O messianismo escancarado nas performances do cantor Bono Vox pode até incomodar os mais céticos, mas é inegável que os irlandeses do U2, banda que será esperada na noite desta segunda-feira por cerca de 73 mil pessoas, no Estádio do Morumbi, em São Paulo, sempre estiveram ligados às causas sociais. A mais recente manifestação desse engajamento do líder Bono foi uma carta, enviada por e-mail, no início do mês, a todos que aderiram à campanha Live 8, evento que reuniu grandes nomes da música pop no ano passado para pressionar os líderes do G8, grupo dos oito países mais ricos do mundo, a ajudarem o continente africano no combate à fome.

“Todos os dias, três mil pessoas estão morrendo por causa de uma mordida de mosquito – que causa a malária, uma doença tratável e que pode ser prevenida. Nossa geração pode pôr um fim na extrema e estúpida pobreza que possibilita que isso ocorra. Suas vozes fazem toda a diferença na forma como seus governos encaram isso”, diz Bono, em um dos trechos da carta.

O cantor incita o destinatário à reafirmar o compromisso de ajudar a campanha. “O Live 8 foi apenas um dia (2 de julho). Nós precisamos da sua voz por muito mais tempo, para ter certeza de que isso será lembrado não apenas pela música, mas pelas muitas vidas que ajudou a salvar. Por favor, mantenha contato”, frisou o vocalista. Aliás, o U2 foi uma das principais estrelas do primeiro Live Aid, evento que também foi organizado pelo músico Bob Geldof, em 1985.

Tanta perseverança já rendeu ao carismático intérprete diversos prêmios de instituições humanitárias e até uma candidatura para o Prêmio Nobel da Paz, em 2005. Foi por causa da insistência de Bono, o mais importante militante do movimento Drop the Debt (cancele a dívida), que o G8 perdoou a dívida dos 18 países mais pobres, de, aproximadamente U$ 40 milhões.

Ao todo, há 52 países no mundo que têm suas economias prejudicadas pela dívida externa. De acordo com os organizadores da campanha, com o perdão da dívida, esses países teriam U$ 350 milhões a mais para gastarem com investimentos em setores fundamentais como educação e saúde.

Letras – O envolvimento político de Bono e seus companheiros, o guitarrista The Edge, o baixista Adam Clayton e o baterista Larry Mullen Jr., fica explícito nas letras da banda e começou a chamar a atenção do grande público a partir do hit Sunday, Bloody, Sunday, hit gravado no álbum War, de 1983.

Outro belo hino de protesto composto pelo grupo é Pride (In the Name of Love), dedicada ao ativista negro Martin Luther King, que foi assassinado em 1968. A canção faz parte do repertório do disco Unforgettable Fire, de 1987, cujo nome foi inspirado em uma coleção de pinturas dos sobreviventes dos bombardeios nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki.