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GM de São Caetano deve transferir tecnologia para os EUA

Especialistas afirmam que fracasso da matriz americana não preocupa unidades brasileiras

Por Bárbara Ladeia
Michele Loureiro
02/06/2009 | 07:00
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Apesar da tensão internacional, o pedido de concordata da GM (General Motors) dos Estados Unidos não deve afetar os negócios da empresa na unidade de São Caetano e no País. Especialistas acreditam, inclusive, que o Brasil possa se beneficiar com a reestruturação da empresa, exportando tecnologia e mão de obra para a matriz.

O executivo-chefe da GM, Fritz Henderson, afirmou em entrevista coletiva concedida ontem, que os clientes continuam sendo a prioridade da empresa e o momento é de oportunidade. "Embora nossa preferência tenha sido criar uma nova GM por um caminho diferente, o que importa é levar a GM até o destino certo", declarou.

Nos Estados Unidos, a companhia não registra lucro desde 2004, e apenas as operações na América Latina geraram ganhos no primeiro trimestre deste ano. A prioridade deve ser dada aos processos de reestruturação na matriz, onde o ajuste é mais difícil.

"A subsidiária daqui é superavitária. Não há motivos de intervenção da matriz nas operações daqui a não ser para aumento das remessas de lucros", afirmou José Eduardo Balian, professor de Economia da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing).

Balian é um dos que acredita na transferência de tecnologia para a reestruturação do mercado automobilístico norte-americano. "A longo prazo, cerca de cinco anos, poderemos transferir experiências em carros pequenos e médios e, também, veículos bicombustíveis", lembrou.

"O presidente dos EUA, Barack Obama, já anunciou que quer veículos mais econômicos e menos poluentes", reiterou Olivier Girard, diretor de Infraestrutura, Logística e Transporte da Trevisan Consultoria. "A exportação da engenharia e da tecnologia nacional podem beneficiar o Brasil economicamente", concluiu.

A GM do Brasil não se pronunciou sobre a concordata, mas convocou reunião com a imprensa hoje, a fim de apresentar resultados do quadrimestre e definir os rumos da montadora no País.

Trabalhadores de São Caetano podem ser remanejados

Segundo o vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano, Francisco Nunes Rodrigues, cerca de 1.000 engenheiros da GM da região, podem ser transferidos para os Estados Unidos.

"Esta questão já é cogitada há alguns meses e com a concordata, a GM americana vai precisar de profissionais que saibam produzir carros mais baratos e competitivos", destacou o sindicalista. "Mas vamos exigir investimentos em contrapartida, pois não podemos simplesmente perder profissionais e deixar o mercado nacional em apuros", completou.

Para Nunes, a GM de São Caetano pode sentir respingos da concordata americana. "Temos receio de que os compradores percam a confiança na marca e deixem de consumir os carros, isso acarretaria em demissões. Mas, por enquanto, estamos esperando o parecer da montadora, com quem vamos nos reunir na sexta-feira (5)".

O Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos destacou que a GM do Brasil já vem sofrendo efeitos da reestruturação, por meio de demissões dos trabalhadores temporários, abertura de programas de demissão voluntária, aumento do ritmo de trabalho, entre outras medidas.

(Michele Loureiro)

Revendedoras da região não temem queda nas vendas

Para os representantes de concessionárias do Grande ABC, que revendem carros da GM, não há motivos para preocupação.

"As vendas não devem cair. Os consumidores podem estar certos de que a credibilidade da marca continua e que a empresa é consolidada no Brasil, consequentemente, não passará por dificuldades em decorrência da concordata", destacou Marcelo Aparecido de Souza, vendedor da Viamar, grupo com oito concessionárias, três delas na região.

O vendedor afirmou que o mês de maio representou cenário positivo. "Comercializamos cerca de 1.100 automóveis da GM no período, e temos certeza de que com preços mais baixos, por causa da redução do IPI (Imposto Sobre Produto Industrializado) as vendas só aumentarão", relatou Souza.

O comerciante de Diadema, Antônio Garrofo, pesquisava preços dos veículos na tarde de ontem, e afirmou que o mercado externo não vai influenciar em sua decisão. "A GM americana só compartilha do nome da GM do Brasil, mas são realidades distintas, que devem ser encaradas separadamente. Vou adquirir meu carro pelo preço e pela oportunidade, independentemente do cenário americano", disse.

(Michele Loureiro)




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