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Pandemia atinge em cheio os dissídios no Grande ABC

Até outubro, só 23,9% dos reajustes foram superiores à inflação; em 2019, eram 46,5%

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
02/12/2020 | 00:04
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Pixabay


A pandemia do novo coronavírus atingiu em cheio os dissídios dos trabalhadores do Grande ABC neste ano. Entre 1º de janeiro e 31 de outubro foram registrados 113 reajustes salariais, volume 28% menor do que o obtido no mesmo período de 2019, quando houve 158 acordos na região. Além disso, o total dos que tiveram rendimentos corrigidos acima da inflação, ou seja, com ganho real, caiu pela metade. No ano passado, eram 46,8% e, neste, 23,4%.

Os dados foram levantados a pedido do Diário pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos).

Quando comparados os dados das sete cidades com os da média do País, também se nota que o Grande ABC vem sofrendo mais com a crise decorrente da Covid-19. No Brasil, apesar de o número de acordos ter caído 32%, do total, 41% conseguiram reajustes acima da inflação.

“Com a pandemia, muitas empresas deixaram de fazer acordo salarial em sua respectiva data-base. Com a quarentena, a demanda foi retraída, e muitas fábricas interromperam a produção e, outras, acabaram fechando as portas”, avalia Luis Ribeiro, técnico do banco de dados de negociação coletiva do Dieese. “Pelo fato de concentrar mais indústrias, que sofreram maior impacto da crise, as negociações na região foram mais difíceis do que no restante do País.”

Dos 113 acordos, apenas 27 ficaram acima do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) e tiveram a reposição da inflação mais um ganho real de até 3,28% – o percentual total varia conforme o mês da data-base e, consequentemente, de quanto o INPC acumulou até aquele período. Em abril, início da pandemia, foi a 3,31% e, em junho, caiu a 2,05% mas, em outubro, estava em 4,77%.

Segundo Ribeiro, os setores que conquistaram melhores condições na região foram os da alimentação, que têm registrado aumento na demanda durante a pandemia, além de serviços de contabilidade.

A maioria dos dissídios do Grande ABC, 57 negociações ou 50,4% do total, teve somente a reposição da inflação – em 2019 foram 36,1%. Segmentos como a construção civil e setor mobiliário, além de comércios, a exemplo de panificadoras, tiveram a correção pelo INPC.

O técnico do Dieese explica que importante categoria no Grande ABC, os metalúrgicos não integram o levantamento porque é preciso realizar registro junto ao sistema mediador do Ministério da Economia e os acordos já realizados ainda não foram cadastrados. No entanto, ele cita que, de oito dissídios consultados, apenas um obteve aumento real; os demais, só a inflação.

Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, cuja data-base foi em setembro, de nove grupos de trabalhadores, oito obtiveram correção pelo INPC e um ainda não finalizou negociação. Quanto às montadoras, que têm acordos individuais, a prioridade foi garantir a estabilidade dos empregos, em vez de ter aumento real, como ocorre tradicionalmente, além da manutenção das cláusulas sociais. Os sindicatos dos metalúrgicos de Santo André e Mauá e São Caetano também não entram porque têm datas-bases em novembro.

CRISE

As dificuldades financeiras trazidas pela Covid-19 deixaram 29 acordos ou 25,7% abaixo da inflação em até 0,8%, caso do ramo de embalagens. No ano passado, foram 17,1%. Outro ponto destacado por Ribeiro é que algumas categorias postergaram as negociações na região, caso do ramo da educação privada, fortemente impactado pela pandemia.

Para 2021, o especialista vê cenário incerto, uma vez que a economia pode encolher até 4% neste ano, há risco de segunda onda do novo coronavírus e o auxílio emergencial está em seu último mês, sem previsão de ser continuado. “Se a economia não reagir, pode ficar difícil para mais categorias conseguirem apenas repor a inflação, e, com menos dinheiro circulando e o desemprego aumentando, a crise tende a se agravar”, sentencia.
 




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