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'PT perdeu a mística da ética', diz Thame
Beto Silva
Do Diário do Grande ABC
07/09/2009 | 07:16
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O envolvimento de integrantes do PT em alguns escândalos nos últimos anos levou o líder estadual do PSDB, deputado federal Antonio Carlos de Mendes Thame, a afirmar que a legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "perdeu a mística de ser o partido da ética". Em entrevista exclusiva ao Diário, o tucano também rebate as declarações do comandante da executiva paulista do PT, Edinho Silva, o qual frisou que o PSDB "está no seu limite". Mendes Thame observa que os resultados das últimas eleições indicam o contrário. "O PSDB tem 205 prefeitos eleitos no Estado, tem 118 vices, 1.127 vereadores e, portanto, está na administração de praticamente metade das cidades de São Paulo." O dirigente tucano comenta ainda a preparação da sigla para as eleições de 2010. Frisa que os paulistas acreditam e torcem pela candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à Presidência. Mas o assunto não está resolvido. O mandatário de Minas Gerais Aécio Neves não deixou a disputa interna. Diante desse quadro, Mendes Thame não descarta a realização de prévias. "É a única forma civilizada e democrática de se resolver a questão. Mas é a última alternativa." O presidente estadual da legenda reconhece erros na eleição para a Prefeitura de São Paulo, em que dois candidatos da situação disputaram o Paço: Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (DEM). "Foi uma anomalia. Isso nunca mais vai voltar a ser usado." Mendes Thame salienta ainda que "o PT não faz nada" no governo federal, a popularidade de Lula se deve ao seu poder de comunicação e que o inchaço da máquina administrativa feita pela gestão petista é um "recorde negativo". "Teremos sempre uma bola de chumbo amarrada aos pés da economia brasileira."

DIÁRIO - Como o sr. observa as críticas feitas pelo presidente estadual do PT, Edinho Silva, de que o PSDB está no seu limite em São Paulo?
MENDES THAME - Os resultados das últimas eleições indicam o contrário. O PSDB tem 205 prefeitos eleitos no Estado, tem 118 vices, 1.127 vereadores e, portanto, está na administração de praticamente metade das cidades de São Paulo. Se considerarmos os prefeitos de outros partidos apoiados por nós, estamos em 60% dos municípios paulistas. Não há sinal de decadência ou estagnação. Ao contrário: mostra que a forma de administrar do PSDB está condizente, consentânea, com os desejos da população. Por outro lado, o PT fez apenas 63 prefeitos dentre as 645 cidades paulistas.

DIÁRIO - Principalmente as políticas de Saúde também foram atacadas pelo dirigente petista.
MENDES THAME - Na Saúde, o que vem sendo feito é algo que muda estruturalmente o atendimento. Não é mudança cosmética. O reflexo se dá agora e nos anos seguintes. A primeira grande mudança é com relação aos AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) que desafogam os hospitais. A partir disso, cirurgias mais graves podem ser feitas com mais rapidez e as menores são feitas imensamente mais rápidas do que normalmente seriam. Foram feitos 18 neste ano e serão entregues mais dez, e no ano que vem 12, perfazendo 40 AMEs no Estado. Outra mudança é a criação do Instituto do Câncer Octavio Frias de Oliveira, o maior hospital oncológico da América Latina. Em apenas 13 meses de funcionamento teve 100 mil atendimentos. Esse equipamento preenche uma lacuna de atendimento especializado.

DIÁRIO - O PSDB está desde 1995 no comando do governo do Estado. Qual a fórmula: são bons candidatos ou o partido aprendeu a fazer campanha?
MENDES THAME - Acredito que se as ações administrativas não servirem para mudar a vida do povo, tudo vira uma grande farsa. Portanto, notadamente a população nos avalia de uma forma consistente e equilibrada. Escolhe os candidatos e programas que trazem melhoria substancial não só para a atual geração, mas também com a perspectiva de futuro. Mário Covas (governador de São Paulo de 1995 a 2001, quando morreu) fez o saneamento do Estado nos primeiros anos, depois conseguiu recuperar a capacidade de investimento, foi sucedido por Geraldo Alckmin (2001 a 2006), que continuou o trabalho e atualmente com o (José) Serra,está fazendo governo extraordinário. Temos condições de fazer projetos no mesmo nível do governo federal. Somente na parte de infraestrutura, o Estado já investiu o correspondente ao que a União investiu no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no País inteiro. A única forma que se tem de enfrentar o desemprego e não ter uma política anticíclica é fazer investimento. Desde que assumiu, o PT não criou nada novo e vem sendo elogiado por isso. Sempre se temeu que se eleito, o PT iria incluir um fator desagregador na economia, o que não ocorreu. Manteve o que foi conquistado no governo anterior, que reorganizou a economia, debelou a inflação, introduziu normas de responsabilidade fiscal, tirou os esqueletos do armário e introduziu a transparência. O PT não fez nada. Nos programas sociais teve mérito de ampliar, como o Bolsa Família.

