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Uma noite alucinante
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
11/01/2007 | 20:08
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Há quem confunda museu com gabinete de curiosidades, assim como quem misture historiador com dono de antiquário. De confusão em confusão, o comediante Ben Stiller está à frente de um produto de entretenimento que mistura tudo isso. A comédia infanto-juvenil Uma Noite no Museu pretende fazer crer que o presente pode ser mudado por quem conhece o passado, e um pai pode se redimir perante o filho pré-adolescente. Se esse passado for a história revivida é confusão mesmo.

Ben Stiller especializou-se em humor a partir do sofrimento. Ele “sofre” em Quem Vai Ficar com Mary? e em Entrando Numa Fria. Nada relevante para a arte de atuar. Corrobora para isso o diretor Shawn Levy (do sofrível remake A Pantera Cor-de-Rosa), que desfila clichê sobre clichê.

Portanto, aos adultos, dispensar este filme é uma opção, pois não há nele nenhuma visão dialética do passado que seja aproveitável como crítica do presente. Mas, para os que têm 12 anos ou menos, é até possível encontrar nele alguma diversão – bom lembrar que brincar com os amigos também é uma boa opção neste mês de férias.

Visitas a instituições com objetos antigos, estátuas em cera de figuras históricas ou bichos taxidermizados nem sempre é um programão. Mas, da manga dos roteiristas há sempre uma solução mágica. Assim, Larry (Stiller) tem alucinantes encontros improváveis em seu emprego de vigia noturno logo no primeiro dia, ou noite. Romanos, hunos, vikings, caubóis, animais selvagens, uma ossada de Tiranossauro Rex e estátuas ganham vida.

Larry precisa impressionar seu filho, que não leva muita fé na estabilidade profissional e emocional do pai. Sua última chance é o Museu de História Natural, que tem poucos visitantes e está demitindo vigias diurnos para economizar.

À noite as coisas acontecem, graças a placa mágica de um faraó, exposta há 50 anos, que muda a monotonia vazia das noites no museu. Durante estes anos, do pôr ao nascer do sol, estátuas, esculturas e miniaturas ganharam vida. Agora, atazanam o desavisado vigia – assim como faziam aos ex-ocupantes do posto (os veteranos comediantes Dick Van Dyke e Mickey Rooney e o ator Bill Cobbs).

Como antítese do clássico terror A Noite dos Mortos Vivos, pois não trata de cadáveres revividos, só estátuas, Uma Noite no Museu põe os habitantes da instituição confinados num mundo interior, recriado à imagem superficial daquilo que representam. E subverte a história aqui e ali. Afinal, nada é verossímil neste filme.

Há piadas visuais, como o duelo de tapas entre Larry e o macaco, e a discussão em huno (ou uma língua parecida) entre o vigia e a estátua de Átila, mas é pouco. Robin Williams faz Theodore Roosevelt, presidente dos Estados Unidos e incentivador dos estudos do passado e da preservação ambiental. Não como o historiador brasileiro Sérgio Buarque de Holanda, para quem o passado não daria lições ao presente, mas seria possível procurar na história formas de superá-lo.

UMA NOITE NO MUSEU (Night at the Museum, EUA, 2006). Dir.: Shawn Levy. Com Ben Stiller, Dick Van Dyke, Robin Williams. Estréia nesta sexta-feira na região e circuito paulistano. Duração: 105 min. Classificação etária: Livre.



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