Política Titulo Alvaro Dias
‘Erros do governo Temer não podem inocentar falhas na gestão de Dilma’, diz Alvaro Dias
Júnior Carvalho
Do Diário do Grande ABC
27/06/2016 | 07:42
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Divulgação


Ex-líder da oposição no Senado e um dos defensores ferrenhos do impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o senador Alvaro Dias (ex-PSDB, hoje no PV) avalia que o afastamento da petista é irreversível. Em entrevista exclusiva ao Diário, o ex-tucano acusa o governo interino do vice-presidente Michel Temer (PMDB) de preservar o “pecado original” que ajudou a derrubar o governo petista. Segundo o parlamentar, Temer manteve o “balcão de negócios” para garantir apoio ao Planalto no Congresso Nacional. Dias destaca, contudo, que eventuais erros da gestão do peemedebista não podem servir como argumento para apoiar a volta de Dilma. “A manutenção do balcão de negócios na composição do governo foi o pecado original. Mas isso não pode funcionar como uma sentença de absolvição para a presidente Dilma. Na eventualidade de o governo Temer não ir bem, isso não significa que Dilma deva voltar. Seu afastamento não se dá em consequência do que o Temer faz, mas do que ela fez de errado”. O verde também falou sobre a Operação Lava Jato e possível candidatura à Presidência da República em 2018.

Por que o sr. trocou o PSDB pelo PV?
Foi um movimento próprio da inquietude. O desejo de ser mais útil. Busquei uma ferramenta política que pudesse ser manejada com independência, com a ousadia de sempre. E havia limitações no PSDB. Os espaços (estavam) mais ocupados e o PV me dá essa oportunidade de espaço mais ampliado para atuação política de maior veemência. O PV é um partido que se diferencia pelas causas que defende, em primeiro lugar que são causas imprescindíveis. Acho que o País está desesperadamente aguardando por mudança. Quando a população foi às ruas não foi apenas pedir mudanças de um presidente por outro por meio do impeachment. Foram (pedir) transformações, mudanças que devam chegar à política, sobretudo no que diz respeito à cultura política vigente no País, o modelo de gestão. E o PV é ferramenta política que proporciona esse debate.

Esse espaço passa por candidatura à Presidência em 2018?
Tenho constrangimento de abordar essa questão agora porque o País está focado no processo do impeachment e na Operação Lava Jato. Soaria talvez como oportunismo se eu defendesse nesta hora o anúncio de qualquer candidatura pelo PV.

Mas o sr. não descarta?
Acho que no momento adequado o partido discutirá isso. O que importa dizer é que o PV, por tradição, procura ser alternativa. E isso já se repetiu em várias eleições e certamente vai repetir nesta (em 2018). Até por respeito ao partido eu devo aguardar o momento adequado para que democraticamente o partido decida sobre a sua candidatura. Obviamente se eu for convocado não me recusarei a aceitar a missão, mas acho que o partido merece esse respeito de aguardar o momento para uma escolha democrática.

O sr. acredita em culpa da oposição, do PSDB, por impulsionar a crise política?
O equívoco histórico da oposição e do PSDB foi não pedir o impeachment do então presidente Lula, em 2005. Esse foi o grande equívoco histórico. As coisas teriam sido diferentes. Em 2005, eu isoladamente pedi (o impeachment) e fiquei só. Não teríamos essa tragédia política que se abateu sobre o Brasil se a oposição tivesse adotado essa providência em 2005. Depois disso, acusar a oposição só se for de raquitismo, porque ela se tornou numericamente insignificante. É a menor oposição da nossa história, por causa deste modelo de governança que foi adotado da cooptação geral das forças políticas. O que se viu no Brasil foi a adesão de forma absoluta. O adesismo fisiológico prevaleceu e a oposição foi reduzida numericamente à insignificância. Portanto, ela não pode ser responsabilizada pelos desatinos praticados pelo governo. Poucos fizeram oposição com ousadia. Poucos puderam combater com veemência os escândalos de corrupção. O que prevaleceu foi esse modelo, do balcão de negócios, o aparelhamento do Estado, o loteamento dos cargos, a relação promíscua entre os poderes. Uma usina de escândalos de corrupção e a matriz dos governos corruptos e incompetentes. Esse episódio eleitoral é secundário.

Essa conjuntura não continua presente no governo interino de Michel Temer? Em um mês de gestão, três ministros caíram por envolvimento na Lava Jato...
Eu tenho criticado a composição do governo atual, até porque o nosso partido, o PV, adotou postura de independência. Podemos criticar os erros e apoiar os acertos. Esse foi o pecado original. Ou seja, a manutenção do balcão de negócios na composição do governo. Mas isso não pode funcionar como uma sentença de absolvição judicial para a presidente Dilma. Na eventualidade de o governo Temer não ir bem, isso não significa que a Dilma deva retornar, porque o afastamento se dá não em consequência do que o Temer faz, mas do que ela fez de errado.

