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Suposto túmulo de Saddam vira local de peregrinação em Bagdá
Por Da AFP
14/04/2003 | 09:58
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"Eu vi Saddam aqui mesmo!", repetia Hafez Sarmad nesta segunda-feira, diante dezenas de olhares atônitos que contemplavam as ruínas das quatro casas destruídas por bombas americanas há uma semana, no bairro de Al Mansur de Bagdá, onde, segundo o exército americano, o líder iraquiano se encontrava.

Como todos os dias há exatamente uma semana e em uma espécie de procissão solene, inúmeros habitantes de Bagdá comparecem a esta pequena rua situada na parte sul da cidade, perto da avenida 14 Ramadan, para ver a cratera de oito metros de profundidade e quinze de diâmetro que as bombas americanas deixaram.

Acostumados a ver seu presidente diariamente em reuniões de gabinete ou dirigindo-se aos cidadãos, a total falta de notícias que já dura uma semana provoca todo os tipos de especulações sobre o destino de seu líder.

"Onde estão Ossama Bin Laden e o mulá Omar? Ninguém sabe. O mesmo vai acontecer com Saddam. Ele vai virar uma lenda", explica Khalid, observando o buraco em que sumiu a casa bombardeada. A seu lado, outros irquianos acham que o dirigente aparecerá "mais cedo ou mais tarde" e colocará o país em ordem de novo. Segundo o jovem de 15 anos que assegura ter visto o presidente, Saddam Hussein chegou a uma das casas acompanhado de Abed Hmud, seu assistente pessoal, horas antes do bombardeio.

"Chegaram em vários automóveis às dez horas da manhã. O rosto dele parecia coberto para não ser reconhecido. Os carros saíram depois e talvez ele estivesse dentro", explica. Da porta de sua casa, vizinha das que foram pulverizadas pelo caça-bombardeiro americano, um capitão da marinha chamado Antisar Al-Mahdi também observa o local. Sua moradia foi afetada pela explosão, mas ainda está de pé.

"Aluguei esta casa em fevereiro para Falih Al Azawi, secretário de Qussai (um dos filhos de Saddam Hussein) por 200 dólares. Este lugar servia de casa e escritório", assegura, sem dar explicações sobre seus habitantes. Segundo ele, os americanos queriam bombardear esta casa, mas seus cálculos falharam em "cinco ou dez metros". "Falih e todos os guarda-costas escaparam com vida pela porta dos fundos. Eu os vi", acrescentou. Este capitão assegura com ar sereno e sorridente que o "senhor presidente" também está vivo e que se encontra escondido em Bagdá, independente do que digam.

A última imagem que se tem do presidente remonta à segunda-feira passada, quando a televisão estatal mostrou o líder com uniforme militar presidindo uma reunião em uma grande sala com as cortinas abertas para deixar passar a luz. "Saddam jamais esteve aqui", afirma o capitão. "Juro que está vivo. Várias pessoas o viram na quinta-feira passada. Gente ligada a ele, pessoas que o conheciam bem", explica, convicto de si mesmo.

Nesse momento, os gritos dos vizinhos a anunciam que, depois de sete dias de intensas buscas, o corpo de uma mulher de 50 anos, chamada Salma, morta com seus três filhos no ataque, foi encontrado sob os escombros do telhado de uma casa situada diante da sua e que desabou por completo.

O corpo foi encontrado devido ao forte mau cheiro desprendido do corpo, literalmente partido em dois e jogado ao longe pela explosão. "Esta é a liberdade que prometeram os americanos? Ela era apenas uma mãe de família!", exclamam seus sobrinhos e irmãos sem conter a revolta enquanto transportavam o caixão.




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