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Adesão a algumas vacinas ficam abaixo da meta e preocupa

Imunizações não atingem cobertura preconizada
pelo Ministério da Saúde e especialistas fazem alerta

Vanessa de Oliveira
16/07/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


O índice de adesão a algumas vacinas oferecidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) tem apresentado queda no País e gerado preocupação no Ministério da Saúde. Embora a Pasta declare que a situação é uma “oscilação normal” a cada ano, quase que diariamente o órgão tem usado as redes sociais para fazer alertas sobre a importância das imunizações. Isso porque, também na internet, tem crescido movimentos contra as vacinações (leia mais abaixo).

“A gente tem sinais de baixas coberturas, nada preocupante ainda, mas precisamos pensar nisso antes que se torne alarmante, porque a única doença erradicada no planeta é a varíola, que não tem mais o vírus circulando em lugar nenhum do mundo”, frisou a presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai.

Atualmente são ofertadas no SUS 19 vacinas recomendadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde), com objetivos de imunização que variam de 80% a 95%. Levantamento realizado pelo Diário com as prefeituras demonstra que, em algumas cidades, as metas não foram atingidas no ano passado.

As administrações de São Caetano e de Rio Grande da Serra não passaram informações, e a de Ribeirão Pires disse não ter percentuais da população imunizada das vacinas solicitadas pela reportagem.

Mauá conseguiu atingir a meta na maioria das imunizações. Contudo, um dos destaques que ficou aquém foi a vacina contra a Influenza (gripe), que atingiu cobertura total de 92%, mas não alcançou a meta de 90% em alguns grupos prioritários, como crianças e gestantes. Com 15 mil doses remanescentes, a Prefeitura liberou a vacinação para toda a população na semana passada.

A profissional de RH Ariane Aparecida Negrão, 30 anos, decidiu não levar a filha, de 1 ano e 8 meses, para tomar a vacina contra a gripe. “Achei desnecessário, pois ela é saudável e somente teve gripe quando tomou a vacina, ano passado. Seria mais um sofrimento. Essas vacinas judiam demais, as crianças ficam mal por dias.”

Imunização que teve cobertura ínfima foi a tetra viral (contra sarampo, caxumba, rubéola e varicela), com apenas 0,7% de cobertura. Segundo a Prefeitura, houve falta de doses em 2016, “impactando na diminuição da cobertura vacinal”. O PNI (Programa Nacional de Imunizações) recomenda a proteção das crianças com a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) aos 12 meses de idade (primeira dose) e aos 15 meses com a tetra viral (segunda dose com a varicela).

A vacina contra o HPV (Papilomavírus Humano), que passou a integrar o calendário nacional em 2014, tem meta de 80% de imunização, mas, como divulgado pelo Diário em reportagem de 11 de julho, há dificuldade de pleno êxito na região no público infanto-juvenil que envolve. Outras, como a BCG (previne tuberculose) e Rotavírus (doença diarreica causada por este vírus), têm expectativa de atingir 90% do grupo alvo. Em outros casos, a meta é de 95%, como a de Poliomielite (paralisia infantil), Pentavalente (difteria, tétano, coqueluche, meningite, infecções da Influenza B e hepatite B), Pneumocócica 10 Valente (meningite e pneumonia causada por dez sorotipos dessa bactéria) e Meningocócica conjugada tipo C (meningite meningocócica e doença meningocócica causada pelo sorotipo C da bactéria).

A coordenadora do Programa Nacional de Imunizações, do Ministério da Saúde, Carla Domingues, ressalta que a baixa adesão à vacinação pode implicar na volta de doenças já erradicadas no País. “Pais mais novos não conheceram doenças que eram endêmicas, a exemplo do sarampo, da difteria e da coqueluche, e acham que não há importância da vacinação como se tinha antigamente. Mas ainda temos vírus circulando em outros lugares do mundo e que podem ser trazidos ao Brasil.”

Casos de febre amarela geraram filas nos postos

A vacina contra a febre amarela não faz parte do calendário vacinal da região, sendo indicada somente para pessoas que viajam para áreas endêmicas. Mas, neste ano, as UBSs (Unidades Básicas de Saúde) viram a busca pela imunização elevar expressivamente em razão da quantidade de casos registrados da doença em alguns Estados brasileiros. De janeiro até 3 de julho foram confirmados 797 casos da doença, com 275 mortes no País.

Em 2016, as cidades de Santo André, São Bernardo, Diadema, Mauá e Ribeirão Pires somaram 5.549 doses aplicadas. Já neste ano foram, até o momento, 41.146.

Cenário semelhante foi visto no ano passado, quando casos fatais de Influenza A/H1N1 assombraram a população. No Grande ABC causou a morte de 44 pessoas. A procura pela vacina foi tanta que postos de Saúde ficaram desabastecidos e havia filas quilométricas em clínicas particulares, que comercializavam a aplicação por até R$ 130, mas também sofreram com a falta de doses.

“Em 30 anos na área vacinal, nunca vi na vida nada parecido (a alta busca pela vacina)”, lembrou a presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai.

Neste ano, sem registros fatais da doença, a procura pela vacina contra a gripe foi tão baixa que a meta de 90% de imunização não foi atingida na maior parte da região (somente São Caetano e Rio Grande da Serra alcançaram).

“As pessoas buscam a vacina para ação imediata, mas é preciso tomá-la como forma de precaução futura. É preciso se proteger, não somente no momento em que a doença está circulando”, ressaltou a coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Carla Domingues.

Especialista faz ressalva às vacinas contra a gripe e de combate ao HPV

A diretora de exercício profissional e mercado de trabalho da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, Denize Ornelas, destaca que o Brasil “tem um dos melhores programas de imunização do mundo”, porém, faz ressalva a duas vacinas: a contra a Influenza (gripe) e a destinada ao combate ao HPV (Papilomavírus Humano).

“A vacina da gripe tem baixa eficácia (em torno de 60%) e somente cobre alguns sorotipos do vírus”, disse. “A medida que, por conta do prazo de validade, deve ser aproveitada para dar a quem quer, demonstra a falta de credibilidade da vacina”, completou.<EM>

Já a imunização contra o HPV, segundo ela, “apresenta limitação importante por conta de haver poucos sorotipos relacionados na vacina, enquanto há gama muito grande de vírus circulantes”. “Alguns estudos até questionam se com a diminuição da circulação desses sorotipos protegidos pela vacina outros não aumentariam a frequência e a chance de desenvolvimento do câncer de colo de útero a partir deles. Priorizou-se a introdução da vacina ao invés do esclarecimento em relação às formas de combate ao câncer de colo de útero.”

Movimentos contrários às vacinas crescem na internet

Grupos contra vacinas têm se espalhado pela internet, em blogs e em redes sociais. A discussão envolve supostas reações às vacinas, tais como danos cerebrais e até autismo. No Facebook há pelo menos quatro grupos que somam 17 mil integrantes.

A equipe de reportagem do Diário tentou contato com os administradores desses grupos, mas, o único que aceitou a solicitação de amizade disse que preferia não se expor porque “a mídia adora vacinas”. Segundo o homem, “doenças que as pessoas não tinham começaram a aparecer depois de tomarem a vacina”.

A presidente da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabella Ballalai, afirma que as vacinas “nunca causam prejuízo”. “As pessoas confundem notificação com confirmação de eventos adversos. O indivíduo toma vacina e, um ou dois dias depois, ou meses, aparece com alguma doença grave, crônica, e muitas vezes a relaciona à vacina”, falou. “Cada vez que um evento adverso é notificado, ele é investigado, até para desmistificar que foi a imunização a responsável”. 




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