Há agenda alternativa aos dois governos, como nova eleição?
Não há agenda alternativa. Temos de cumprir o rito legal da Constituição Federal. Nós teríamos novas eleições se houvesse renúncia de Dilma e Temer ou se o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) julgasse pela cassação de ambos. E não ocorreu nem uma coisa nem outra e não ocorrerá provavelmente. O impeachment ocorrerá em meados de agosto e lá já estaremos no processo eleitoral (municipal). Existe essa pregação de fazer plebiscito nas eleições, mas como fazer se o impeachment se findará lá por agosto? Então não há essa possibilidade. O que nós temos de factível é a confirmação do impeachment e a manutenção do presidente Temer até o fim da gestão.

Mesmo o governo sendo alvo da Lava Jato?
Os ministros que estão sendo atingidos estão sendo afastados. E isso evidentemente não é bom, mas não implica em perda de mandato da parte do presidente. Se houvesse algo frontalmente contra o presidente... Ele foi citado (em delação premiada), mas elas precisam ser acolhidas com certa prudência. Nessas delações existem verdades absolutas, meias verdades e mentiras escancaradas. É preciso distinguir bem.

A oposição não demorou para deixar de apoiar o Eduardo Cunha (PMDB-RJ)?
Sim, cometeu erros. Essa autocrítica tem de ser feita. Fez porque fez, agora é difícil entender porque fez. Eu nunca concordei. Se formos buscar aí na internet, vamos encontrar um vídeo em que eu dizia que Dilma, Cunha e Lula estão de um lado do balcão e nós estamos do outro lado. Os dissidentes são bem-vindos, mas devem ficar no seu espaço. Essa era uma posição pessoal que, inclusive, se contrapunha à posição oficial do PSDB. Foi uma das razões que me fizeram buscar uma alternativa (partidária).

O sr. afirmou que a comissão do impeachment era apenas formalidade. Essa posição, somada aos vazamentos de áudios em que líderes do PMDB sugerem ser necessária a troca de governo para estancar a Lava Jato, não fortalece a tese de que o impeachment era carta marcada?
É evidente que a memória não tem longo alcance das pessoas que não acompanham o dia a dia. Mas nós não tivemos apenas um pedido de impeachment protocolado, foram mais de 50 pedidos. O Eduardo Cunha, por razões óbvias, acolheu apenas uma parcela de um dos pedidos do impeachment, o que diz respeito às pedaladas fiscais e aos decretos e excluiu os crimes da Operação Lava Jato, além dos crimes eleitorais. Nós poderíamos estar hoje avaliando o impeachment com uma seleção de crimes, no entanto, estamos restritos ao crime de responsabilidade através das pedaladas e dos decretos editados sem autorização do Congresso. Mas eles são suficientes juridicamente. Trata-se, entretanto, de uma decisão política. E em uma decisão assim, tendo a sustentação jurídica que temos, nós podemos receber a influência política dos outros crimes não constantes nos autos. Não é golpe porque é constitucional, porque houve crime de responsabilidade. As pedaladas foram julgadas (irregulares) pelo TCU (Tribunal de Contas da União) tecnicamente. E o tribunal é Corte qualificada que não pode ser contestada desrespeitosamente.

Parlamentares encararam os pedidos de prisão do ex-presidente José Sarney, de Cunha e de Renan Calheiros como exagero do procurador-geral Rodrigo Janot. O sr. vê exagero na Lava Jato?
Vejo é a consolidação de instituições sólidas, que readquirem respeitabilidade no País. Aliás, elas começaram a mudar a partir da mudança que começou nas ruas. A população mudou primeiro, recuperando sua capacidade de indignação e de exigência. Foi a partir disso que o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça passaram a agir. Portanto, são instituições que reabilitam as esperanças da população no futuro do País. Equívocos são perfeitamente compreensíveis, pois é um momento complexo de tensão e nervosismo e de urgência. Mas eles não podem ser considerados suficientes para a condenação dessas instituições. De modo geral, elas estão agindo de forma a atender as expectativas da sociedade. A Lava Jato tem de continuar, é irreversível e certamente concluirá seu trabalho de forma objetiva, proporcionando uma mudança radical no Brasil. Muda o cenário político. Ou os políticos mudam ou serão atropelados por essa exigência de mudança que é irreversível.  




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