalmente pelo menos dez procedimentos, entre enxertos de pele e curetagem.

Segundo o dermatologista Jefferson Alfredo de Barros, professor da disciplina de Dermatologia da FMABC e responsável pelo ambulatório, a doença não possui alvos específicos. "Dá em quem tem predisposição para ter. Pode acontecer em qualquer idade e não respeita raça nem sexo. Também pode aparecer em várias partes do corpo, mas as mais comuns são rosto, mãos e pés", explica.

A doença tem origem autoimune, ou seja, a própria imunidade do indivíduo ataca os melanócitos, células que produzem a cor da pele, e, com isso, ela vai perdendo pigmentação.

Justamente por ter origem imunológica, ao contrário do que muitos pensam, a doença não é contagiosa. "As pessoas não pegam e não transmitem para ninguém. É importante esclarecer porque muitas vezes quem tem vitiligo sofre discriminação", alerta o médico.

Fatores emocionais como traumas, depressão e ansiedade também podem influenciar no aparecimento ou agravamento da moléstia. Segundo Barros, "não é correto dizer que a causa é o estresse, mas ele colabora. Mais um motivo para não haver preconceito, porque isso influencia negativamente ainda mais a doença. Alguns pacientes necessitam até de acompanhamento psicológico".

As manchas podem ter formatos variados e geralmente têm áreas limitadas. Apesar de o vitiligo ser algo que chama atenção, a pele não sofre nenhuma alteração em relação à sensibilidade, textura, força e à consistência. A única mudança é de fato em sua coloração.

Terapia varia conforme grau da moléstia

Segundo o dermatologista Jefferson Alfredo de Barros, o tratamento do vitiligo depende da extensão da mancha, mas a duração pode demorar de meses a anos. "No primeiro momento, a doença deve ser estabilizada. Depois é o momento de estimular a pigmentação da pele", explica.

A estabilização do vitiligo pode ser feita com medicamentos que agem na imunidade e com a utilização de cremes e pomadas no local. Mas a pele também pode ser estimulada a produzir cor por meio de fontes de luz. "Existem as cabines de fototerapia para casos mais extensos. Porém, nas manchas mais bem localizadas a opção é o laser".

Os tratamentos cirúrgicos são indicados quando a doença se encontra estável, mas não responde bem ao tratamento clínico. "Os enxertos de pele consistem em retirar pequenos fragmentos de pele da parte de trás da orelha ou da região do cóccix e implantá-los no local afetado. A ideia é que as células de pigmentação do enxerto migrem para a mancha e se espalhem", esclarece Barros.

Foi isso o que aconteceu com Verônica, que realizou o procedimento em abril do ano passado e já apresenta mudanças significativas.

No caso da dona de casa Marilucia Gomes Pinheiro, 61 anos, que possui vitiligo há pelo menos 50, o tratamento é diferente, já que as manchas estão localizadas nas mãos, braços, colo, costas e pernas. "Duas vezes por semana passo 24 minutos na cabine. Com três anos de tratamento, as manchas já diminuíram bastante".

FMABC desenvolve novo método para combater problema

Estudo sobre vitiligo feito pela FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) ganhou destaque global em março durante o maior evento da especialidade no mundo, o congresso da Academia Americana de Dermatologia, realizado nos Estados Unidos.

A pesquisa que integra o trabalho de mestrado da médica Karine Dantas Diógenes Saldanha comprovou que a aplicação de mometasona, um tipo de cortisona em forma de pomada, melhora a repigmentação da pele em pacientes submetidos à cirurgia de enxerto.

A tendência é de que a aplicação prática do estudo deva se tornar rotina em consultórios de todo o mundo. "Foram comparados enxertos com a aplicação da mometasona e sem ela. Com o medicamento, a resposta foi mais satisfatória em termos de pigmentação", conta Jefferson Alfredo de Barros, professor da faculdade.

Outro procedimento desenvolvido na própria FMABC foi curetagem, ou seja, a raspagem da mancha esbranquiçada. O tratamento resultou na repigmentação da lesão de 16 pacientes.

Todos os atendimentos são realizados por encaminhamento do SUS (Sistema Único de Saúde).




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