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'O Gato' chega aos cinemas e garante gargalhadas
Por Patrícia Vilani
Do Diário do Grande ABC
31/12/2003 | 15:00
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Depois do sucesso de O Grinch, com Jim Carrey, que concedeu o Oscar de maquiagem a Rick Baker, chega nesta quinta-feira às telas de cinema de todo o Brasil – quatro salas na região – o segundo longa-metragem baseado em conto infantil do norte-americano Dr. Seuss (1904-1991), o autor de língua inglesa mais lido da história, com a marca de 400 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Trata-se da adorável comédia O Gato (The Cat in the Hat, EUA, 2003), de Bo Welch, um desenhista de produção (Batman – O Retorno e MIB – Homens de Preto 2) que faz agora sua estréia como diretor.

Conhecido por seus cenários fabulosos – a parceria bem-sucedida com o excêntrico cineasta Tim Burton em Edward Mãos de Tesoura é o melhor exemplo –, Welch deixa claro seu estilo neste primeiro filme ao recriar com perfeição a cidadezinha fantástica do livro infantil O Gatola na Cartola. A responsabilidade é grande, já que se trata da mais conhecida obra de Dr. Seuss, uma leitura que tornou-se quase que obrigatória para crianças em fase de alfabetização.

Curiosamente, Seuss escreveu The Cat in the Hat depois de descobrir, por meio de um artigo, que as crianças deixavam de ler porque sentiam-se entediadas pelos livros recomendados pelas escolas. Resolveu, então, criar algo diferente, e assim escreveu um conto com apenas 220 palavras. “O sucesso de Dr. Seuss é mérito de sua linguagem virtuosa. Ele é um importante poeta, que brinca com idéias e faz jogos de palavras em suas histórias”, diz a doutora em poesia Mônica Costa, responsável pela tradução dos livros do autor no Brasil, lançados pela Companhia das Letras.

Mas esse jogo de palavras de Seuss, muitas vezes, faz com que o texto perca parte de seu encanto na tradução para o português. Isso acontece também no filme, que chega no Brasil em versão dublada. Muitas tiradas ficam sem sentido, e algumas são rápidas demais para o entendimento das crianças. Mas, no geral, O Gato é divertidíssimo, apesar dos empecilhos provocados pela diferença de idiomas.

O ponto mais fraco do filme de Welch é, sem dúvida, o protagonista, Mike Myers, que curiosamente foi escolhido a dedo pelos produtores. Ele não tem o mesmo humor físico contagiante de Jim Carrey, que se sobressai como o monstrengo verde de O Grinch mesmo debaixo de quilos de maquiagem. As caracterizações do Grinch e do Gatola, aliás, têm muitas semelhanças, pois obedecem aos traços dos desenhos de Seuss.

O oscarizado Baker, no entanto, inicialmente escalado para o projeto, abandonou o filme por não concordar com as idéias de Myers, Welch e do produtor Brian Grazer para a concepção dos personagens. Para o lugar dele, foi chamado o também competente – mas nem tão criativo – Steve Johnson (Os Caça-Fantasmas).

Milagre – Myers faz o que pode dentro de seus limites de humorista do Saturday Night Live. Ele até está simpático sob a pesada roupa de Gatola e uma maquiagem que o torna irreconhecível. Mas nem todo mundo é capaz de fazer milagres como Carrey, que consegue emprestar expressões faciais à uma máscara de borracha, por exemplo. Como o bichano de 1,80m, Myers deve seus melhores momentos ao texto, direção, edição e visual cuidadoso do filme. Como na cena em que, durante uma fuga, se disfarça de boneco e leva uma paulada no traseiro com um taco de beisebol. Corta para o Gatola num balanço ao som de um pop rock norte-americano. É de chorar de rir.

A história se concentra nos irmãos Sally (Dakota Fanning, de Uma Lição de Amor, com Sean Penn) e Conrad (Spencer Breslin, de Duas Vidas, com Bruce Willis). Eles são filhos da personagem de Kelly Preston, uma corretora de imóveis que será promovida caso a festa de fim de ano da empresa, que acontecerá em sua casa, seja um sucesso. Ela sai para trabalhar num dia chuvoso e pede só uma coisa para as crianças: deixar a casa em ordem.

A tarefa torna-se impossível com a chegada do Gatola, que sobe nos sofás, mancha a sala com tinta roxa e solta duas estranhas criaturas que são capazes de destruir tudo em segundos, a Coisa 1 e a Coisa 2. Tudo se complica ainda mais quando o desobediente Conrad tira o cadeado da caixa mágica do Gatola, abrindo a passagem do mundo real para o mundo de fantasias. Enquanto isso, o vizinho vivido por Alec Baldwin faz de tudo para pegar as duas crianças no flagra e, assim, ter motivos para convencer a mãe deles a mandar Conrad para uma escola militar – o que deixaria o caminho livre para se casar com ela.

O Gatola, no entanto, não aparece somente para fazer bagunça e divertir as crianças. Isso, aliás, serve apenas de pretexto para o enorme bichano ensinar uma lição de vida a Sally e a Conrad. Mas nesse caso não se trata do jeito hollywoodiano de fazer filmes moralistas, mas sim de uma singela história infantil que foi fiel na adaptação para a telona.




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