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Carteiros destacam desafios da profissão
Matheus Angioleto
Especial para o Diário
29/01/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Acordar às 4h20, tomar banho e café e correr para conseguir entrar no primeiro ônibus, às 4h45. Usar o trem e mais um coletivo para chegar à unidade de distribuição dos Correios, em São Bernardo, às 7h20. Essa é a rotina de Reginaldo Marcos Romeiro, o Guerreiro, 48 anos, que há 25 anos exerce a função de carteiro, profissão comemorada em janeiro.

Ao longo de 40 minutos de caminhada pelo Rudge Ramos, em São Bernardo, ao lado do carteiro, a equipe do Diário conseguiu sentir um pouquinho das dificuldades enfrentadas pelo morador de Ribeirão Pires durante o exercício da profissão, pela qual é apaixonado. Diariamente, ele carrega dez quilos de cartas.

Romeiro revela que a escolha pela carreira ocorreu por acaso, no início dos anos 1990, em período em que estava descontente no emprego antigo. “Ao observar um carteiro na rua, me perguntei o que era um correio. Acordei de madrugada pensando sobre o assunto e prometi que iria descobrir”, afirmou.

Bastaram nove meses de trabalho em caráter temporário no bairro do Jaguaré, na Zona Oeste de São Paulo, para que a jornada de um quarto de século como carteiro tivesse início. Depois de ser aprovado em concurso público, em 1992 Guerreiro finalmente se encontrou profissionalmente. O carteiro se orgulha de ter conquistado casa, carro e também de ter viajado para Roraima pela empresa.

Conforme Guerreiro, o considerado melhor amigo do homem é o único terror na vida dos carteiros. Ele já chegou a ser mordido por um cachorro na véspera de Natal, o que o obrigou a ir para o hospital, receber vacina e a “ficar de castigo em casa”.

Orgulho da família, Guerreiro foi, em 2015, o vencedor do Prêmio Carteiro Nota 10, que homenageia o melhor entre 10 mil profissionais da Grande São Paulo. Surpreso com o reconhecimento, ele destaca que tenta sempre “fazer o seu melhor”. “É um orgulho saber que o cliente está contente com o trabalho”, diz ele, que já atuou por 11 anos em Diadema e, nos últimos 14, cobre a região do Rudge Ramos, em São Bernardo.

A rotina de trabalho é realizada de segunda a sexta-feira, das 7h20 às 16h20, e aos sábados, das 7h30 às 11h30. Entre as tarefas desempenhadas estão a checagem da distribuição por distrito, conferência das cartas separadas pela triagem, revisão dos CEPs e organização dos pacotes a serem carregados para distribuição durante o longo e cansativo período de caminhada.

“Trabalharei aqui até quando a empresa permitir. Até quando a empresa disser que chega e que não me quer mais”, afirma Guerreiro. O principal desejo do carteiro é se aposentar na profissão. Para isso, ele revela manter a força de vontade em dia, além de também desempenhar ações voluntárias junto aos outros funcionários, seja com orientações ou conversas.

O profissional exemplar mostra orgulho também por, durante toda a carreira, ter se ausentado do trabalho por apenas quatro horas no início da jornada, ação justificada por atestado médico. “Brinco que estou no período de experiência de três em três meses. Nisso já são 25 anos de trabalho e ainda não aprendi nada”, brinca.<EM>

A tecnologia também chegou na vida dos carteiros, por meio dos smartphones. Eles são usados para facilitar a vida dos profissionais no dia a dia. Ao fazer uma entrega, é possível tirar uma foto, enviar para a central e, logo depois, a informação já aparece no sistema. O processo, segundo Guerreiro, facilita o trabalho, principalmente nos dias de chuva, quando as listagens de entrega ficavam molhadas.

Depois de 25 anos de profissão, ele revela que mantém o espírito de agradecer pelas conquistas diárias. Hoje, parte do fruto do trabalho duro e responsável de Guerreiro tem como destino o custeio da faculdade da filha, que aos 17 anos sonha com o Ensino Superior que o pai não pôde cursar. “Até já pensei em fazer faculdade, mas vou deixar meus investimentos para ela, que está crescendo e pode ter dificuldades no mercado de trabalho”, afirma.

Equipe dos Correios na região tem 65 mulheres

Sandra Moura Borges Lima, 33 anos, é uma das 65 mulheres que fazem parte da equipe de carteiros dos Correios no Grande ABC. Após concurso, ela conseguiu entrar na profissão em 2009 e, desde 2011, trabalha na região. Ela destaca ter ignorado o discurso de que a rotina é ‘pesada’ para o público feminino.

“Quando entrei, falei que quem quer trabalhar enfrenta qualquer situação”, afirma em relação ao peso das correspondências e aos percursos longos a serem percorridos a pé. “Não é o tempo que vou andar, nem o peso (que a mantém na profissão), é a troca que você tem. Muitas vezes, a gente acaba sendo psicólogo, é um trabalho de formiga”, destaca ao brincar que as caminhadas ajudam a manter a forma física.

A profissional também cita as amizades que fez durante a carreira e considera que o trabalho é destinado àquelas pessoas com facilidade de diálogo. “Esse trabalho é tudo, é a minha vida. Tudo o que eu obtive foi por meio da empresa. Brinco que a empresa não é uma mãe, é uma avó”. Além de conquistar uma casa e um carro, Sandra destaca a ajuda que recebe em relação aos filhos. Para a mais velha, 10, que tem paralisia cerebral, ela ressalta a ajuda com o custeio de tratamentos e exames, enquanto para o mais novo, 3, existe o auxílio creche. (MA) 




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