Setecidades Titulo 41%
Com 41%, Mauá supera média brasileira em perda de água

Índice na cidade é de 41% e, no País, é de 37%; na
região, chega a 32% em Diadema, 2ª em desperdício

Vanessa de Oliveira
do Diário do Grande ABC
22/02/2015 | 07:07
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Celso Luiz/DGABC


Com a região Sudeste vivendo a pior crise hídrica de sua história, os dados referentes à perda de água se tornam alarmantes, ainda mais quando o índice de uma cidade supera a média nacional. É o caso de Mauá, onde a rede de distribuição apresenta perda de 41% do total da água transportada, enquanto no Brasil 37% de todo o recurso tratado pelas companhias de saneamento são desperdiçados, de acordo com o relatório do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento, do Ministério das Cidades.

O superintendente da Sama (Saneamento Básico do Município de Mauá), Paulo Sérgio Pereira, atribui a situação à questão habitacional do município. “Quando se fala em perdas, o vazamento seria o mínimo. Temos muitas áreas invadidas que, consequentemente, têm ligações irregulares, então, esses são os motivos principais dessas perdas em Mauá”, argumenta.

Até o ano passado, o índice mauaense era ainda maior – 46%. Mas, segundo Pereira, ações que vêm sendo promovidas diminuíram o percentual. “De dezembro para cá, acredito que já houve cerca de 1.000 regularizações em ligações”, disse. O consumo médio mensal de água na cidade é de aproximadamente 1,5 milhão de m³.

Com relação aos vazamentos visíveis, contrato com a empresa Oestevalle, iniciado no dia 23 de janeiro, intensificou o trabalho de reparo. Já para conter os não visíveis, empresa foi contratada para elaboração de estudo que avalie os custos de um projeto voltado para esse problema. “Esses vazamentos não visíveis estão na região do Jardim Zaíra, Itapark, Parque das Américas, que é onde fica a rede mais antiga que temos na cidade, então, em um primeiro momento, vamos centrar os esforços nessas regiões. Já contatamos uma empresa e passamos os dados a ela para que possa nos fornecer um orçamento e, a partir disso, abrir licitação para possível contratação.”

A Sama também prevê o início de extensão e remanejo de rede em 15 bairros que possuem rede ultrapassada nos próximos dias.

No mês passado, a Prefeitura de Mauá abriu licitação para a PPP (Parceria Público-Privada) da Sama. A empresa vencedora terá permissão para atuar por 30 anos e, dentro do trabalho, há meta de diminuir a perda de água nesse prazo para 25%. “Em dez anos, a meta é reduzir para 37%”, falou Pereira.

INDIGNAÇÃO - Diante da falta de água em todo o Estado, vazamentos causam indignação na população. O técnico em eletrotécnica Eduardo de Souza Caires, 33, morador do Jardim Itapark, disse que o bairro sofre com a questão constantemente e o conserto não é feito com agilidade. “Um vazamento em frente à minha casa demorou três meses para ser atendido. Outro, na Rua Diamante, ocorre há cerca de 15 dias. É algo grave diante do que estamos passando.”

O superintendente da Sama explica que o entrave no reparo é um problema de logística. “Vamos falar dos três maiores bairros: Zaíra, Itapark e Parque das Américas. No Zaíra, por ser o bairro mais populoso, consequentemente o número de vazamento é maior e a rede também é antiga. Então, deslocamos de duas a três equipes para lá. Aí aparece um vazamento no Itapark, também um bairro populoso, então, às vezes, demora um pouco”, justificou. “Temos cinco equipes da Sama e seis de uma empresa terceirizada. A ideia é montar mais seis equipes. A previsão é que em um mês e meio consigamos reduzir significativamente os vazamentos visíveis”, promete.


Especialistas garantem que alerta só veio em meio à situação de crise

Profissionais da área de recursos hídricos acreditam que a preocupação com as perdas de água decorrentes de vazamentos ocasionados por redes antigas e ligações clandestinas se deu somente há alguns meses, quando a situação da crise se agravou. “Quando se fala em perda de água, são números absurdos, mas somente agora, com essa situação de escassez, é que muitas cidades estão se dando conta de indicadores que são históricos”, salientou o presidente executivo do Trata Brasil, Édison Carlos. “Isso não é só uma perda do líquido, mas também financeira, pois é água que não é paga, não entra no caixa das empresas, então, é estranho que esses indicadores não tenham sido combatidos na velocidade necessária.”

O especialista ressaltou que um dos fatores que mais contribuem com as perdas, as ligações clandestinas, precisam de atenção especial. “No Grande ABC há muitos bairros irregulares e o desperdício é ainda maior. Isso também precisa ser combatido com fiscalização e regularização das áreas.”

Assim como Carlos, o pesquisador associado do Instituto de Química da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Wilson de Figueiredo Jardim concorda que o alerta para a situação aconteceu tardiamente. “Nunca se preocuparam com isso, porque sempre foi cobrado do consumidor. Só veio à tona quando começamos a enfrentar escassez de água, que é algo que a comunidade científica já havia detectado. Essas perdas são resultado da falta de manutenção e gestão”, declarou. “O lado negativo disso é que elas pedem que o consumidor faça sua parte, mas as próprias companhias raramente fazem a delas.”

Para Jardim, a redução para valores aceitáveis, que ficam em torno de 10% a 15%, é um cenário longínquo. “Estamos falando de algo que irá levar pelo menos dez anos. É um investimento grande agora. Se fosse feito continuamente, obviamente que o gasto seria menor, mas hoje há uma rede de distribuição que precisa ser reavaliada”, explicou. “Eu, pessoalmente, não sou otimista quanto a um cenário a curto prazo onde este quadro possa ser revertido.”

Desperdício de água é significativo nas demais cidades do Grande ABC

Depois de Mauá, Diadema é a segunda cidade da região com o índice mais alto de perda de água tratada: 32%, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), responsável pela distribuição no município. A companhia informou que a meta até 2018 é reduzir para 16%. Os investimentos são de R$ 26 milhões.

Santo André aparece na terceira colocação, com 27,9% de perdas. O volume desperdiçado é de 391,03 litros/ligação por dia.

Conforme o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André), em 2013 foi retomado o Comitê de Combate às Perdas, que se reúne a cada dois meses para avaliar as ações implementadas e definir novas estratégias. Além disso, a autarquia tem desenvolvido diversas ações, como troca de 22 quilômetros de redes de ferro por PVC, por meio de repasses da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) e troca de hidrômetros para a redução de perdas aparentes, além de substituição de macromedidores nos centros de reservação. Em prazo de oito anos, o Semasa espera chegar a índice de 20%.

Em São Caetano, a perda na distribuição é de 24%. O DAE (Departamento de Água e Esgoto) destacou que já executa o Plano de Sustentabilidade Corporativa, que reúne uma série de medidas, como conserto de vazamentos, remanejamento de rede de distribuição de água potável e substituição de cavaletes, para reduzir o índice para 15%, padrão internacional de excelência. Com prazo de conclusão para 2016, o investimento é da ordem de R$ 35 milhões.

São Bernardo e Ribeirão Pires apresentam o mesmo índice de perdas físicas, segundo dados de janeiro fornecidos pela Sabesp: 22%. Rio Grande da Serra tem 12%. De acordo com a concessionária, nos três municípios, a empresa já investiu R$ 83,9 milhões entre 2009 e 2013, além dos investimentos para os próximos quatro anos no valor de R$ 98,7 milhões. Com isso, a meta de redução para a primeira cidade é de 16%, a segunda, 14% e, a terceira, 10%.  




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