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Luís Alberto Abreu terá quatro peças exibidas gratuitamente
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
01/04/2006 | 09:10
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É hora de rir desavergonhadamente, e de lambujem descobrir o que o Brasil extrametrópole ainda tem e o que ele perdeu pelo caminho durante a idade das empreiteiras. Com a Mostra Luís Alberto de Abreu que o Teatro Municipal de Santo André abre neste sábado em suas dependências, fica também decretada na cidade a temporada de comédia popular, subgênero teatral que é a especialidade do dramaturgo de Ribeirão Pires junto a seus cúmplices da Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes, com o diretor Ednaldo Freire a encabeçá-los. Serão quatro espetáculos, de sábado até quarta-feira, todos com entrada franca.

No processo de aprofundamento da investigação da narrativa épica, Abreu e a Fraternal decidiram rastrear o Brasil que não paga suas contas com cartões de débito. O projeto de comédia popular foi iniciado pela companhia em 1993 e já rendeu 12 montagens, entre as quais as quatro apresentadas em Santo André: Auto da Paixão e da Alegria, Borandá, Eh, Turtuvia! e Masteclé – Tratado Geral da Comédia. Em vez de Mostra Luís Alberto de Abreu, o grupo prefere chamar o ciclo de Repertório do Riso.

Em cena, quatro comédias que têm em comum o estreitamento da relação entre pesquisa, redação e encenação e o vislumbre de culturas confinadas pela uniformidade do cinza-metrópole, seja ela sertaneja, caipira ou nordestina. Relações jamais doutrinárias, por sinal. De tal maneira que o processo pode variar entre uma montagem e outra. Por exemplo, a pesquisa, que no caso de Borandá foi determinante para mudar toda a estrutura primariamente idealizada para o espetáculo e que, por ocasião de Eh, Turtuvia!, teve o limitado papel de servir como fonte de consulta para acertar sotaque e prosódia dos personagens, sem qualquer influência estrutural ou dramatúrgica.

Além de rir e de investigar, os espetáculos da Fraternal são também documentos aquarelados da relação ainda em aberto entre sagrado e profano, como nos palpites do quarto saltimbanco no evangelho teatral e super-oficial que seus colegas pretendem fazer em Auto da Paixão e da Alegria, ou como na intimidade doméstica com que os caipiras tratam os santos que não atendem ou tardam a atender suas preces, do divertido Eh, Turtuvia!.

Mostra Luís Alberto de Abreu – Teatro. Abertura neste sábado, às 21h, no Teatro Municipal de Santo André – praça IV Centenário, s/nº (Paço Municipal). Tel.: 4433-0789. Entrada franca. Até o dia 5.

Peças:

Borandá
No rascunho, Borandá deveria ser uma história alegórica sobre um migrante; na prática, depois de assimilada a pesquisa de campo e as entrevistas com 15 migrantes na zona Sul de São Paulo, tornou-se um compêndio de três sagas sobre três migrantes, denominados Tião, Galatéia e Maria Déia. Uma peça que deixou de ser uma alegoria à moda Macunaíma; que abriu mão de badulaques e excessos cenográficos para que ficasse ainda mais evidente a apropriação dos atores sobre a unidade cômico-poética do texto de Abreu e, principalmente, sobre a riqueza de matizes humanos na história dos desterrados. Neste domingo, às 20h.

Auto da Paixão e da Alegria
Auto da Paixão e da Alegria, neste sábado, às 21h. O espetáculo comporta as contradições históricas do auto enquanto forma de expressão: na Idade Média, a Igreja tolerava os autos como meio de conversão ao catolicismo, desde que seu conteúdo respeitasse as convenções religiosas; no entanto, condenava-o como comédia popular e os temas profanos. Na peça, três saltimbancos que dizem descender de contemporâneos de Cristo pretendem montar um auto sobre a história do messias. Já um quarto saltimbanco insiste em incrementar a biografia com ocorrências transmitidas oralmente ao longo da história, extra-oficiais, como a ida de Jesus ao Ceará e o período em que foi negro.

Masteclé
Como e por que fazer comédia? É a resposta que procura Masteclé – Tratado Geral da Comédia, uma reunião de conceitos e de divagações sobre o texto e a encenação de natureza cômica. Ao centro do enredo, um professor realiza conferência sobre o tema, resgatando considerações de Aristóteles, Pirandello e Rabelais, entre outros. Ao longo de sua explanação, é seguidamente interrompido por uma série de personagens e por um zelador de teatro. Em cena, o teorizar e o praticar comédia encontram-se cara a cara, ora atritantes, ora complementares. Cenas de outros espetáculos da Fraternal perpassam o espetáculo, como Sacra Folia e Burundanga. Quarta-feira, dia 5, às 20h.

Eh, Turtuvia!
O reencontro das raízes rurais brasileiras e a compreensão da vida como um sem-fim de ciclos orientados pelas estações do ano, com a plantação, a maturação e a colheita em seus devidos lugares, sem a repressão do leva-e-traz urbano. É mais ou menos isso que ilustra Eh, Turtuvia!, a comédia caipira da Fraternal. Um clima de festa junina se instaura nas idas e vindas de quatro caboclos, que vivem entre a roça e a paia, dentro de uma comunidade rural durante os anos 50. Bem como os homens, os santos também são convocados para legitimar o auto, como o Santo Antônio casamenteiro e o São José patrulheiro da estabilidade do plantio. Terça-feira, dia 4, às 20h.




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