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Obesidade infantil se torna alvo de políticas públicas na região

Apesar de o combate ao problema ser uma preocupação mundial, nem todas as cidades mantêm programas

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
02/07/2017 | 07:00
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Preocupação mundial, a obesidade infantil já afeta pelo menos 15% das crianças no País. Diante do cenário, agravado por pesquisas recentes que destacam que mais da metade da população está acima do peso e que 18,9% dos brasileiros estão obesos, o Ministério da Saúde listou metas para diminuir os índices da doença, entre elas a redução do consumo de refrigerantes e de sucos artificiais e o aumento da ingestão de frutas e de hortaliças. O trabalho de sensibilização em torno do tema geralmente tem início nas escolas, no entanto, entre as sete cidades, apenas o município de Santo André e uma unidade de ensino da rede estadual em Diadema destacaram manter programas estruturados que visam diagnosticar o problema e traçar metas para combatê-lo.

Na rede municipal andreense, o tema veio à tona após pesquisa para conclusão de doutorado da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC), realizada entre 2014 a 2016, apontar que 48,4% dos alunos de duas escolas – Cesas das vilas Palmares e Sá (374 crianças) – estavam acima do peso, entre eles obesos e obesos graves. “São números alarmantes, por isso a ideia do projeto, apresentado à Secretaria de Educação e iniciado em março”, destaca a coordenadora do programa Educação em Movimento, Aida Nascimento, professora de Educação Física de Santo André há 27 anos.

Até ontem, o projeto coletou dados, entre eles peso, altura, circunferência abdominal, e realizou teste de habilidade com 8.000 alunos da rede, com idade entre 6 a 10 anos, de 33 Emeiefs (Escolas Municipais de Educação Infantil e Ensino Fundamental) – 62% do total de unidades. A expectativa é a de que a tabulação dos números seja feita até agosto, quando terão início quatro turmas de atendimentos para as crianças que estiverem obesas. “Vamos encaminhá-las para atividades específicas, duas vezes por semana, no contraturno escolar, buscando a melhoria da qualidade de vida”, observa Aida.

Além dos exercícios físicos, como esportes competitivos, atividades cooperativas e lúdicas que estimulem a queima calórica, o projeto encaminha os casos à UBS (Unidade Básica de Saúde) mais próxima de casa para acompanhamento. Soma-se a isso trabalho com nutricionistas da Craisa (Companhia Regional de Abastecimento de Santo André) para a realização de palestras para os pais das crianças a respeito da alimentação saudável. “Aqui não temos cantina e observamos que muitas crianças não comem a merenda e trazem lanche com refrigerante, bolacha recheada, itens práticos, mas prejudiciais”, destaca a coordenadora do programa.

Aluna do 4º ano do Ensino Fundamental da Emeief Paulo Freire, no Jardim Matarazzo, Ana Beatriz Turini, 9 anos, está no pequeno grupo de crianças que aceitam flexibilizar o cardápio e inserir, vez ou outra, itens como brócolis, alface, rabanete, tomate e, raramente, a cenoura no prato. “Alguns (legumes e verduras) como porque gosto, mas outros por obrigação”, confessa a pequena. Amante de chocolate, ela destaca que “tenta não comer tanta besteira”, no entanto, considera a tarefa difícil. Em contrapartida, pratica atividade física duas vezes por semana. “Faço natação e balé.”

Nem mesmo o bom exemplo da colega de sala é capaz de estimular a estudante Beatriz Ferraz Losano, 9, a mudar os hábitos alimentares e a rotina quase que totalmente sedentária. Além de a refeição diária não incluir nenhum tipo de legumes ou salada, ela revela passar a maior parte do tempo livre com os olhos voltados para o computador e para o celular. “Já tentei comer verde e outras coisas saudáveis, mas não consigo. Quando estou em casa, passo bastante tempo no celular, mas às vezes brinco de corrida com o meu irmão”, ressalta a aluna.

Em Diadema, projeto resgata brincadeiras antigas

Na EE Eça de Queiróz, em Diadema, o acompanhamento do peso e da altura dos alunos dos 1º e 2º anos do Ensino Fundamental (com idade entre 5 e 8 anos) é realizado desde 2015. Com base nos números constatados – pelo menos 40% dos 140 estudantes avaliados estão acima do peso e 10% deles apresentam peso abaixo do ideal – foi traçado projeto dentro da disciplina de Educação Física, sob o comando da professora Aline Ferrús. “Trabalhamos desde conteúdos voltados à alimentação saudável, com a proposta de experimentar a comida da merenda e evitar bolachas e refrigerantes, até a prática de exercícios físicos diários”, explica.

