Santo André está prestes a iniciar um salutar processo de intercâmbio cultural com a capital cubana, Havana. A intençao é incentivar a montagem de exposiçoes com obras de artistas de Cuba e do Grande ABC. O projeto foi idealizado por Alexis Iglesias, artista plástico cubano radicado em Sao Bernardo desde 1993. Paula Caetano, artista plástica e coordenadora da Casa do Olhar da Prefeitura de Santo André, Enock Sacramento, crítico de arte, e Eduardo Kacinskis, arquiteto e decorador, cumprem, respectivamente, os papéis de representante da instituiçao brasileira promotora, curador das obras de artistas da regiao e produtor. Do lado cubano, a negociaçao é feita por Margarita Gonzalez Lorente, diretora do Centro de Desenvolvimento das Artes Visuais de Havana.

Segundo Iglesias, a idéia surgiu durante as reunioes realizadas por um grupo de artistas do Grande ABC na Biblioteca de Arte do Espaço Henfil de Cultura, de Sao Bernardo, sempre às quintas-feiras. "Além de abrigar discussoes estéticas, esses encontros têm servido para que os participantes apresentem soluçoes para problemas comuns aos artistas da regiao, como a falta de espaços para exposiçoes e, também, projetos artísticos", explica. Por ser cubano, e pelo fato de ter fundado uma galeria em Havana dedicada a promover o trabalho de jovens artistas, a Paralelo 23, Iglesias apresentou a proposta para Paula.

"É um projeto muito interessante para as duas cidades, tanto que Margarita está motivada com a possibilidade de abrigar obras de brasileiros e enviar, para cá, trabalhos de cubanos. Na semana que vem, a Casa do Olhar deverá receber um ofício de Cuba confirmando o interesse pelo intercâmbio. Em novembro, aliás, Santo André receberá a visita de uma representante do Centro de Desenvolvimento das Artes Visuais de Havana", explica Paula, anunciando, inclusive, a mostra a ser montada em Santo André com obras de artistas selecionados para o intercâmbio.

A coletiva se chama Traços do ABC e será vista no Salao de Exposiçoes da Prefeitura de Santo André de 8 de dezembro a 8 de janeiro de 2000. Inclui obras de Andrea Cabrini, Arnaldo Fiorotti, Rubens Pontes, Sueli Vital, Jeferson Thomazelli, Carmen Novo, Antônio César Scopel, Edson Lourenço, Cida Vieira, da Oficina de Performance da UniABC e do próprio Iglesias. A versao cubana desta mostra, se tudo der certo, deverá acontecer em julho. Por outro lado, a contrapartida, ou seja, a vinda de uma seleçao de Cuba para Santo André, só depende de procedimentos do governo cubano para se tornar realidade. Iglesias diz que Carlos Estevez, Luiz Gomez e Tânia Braguera, todos de Havana, sao nomes emergentes e que merecem ser vistos por aqui.

Além da exposiçao, Paula lembra que o projeto também abriga boas possibilidades para a ampliaçao dos focos de interesse: "Pode-se pensar em programas paralelos que incluam workshops e palestras, por exemplo". O ideal, aliás, segundo avaliaçao da coordenadora da Casa do Olhar, seria levar para Havana a exposiçao, uma mostra especial apenas com trabalhos desenvolvidos no ateliê de litografia de Roberto Gyarfi, o Alemao, outra apenas com as telas concretistas de Luiz Sacilotto e, por fim, a coletiva Nova Urbanidade: Santo André em 3 x 4, uma seleçao bastante representativa do trabalho desenvolvido pelos fotógrafos do Núcleo de Fotografia da Casa do Olhar. Iglesias, por sua vez, acredita que a realizaçao deste projeto seria exemplar para a instituiçao de uma série de projetos similares que poderiam ser levados para outros importantes centros latino-americanos, como Buenos Aires, na Argentina, e Cidade do México, no México.