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Janeiro tem menor número de nascimentos desde 2003

Taxa de natalidade neste ano nas cidades do Grande ABC foi a mais baixa desde o início da série histórica

Thainá Lana
Do Diário do Grande ABC
16/02/2022 | 00:01
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Nario Barbosa/DGABC


“Nunca tive vontade de ser mãe, não me imagino com um filho”. A declaração da andreense Luana de Alcantara, 34 anos, reflete nas estatísticas sobre natalidade na região. As cidades do Grande ABC registraram o janeiro com o menor número de nascimentos desde o começo da série histórica, iniciada em 2003, segundo levantamento da Arpen-SP (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais do Estado de São Paulo). No mês passado nasceram 2.246 bebês nas cidades da região, contra 2.350 em 2021 – veja dados na tabela abaixo.

A queda nos dados tem ocorrido de maneira gradativa nos últimos anos. Janeiro de 2004 foi o ano com maior número de nascimentos, com total de 3.238 registros. Quando comparados os últimos dez anos, 2012 com 2022, a retração chega a 27%. Porém, a região só alcançou a pior taxa de nascimento no primeiro mês desse ano por conta da média das sete cidades. Na comparação entre os municípios, Santo André, Diadema e Mauá foram os únicos que registraram menos nascimentos em 2022 do que em 2021. 

A maior participação da mulher no mercado de trabalho e a priorização da carreira profissional podem ser fatores que contribuíram para baixa taxa de natalidade na região, conforme aponta o médico ginecologista Patrick Bellelis. Segundo ele, a maternidade está sendo postergada e a procura pelo congelamento dos óvulos tem sido cada vez mais frequente. “Essa realidade já ocorre com mulheres a partir dos 30 anos, quando elas decidiram que não terão filhos com essa idade e preferem assegurar que a maternidade ocorra mais tardiamente”, esclarece.

“Os índices do Grande ABC também seguem uma tendência mundial. Além da carreira profissional, o fator econômico também influencia na decisão de ter uma criança, e até por conta disso as famílias estão cada vez menores”, afirma Patrick. A pandemia da Covid-19 também pode ter influenciado na decisão de ter ou não filhos. “Alguns planos podem ter sido adiados por conta da crise sanitária, até por questão de segurança, e isso pode ter colaborado com a diminuição, pelo menos nos últimos dois anos”, finaliza.

Luana, que vive com a sua companheira, Sol, há mais de três anos no Bangu, em Santo André, reforça que o desejo de ser mãe não está ligado a sua sexualidade. “Ter filhos é uma benção. A mulher que tem vontade em ser mãe deve, sim, realizar o sonho dela. Porém, acredito que as pessoas romantizam muito a maternidade, e por muito tempo me sentia obrigada, de um jeito ou de outro, a ser mãe. Mas como vou ser algo que não quero? Foi quando entendi que só pensava sobre isso para agradar aos outros, e não a mim”, desabafa a andreense, que dedica seu tempo a cuidar da mãe que tem ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica).

IMPACTO SOCIAL

Além da mudança de perfil, a baixa natalidade também aponta para outros indicadores sociais e econômicos. Segundo Marcos Pazzini, coordenador da IPC Marketing Editora, empresa especializa em pesquisas, com a menor taxa de nascimentos a região terá uma população mais idosa e menos ativa economicamente. “Se uma região passa a ter predominantemente uma população mais velha do que pessoas que contribuem economicamente, o governo terá mais despesas do que receitas. Com isso a capacidade de investimento em diversas áreas como saúde, educação e infraestrutura, por exemplo, serão menores”, explica Pazzini. 




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