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Identidade indígena é o mote de 'Terra Vermelha'

O diretor nasceu no Chile e a grana da produção, assim como o título original do filme, são italianos

Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
20/10/2008 | 07:00
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O diretor nasceu no Chile e a grana da produção, assim como o título original de Terra Vermelha, são italianos. Mas a temática do filme que abriu a 32ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (será exibido ainda nesta terça-feira, às 18h10, na Reserva Cultural e no dia 29, às 20h, no Cine Bombril) não poderia ser mais brasileira: o conflito de fazendeiros e índios por terras no interior do País. Além de um rastro de sangue, a disputa tem acarretado no progressivo desaparecimento das tradições indígenas, pouquíssimo valorizadas no contexto cultural.

Ao apontar a câmera para esse aspecto da formação do povo brasileiro, o cineasta Marco Bechis chamou a atenção do público em sua estréia no Festival de Veneza deste ano, considerado fraquíssimo. Apesar de tanto buchicho - sobrou até cobrança internacional para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -, a crítica do maior evento cinematográfico da Itália, onde o diretor se radicou há vários anos, acabou esnobando o longa-metragem.

Mas por que um ítalo-chileno escolheu fazer um filme aparentemente tão distante de sua trajetória? Bechis, 53 anos, tem um pé no Brasil: foi criado entre São Paulo e Buenos Aires. Durante a ditadura militar na América Latina foi perseguido e se exilou em Milão. Essas referências estão presentes no filme: o elenco mistura italianos (Chiara Caselli), brasileiros profissionais (os atores Matheus Nachtergaele e Leonardo Medeiros e o roteirista Luiz Bolognesi, de Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade) e outros recrutados na própria comunidade indígena no Mato Grosso do Sul, onde as filmagens ocorreram.

Foi justamente a participação dos índios guarani-caiowá - representando quase que eles mesmos sob outros nomes, que emocionou as platéias do festival italiano. Eliane Juca da Silva, que interpreta Mami, fez um discurso em que dimensionou a falta de espaço que a população indígena tem no País. "Os fazendeiros pensam que somos invasores", disse na estréia em Veneza, em setembro.

Bechis não teve a pretensão de se posicionar como especialista na questão indígena, apesar de admitir em suas entrevistas o quão a situação o incomodava. Sua lente reflete uma crítica ácida ao grande deslocamento da diminuta população indígena nas chamadas reservas: por vezes, são obrigados a ser portar como personagens exóticos.

O roteiro explora esse desespero no suicídio de duas índias, ponto de partida para a decisão da comunidade guarani-caiowá de voltar os olhos para seu patrimônio cultural, que se baseia quase integralmente nas terras que disputam com os latifundiários. O drama dos dois mundos se estabelece quando um jovem índio se apaixona pela filha do fazendeiro.




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