O trabalho de “formiguinha” ganha significado à medida que a professora observa que um dos conteúdos da aula chama atenção da garotada. “A gente promove o resgate de brincadeiras que os pais faziam, como pular corda e amarelinha. As atividades visam o abandono às tecnologias como única alternativa de diversão. Tornei-me professora para fazer aquilo o que não fizeram por mim quando era aluna”, ressalta Aline.

OUTRAS AÇÕES

São Bernardo possui laboratório de distúrbios nutricionais nas UBSs (Unidade Básica de Saúde) da Vila Euclides, da Vila Marchi, do Leblon e do Riacho Grande voltados ao tratamento de crianças com problemas de obesidade, sobrepeso ou com colesterol alto. Equipe multiprofissional acompanha crianças de zero a 17 anos. Além disso, elas são encaminhadas para a Secretaria de Esportes, onde são incentivadas a realizar atividades físicas.

Mauá destacou oferecer atendimento multiprofissional à criança e ao adolescente na rede básica de Saúde. Além da assistência nutricional, o município conta com especialidades médicas de endocrinologia e nutrologia. Já Ribeirão Pires ressaltou que os alunos da rede recebem orientações e informações sobre as propriedades dos alimentos, além de aprender sobre compostagem, manipulação e plantação na horta. O governo disponibiliza, ainda, atendimento pediátrico.

As demais prefeituras não forneceram informações a respeito do tema.

Apoio familiar é fundamental para o tratamento

O sucesso do tratamento contra a obesidade depende, além de dieta adequada e a prática de atividades físicas, de apoio da família. Isso é o que destaca o médico nutrólogo e presidente da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), Durval Ribas Filho.

“O primeiro passo para o combate e tratamento da doença obesidade é comportamental, e inclui dieta e exercícios. A farmacoterapia, que é o uso dos medicamentos inibidores, somente é indicada quando não houver resultado satisfatório. As cirurgias devem ser a última opção”, explica. O médico acrescenta que a forma como a família lida com a doença é um fator definitivo ao tratamento. “Não adianta pressionar, porque isso pode ter efeito contrário e fazer com que a pessoa coma ainda mais. A melhor maneira de ajudar é trazer para dentro de casa uma rotina mais saudável, na qual todos da família estejam dispostos a ter uma alimentação mais balanceada”, aconselha.

Entre as dicas destacadas pelo especialista para facilitar o tratamento estão evitar ter doces em casa, não ir ao supermercado quando estiver com fome para evitar a compra de alimentos desnecessários, destacar apenas um dia da semana para comer as chamadas ‘besteiras’, introduzir frutas, verduras e legumes ao cardápio de todos os integrantes da família, além de estabelecer rotina de atividades físicas para todos os familiares praticarem juntos pelo menos uma vez por semana.

País tem meta de reduzir consumo de refrigerante e de suco artificial

Encontro Regional para Enfrentamento da Obesidade Infantil, em março, traçou metas ao Ministério da Saúde para frear o crescimento do excesso de peso e obesidade no País. O evento assumiu compromisso de reduzir o consumo regular de refrigerante e de suco artificial em pelo menos 30% na população adulta até 2019, além de ampliar em, no mínimo, 17,8% o percentual de adultos que consomem frutas e hortaliças regularmente.

Conforme o governo federal, a ingestão de alimentos ultraprocessados começa já nos primeiros anos de vida. A Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (de 2006) sinaliza que 40,5% das crianças menores de 5 anos os consomem refrigerante com frequência. Enquanto dados da Pesquisa Nacional de Saúde (de 2013) apontam que 60,8% das crianças menores de 2 anos comem biscoitos ou bolachas recheadas. O resultado do mau hábito alimentar é que uma em cada três crianças brasileiras apresentam excesso de peso.

Apesar de existirem projetos de lei em tramitação, não há legislação sobre a publicidade voltada às crianças, e apenas 11 Estados apresentam leis que proíbem alimentos não saudáveis nas escolas.

Crianças com excesso de peso e obesidade apresentam maior predisposição para desenvolver dislipidemia (níveis elevados ou anormais de líquidos e/ou lipoproteínas no sangue), hipertensão (aumento da tensão arterial), doenças cardiovasculares, problemas endócrinos (como diabete), gástricos e pulmonares.

O cálculo de peso saudável para crianças pode ser realizado no endereço eletrônico www.abeso.org.br/atitude-saudavel/curva-obesidade.




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