DIÁRIO - Há um tabu dentro do PSDB que ninguém fala nada sobre eleição. Por quê?
MENDES THAME - Porque não temos a definição do candidato ao governo do Estado e por uma razão lógica: nosso governador atual é pretendente à Presidência e não temos como definir sua sucessão antes de definir a candidatura ao Planalto. Se definíssemos, seria antecipar os fatos. Temos de esperar.

DIÁRIO - Qual será a participação do Serra nesse processo, já que ele está nas duas pontas (pode ser presidenciável ou tentar a reeleição)?
MENDES THAME - Nós, paulistas, acreditamos e torcemos pela candidatura do Serra à Presidência. Da mesma forma que os mineiros torcem pelo Aécio (Neves, governador de Minas Gerais). Esse é um assunto que será resolvido num acordo, num consenso. E se isso não ocorrer, serão realizadas prévias, que é a única forma civilizada e democrática de se resolver a questão. Mas é a última alternativa. O mesmo se espera em São Paulo. Queremos resolver por consenso.

DIÁRIO - A predileção é para Alckmin ou Aloizio Nunes em São Paulo?
MENDES THAME - É difícil. Seria uma precipitação fazer qualquer comentário. Mas o PSDB estará unido,com honradez, decência, capacidade de gestão e sensibilidade.

DIÁRIO - Nas últimas eleições o partido saiu machucado da disputa interna. Houve erros?
MENDES THAME - As eleições passadas tiveram uma grande novidade. A situação teve dois candidatos, Alckmin pelo PSDB e Gilberto Kassab pelo DEM). Isso é excepcional, uma anomalia. Esse know-how é útil para que nós aprendamos e, imaginamos, que nunca mais vai voltar a ser usado.

DIÁRIO - E como fica o DEM agora?
MENDES THAME - Será nosso parceiro em tudo, tanto a nível federal quanto a estadual. Há uma identidade na forma de administrar e na execução de campanha.

DIÁRIO - Então há possibilidade de indicar os dois vices?
MENDES THAME - Não sei, isso é uma indicação que não passa só pela indicação de vices. Há costuras ao Senado. O fato é que temos grandes chances de ganhar no Estado e também no Brasil, pois estamos em primeiro nas pesquisas. O que também rebate as colocações de que a candidatura (à Presidência) de Marina Silva (PV) é organizada pelo Serra. Eu nunca vi quem está na frente querer outros concorrentes. A entrada dela é vigorosa no processo, que estava sinalizando para uma polarização entre Dilma (Rousseff) e Serra.

DIÁRIO - Muda alguma coisa na estratégia do PSDB ao enfrentar pela primeira vez uma disputa nacional sem a participação do Lula? Haverá esforço para dissociar a figura do Lula à da Dilma?
MENDES THAME - Não vejo como uma preocupação da campanha. Não é uma peça importante no jogo de xadrez. O mais importante será mostrar que temos condições de conduzir bem o País em momentos difíceis que serão os próximos anos. A crise não está debelada. O País não virou uma ilha no meio do infortúnio dos demais países. Diante disso, é normal que a população escolha as pessoas mais competentes para conduzir o País a porto seguro.

DIÁRIO - O presidente Lula invariavelmente interfere no PT, seja direcionando ações de parlamentares, seja indicando candidatos do partido. O PT sobrevive sem o Lula?
MENDES THAME - Todos os partidos sobrevivem. Acho que o PT já se enraizou. Passou por um problema seriíssimo, na gestão anterior, foi ligado ao Mensalão e outros escândalos, passou por grande desgaste. Perdeu a mística de ser o partido da ética. Nem por isso devemos estigmatizar todos seus integrantes. Realmente há pessoas que não correspondem à expectativa de seu eleitorado, decepcionaram muito, mas também tem gente correta que acredita no bem comum. O que caracteriza o governo federal é essa herança desastrosa do aparelhamento do Estado. Os dados mostram que só os gastos com pessoal ultrapassarão 5% do PIB (Produto Interno Bruto). É um recorde negativo com repercussão para meio século. Teremos sempre uma bola de chumbo amarrada aos pés da economia brasileira. Porque esse dinheiro vai ser pago por impostos.

DIÁRIO - A reforma tributária vai estar na pauta da campanha em 2010?
MENDES THAME - O governo vai ter que encontrar forma de exonerar a economia e estimular o setor público. Há sufocamento de tributos. Desde grandes empresas ao pequeno empresário, passando pelo trabalhador. A única reforma digna que ocorreu nos últimos 20 anos foi o Simples, votado por nós. Não fizeram nada para melhorar a vida das pessoas. Só aumentaram tributos, sem melhorar a prestação de serviços.

DIÁRIO - Se o PT não fez nada, como explicar a grande popularidade do presidente Lula?
MENDES THAME - Ele é um grande comunicador, como nunca tivemos na história. Num País presidencialista, uma presidente que tem esse predicado tem vantagem. Mas também não tem grande respeito pela verdade, coloca as coisas como lhe interessa. Por outro lado, o governo atual recebeu do governo anterior um País completamente diferente do que recebemos em 1995 com o Fernando Henrique Cardoso.




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