Economia Titulo Pós-pandemia
Home office é realidade para trabalhadores de call center

Na região, cerca de 60% dos funcionários dessas empresas seguem trabalhando de casa

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
06/12/2020 | 07:00
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Arquivo pessoal


Em tempos de Covid-19, o home office vem sendo adotado em diversos setores e pode ser implantado definitivamente após a pandemia. Na última semana, a Tim anunciou que vai deixar 1.500 funcionários da unidade de call center, localizada em Santo André, trabalhando de casa. Na região, essa é a realidade da maioria dos trabalhadores de teleatendimento, já que 60% estão atuando no mesmo esquema.

De acordo com o vice-presidente do Sintetel (Sindicato dos Trabalhadores em Telecomunicações), Mauro Cava de Britto, na região há 18 mil trabalhadores no setor. Segundo ele, no início da pandemia a Tim foi uma das empresas que mais se preocupou com o afastamento dos funcionários para a garantia da saúde. “Nós celebramos acordo que possui 100 cláusulas, sendo mais de 40 relacionadas ao teletrabalho.”

Porém, segundo ele, o sindicato não pretende encerrar o assunto dessa forma e quer estabelecer diálogo com a empresa pela continuidade da unidade física no pós-pandemia. “Quando se fala em home office definitivo, se abre possibilidade de contratar até trabalhadores de outros Estados. Para nós, é importante ter o trabalhador na região, para consumir e gerar receita aqui. Pretendemos discutir a questão do home office híbrido, com a volta de alguns dias na semana, por exemplo”, disse Britto.

O espaço no bairro Homero Thon é alugado, mas a Tim afirmou que modelo de trabalho remoto prevê 15% de espaço para atendimento presencial quando a pandemia acabar.

IMPACTO
Uma das preocupações do sindicalista é a movimentação da economia no entorno. Para os comerciantes do local, os funcionários, que estão entre os principais clientes e frequentadores, estão fazendo falta.

Silvio Santos, 49 anos, é viúvo e pai de dois filhos. Há três anos e meio, montou barraca de lanches em frente à unidade. “A gente fica sem saber o que fazer, porque aqui é o meu sustento”, contou. Segundo ele, desde o início da pandemia, quando os funcionários da Tim entraram em home office, o movimento caiu até 70%. “Aqui ao redor também temos prédios comerciais, onde as pessoas estão trabalhando em casa. Mas, a Tim era o meu principal cliente”, disse. “Mesmo assim, não penso em sair. Tenho esperança numa revitalização do projeto da Estação Pirelli.”

O comerciante José Cistino, 57, também possui negócio que realiza serviços como assessoria no trânsito (licenciamento e transferência de veículos) e cópias. “Por enquanto, está tudo parado. Além da Tim, tínhamos fluxo bom das pessoas que iam até o Poupatempo e agora estão em menor número. Meu movimento caiu praticamente 90%.”

O Atrium Shopping, que fica em frente à Tim, afirmou que “a pandemia trouxe novos meios de trabalho para todos os segmentos”. “O comércio se reinventou, assim como as operações de alimentação e os escritórios, e tivemos resultados positivos. Temos ciência desses novos tempos e acreditamos que o empreendimento com suas promoções, como a do Natal, atrairá o público, assim como outras empresas no entorno que também frequentam o shopping”, informou.

A Tim esclareceu que a decisão de manter o call center próprio em home office permanente não foi tomada para reduzir custos. “O projeto contou com piloto em 2019, que envolvia 40 consultores de atendimento. A chegada do novo coronavírus acelerou a iniciativa e, por conta dos resultados positivos, a empresa optou por manter esse grupo de profissionais atuando de casa permanentemente, contando com suportes estrutural e comportamental.” Apesar disso, a empresa não descartou a implementação de modelo de trabalho híbrido, em estudo (leia abaixo).

A Prefeitura de Santo André informou que a empresa faz parte da rede do Parque Tecnológico da cidade e está em contato com a administração. “A questão foi informada pela empresa e a Prefeitura acompanha os desdobramentos, buscando fortalecer a atuação da empresa na região”, informou, em nota.

Coronavírus quebrou barreiras do trabalho remoto
Para especialista, a pandemia quebrou barreiras em relação a empresas que ainda tinham dúvida em utilizar o trabalho remoto. Segundo ele, a tendência já existia, mas agora teve a implantação acelerada.

Para o coordenador de estudos do Observatório Econômico da Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio, a questão dos custos da empresa também acaba sendo impactada com o home office, já que a modalidade “não exige uma estrutura física para abrigar funcionários. Eles conseguem fazer todo o trabalho nas suas residências”, disse.

Com a implantação do trabalho remoto, Maskio cita que há mudança no padrão de consumo desses funcionários. “Todas as ações econômicas têm ganhadores e perdedores e, infelizmente, neste caso, os comércios do entorno são os que mais perdem nessa transação, sem o fluxo de pessoas circulando.”

A Atento, uma das maiores operadoras do setor e responsável por mais de 70 mil empregos no Brasil, sendo 8.000 no Grande ABC, implementou a ferramenta em metade do contingente das unidades. Até o momento, em todo o País, cerca de 37 mil colaboradores foram direcionados para o trabalho remoto ou afastamento momentâneo de suas atividades. “Nas unidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano, 50% dos funcionários trabalham em home office atualmente. Estas medidas contribuíram para a implementação de um maior espaçamento entre os profissionais em 100% dos sites”, informou a empresa. por meio de nota.

Nas unidades, foram intensificadas as rotinas de limpeza e higienização, principalmente nos pontos de maior contato. Há disponibilização de álcool em gel, máscara e placas de acrílico nas mesas como divisórias. Questionada, a empresa não se manifestou sobre a possibilidade de implementar o trabalho remoto definitivo.

Adaptação depende de cada funcionário
A Tim informou que desenvolveu pesquisas com os funcionários para a manutenção do home office. Isso porque depende muito do perfil de cada um e das condições da casa para a adaptação.

A operadora de telefonia afirmou que, com base nos resultados, abriu a possibilidade de retomada das atividades presenciais em alguns escritórios no mês de setembro, e agora, novamente a empresa está perguntando aos funcionários sobre suas preferências, para um possível retorno a partir de janeiro de 2021.

A empresa reafirmou que não há previsão de retorno presencial de todo o quadro nesse momento e que, por enquanto, a escolha é individual. “Para o futuro, considerando o ‘novo normal’, quando houver a vacina contra a Covid-19, a Tim já estuda a implementação de modelo de trabalho híbrido, mesclando interações presenciais e home office”, informou, em nota.

Um dos profissionais que se adaptou à nova rotina foi o técnico mecatrônico Renan Amorin do Nascimento, 23 anos, que mora na Vila Guarani, Capital. Em janeiro, ele faz três anos de empresa. “Para mim é 100% positivo. No início da pandemia, temia pela qualidade do atendimento porque é necessário haver silêncio no ambiente. Mas, a medida em que a empresa nos apoiou com a entrega de todo o equipamento necessário para o trabalho, fui ficando mais seguro. Outro fator positivo é ter minha filha sempre perto de mim, e eu consigo me desconectar do trabalho com mais rapidez. O ponto negativo é a impossibilidade de interagir com os colegas de trabalho.”

Ele gastava duas horas do seu dia no trânsito.“Os meses de abril e maio foram exaustivos, confesso, porque estávamos todos trocando as ‘rodas do carro em movimento’. Mas, hoje em dia, que tudo está habituado, consigo descansar, manter minhas responsabilidades de forma mais organizada e percebo que consigo desenvolver minhas atividades melhor em casa que na empresa”, justificou.




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