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Médico de brinquedos resgata infância no Nova Petrópolis

Desde 1987, Ambulatório de Bonecas e Brinquedos é comandado por Osvaldo Manoel Corvo

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
31/05/2014 | 07:00
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 Há 27 anos, o Ambulatório de Bonecas e Brinquedos devolve sonhos a crianças e adultos no bairro Nova Petrópolis, em São Bernardo. No número 20 da Avenida Imperatriz Leopoldina, o ‘médico’ Osvaldo Manoel Corvo resgata a infância – sua e de seus clientes – ao consertar bonecas, carrinhos, laptops e todos os tipos de brinquedos, novos e antigos.

A carreira ligada ao universo infantil começou aos 19 anos no Hospital das Bonecas, na Capital, cujo proprietário é cunhado de Corvo. “Em 1987, achei que estava na hora de abrir meu próprio negócio e vim para cá”, relembra.

Além de consertar brinquedos, Corvo também colecionou itens antigos durante toda a vida. A ideia agora é montar um site e comercializar os produtos. “Brinquedos têm boa saída porque mexem com as emoções e a história das pessoas”, explica ele, que ao longo de tantos anos aprendeu a lidar com os pequenos. “Quando percebo que uma criança deixou o brinquedo aqui e ficou muito ansiosa por se separar dele, procuro acalmá-la dizendo que irei consertá-lo e que logo ela virá buscar novamente, que não vou ficar com ele para mim.”

Para tranquilizar também os pais, Corvo deixa com eles o número de seu celular. E o ambulatório de brinquedos, às vezes, atende emergências. “Uma vez uma menininha deixou a boneca aqui num sábado. Percebi que ela estava muito apreensiva e deixei o número do meu celular com a mãe. Na mesma noite ela me ligou e disse que a menina estava passando mal e tinha ido parar no hospital. Na hora soube que era por causa da boneca e, no domingo, abri a loja para que elas viessem pegá-la. A menina melhorou na hora.”

OBSERVADOR

Trabalhar com brinquedos fez com que Corvo aprendesse muito sobre si e sobre a paternidade. Apesar disso, nunca se casou, tampouco teve filhos. “Acho que nada é por acaso. Estou repassando o que tive na minha infância para as gerações futuras por meio dos brinquedos que conserto.”

Por trabalhar próximo aos pequenos, o proprietário da loja critica a educação que os pais dão a seus filhos atualmente. “As pessoas não sabem mais lidar com as crianças. Elas precisam de disciplina. Liberdade é bom, mas, em excesso, prejudica.”

Ao longo desses 27 anos, Corvo acreditou muitas vezes que seu negócio acabaria. Porém, foi o único que prosperou. “Tentei montar outras coisas paralelo ao ambulatório. Abri lava-rápido, restaurante, lanchonete. Nada deu certo. Então percebi que meu lugar é aqui.”

Sorte da professora Aliete Teixeira da Silva, 52, que na terça-feira retirou uma boneca bate-palminha de 35 anos na loja. “Era da minha filha e agora será da neta. É uma relíquia da família.”

É exatamente com essas lembranças e emoções que Corvo lida diariamente. “É gratificante ver o brilho no olhar de adultos e crianças diante de um brinquedo funcionando. Isso não tem preço.”

Bairro tem parque e áreas verdes para todos os públicos

O bairro Nova Petrópolis tem diversas opções de áreas verdes, que atraem inclusive a população de localidades vizinhas, como o Centro. Cada uma costuma reunir um público diferente.

O recém-restaurado casarão da década de 1930 e que pertenceu a Wallace Simonsen, prefeito da cidade em 1945, domina a paisagem do Parque Chácara Silvestre, na avenida que homenageia o antigo proprietário do imóvel. Ali os praticantes de exercícios encontram lugar. “Venho todos os dias. Pela manhã faço caminhada e, à tarde, uso os equipamentos”, garante o aposentado Luiz Fonseca, 66 anos e morador do bairro há 12.

As amigas Monetti Lorente de Oliveira, 45, e Milena Capelari da Silva, 33, deixam as filhas na escola e vêm caminhar no parque. “É pertinho do Centro e bastante arborizado, ideal para os exercícios”, diz Monetti.

O parque não permite entrada de cães, que se concentram nas praças Fernando de Azevedo e do Professor. Para brincar com as crianças, o parquinho desta última é o lugar escolhido pela comunidade.

Cão comunitário faz a segurança das ruas

O cão Pretinho é um dos frequentadores mais assíduos da Praça Fernando de Azevedo, assim como as ruas das proximidades, onde é responsável pela segurança local. “Sempre que tem alguém estranho por aqui, ele late para avisar os moradores”, garante o aposentado Jorge Kondo, 69 anos, um dos vizinhos que mais cuidam do animal.

O cão apareceu no bairro há cerca de quatro anos, bastante debilitado. “Ele estava magro e capenga. Começamos a alimentá-lo e o veterinário que fica em frente à praça tratou dele. Aos poucos, ele foi melhorando”, lembra seu Kondo.

A confiança foi mais difícil. Pretinho não deixava ninguém se aproximar. O aposentado conta que foram necessários cerca de seis meses para que ele entrasse e dormisse na garagem numa noite fria.

Seu Kondo bem que tentou colocar o cachorro para dentro e adotá-lo de vez, mas Pretinho não pode nem ouvir falar de coleira. “Ele tem muito medo e fica agitado só de olhar a corda.”

O jeito foi a comunidade adotar o animal. Alguns dão comida, assim como o aposentado, que também garante vacinas anuais e antipulga todos os meses. A personalidade sossegada de Pretinho garantiu diversos amigos – humanos e caninos. “Fico tranquilo porque sei que ninguém vai maltratá-lo. Ele é simpático e fez amizade com o bairro inteiro”, brinca seu Kondo.

Hortas fornecem verduras fresquinhas

Em meio a residências de alto padrão e condomínios de apartamentos, hortas instaladas em terrenos cedidos pela AES Eletropaulo garantem verduras frescas e orgânicas para a população do Nova Petrópolis.

Uma delas fica na esquina da Avenida Wallace Simonsen com a Rua Vicente Galafassi. Em placa improvisada, lê-se que além de comprar verduras, ali é possível contratar os serviços do também jardineiro, além de agricultor, Hilton Corrêa, 63 anos.

Nascido em Ubá, em Minas Gerais, Corrêa veio para São Bernardo aos 19 anos. Trabalhou como faz-tudo em empresas, mas, sem estudo, encontrou nas hortas opção para ganhar a vida. “Só sei assinar meu nome, não tive oportunidade de frequentar a escola. Mas isso não quer dizer que não sou inteligente. Acompanho as notícias e gosto de falar sobre política”, diz ele, enquanto mostra seus canteiros preparados para receber alface, rúcula, coentro, salsinha e cebolinha.

Além de vender os produtos, que faz questão de lembrar que são livres de agrotóxico, Corrêa produz mudas de árvores frutíferas. “Mas agora todos moram em apartamento, é difícil ter espaço para os pés de fruta. Aqui no bairro mesmo tem muita casa à venda. O povo reclama da falta de segurança.”

Apesar disso, o agricultor segue com o ofício. “Não penso em aposentadoria. Enquanto puder mexer com a terra, vou continuar trabalhando. É minha terapia.”




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