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Herança lírica
Por Luciane Mediato
Especial Diário do Grande ABC
25/02/2011 | 07:00
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Há 15 anos, Caio Fernando Abreu deixava saudades. O autor, jornalista, dramaturgo, poeta e ator escreveu 21 livros. Entre eles, Inventário do Irremediável (1968), que dava indícios de como seria o enredo de suas histórias, recheadas de questões existenciais e sociais.
O gaúcho, por escrever de forma experimental e cheia de lirismo, se tornou ícone. Sua obra é considerada marco da geração 1968. "Ele consegue abordar solidão, a busca de alternativas à vida burguesa e a inadaptação social. Tudo isso articulado com crítica à família conservadora, ao autoritarismo e à ditadura. Isso, numa escrita temperada com poemas, romances, músicas, filmes e signos da cultura de massa", analisa Arnaldo Franco Júnior, professor de Teoria da Literatura na Unesp-São José do Rio Preto.
Franco ressalta que a obra de Abreu não se restringe à temática de identidade sexual - o escritor dizia se relacionar com homens e mulheres. "Ele abordou tais conflitos em suas obras, e o fez com franqueza e qualidade literária ímpares. Entretanto, sempre reagiu mal ao rótulo de escritor de literatura gay por saber que são redutores do universo do artista. Ele queria, e merece, ser lido por qualquer pessoa como um bom escritor".
Segundo Franco, ao mesmo tempo em que há escritores que podem ser comparados a Caio, nenhum se aproxima de seu estilo. "Sua escrita porta traços, por vezes fortes, do diálogo que estabelece com outros autores via citação ou apropriação de procedimentos de escrita. Julio Cortázar, John Fante, García Lorca, Cecília Meireles figuram entre as filiações literárias de Caio. Entretanto, a síntese que o escritor realizou com tais obras é singular", declara.
O autor tem sua memória preservada e divulgada pelas redes sociais. Só no Twitter é possível encontrar 46 perfis que publicam diariamente trechos das obras. Deste modo, mesmo aquele que nunca leu um conto completo consegue desfrutar de pequena parte de sua essência literária.
O suporte eletrônico permitiu divulgação enorme da obra de Caio e de outros escritores. Outros favoritos das redes são Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector, Fernando Pessoa e Virginia Woolf.
Via web, trechos e, por vezes, livros inteiros, ficam disponíveis. "O problema é que nem sempre há devido respeito à transcrição dos originais, o que gera distorções perigosas. Já li textos atribuídos a Drummond e Clarice que eles jamais teriam cometido, tamanha a marca da autoajuda. Para quem tem amor à obra de um escritor, o livro impresso é, ainda, a fonte mais confiável", avalia Franco.
É justamente preocupada com a credibilidade dos textos do autor que circulam pela internet que a escritora Marina de Mello criou o perfil @caiofabreu no Twitter. "Além de muita gente se confundir e achar que o autor está vivo, ainda há aqueles que têm preguiça e não pesquisam nos livros, apenas acham trechos na rede".
EMJá as estudantes Gabriela Boldrini e Evelyn Machado, donas do perfil @pequenaepifania, tiveram o primeiro contato com o autor na internet. "As redes contribuem muito na divulgação da literatura. Há alguns anos as pessoas só poderiam conhecer livros ou autores se fossem procurar. Com a internet, têm acesso sem pedir e de graça", diz Gabriela.

 

 




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