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Matou, paga. E a Espanha vai cobrar

Um senhor foi preso durante a ditadura, em SP, suspeito de participação em terrorismo (o que nunca se comprovou) e poucos dias depois estava morto

Por Carlos Brickmann
31/08/2008 | 00:00
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É um episódio trágico, como tantos: um senhor foi preso durante a ditadura, em São Paulo, suspeito de participação em terrorismo (o que nunca se comprovou) e poucos dias depois estava morto. Seus ossos, sepultados no Cemitério de Perus, foram identificados neste ano. A prisão ocorreu em 9 de outubro de 1973: pela Lei da Anistia, quem o matou (e provavelmente torturou) está perdoado.

O problema é que Miguel Sabat Nuet, a vítima, é espanhol. E a Justiça espanhola não só pode emitir ordem internacional de prisão para o diretor do Dops (Departamento de Ordem Política e Social), à época, como já demonstrou que está disposta a fazê-lo.

Ele não seria preso no Brasil, mas não poderia deixar o País sem risco de prisão. Isso já aconteceu - por exemplo, o ex-ditador chileno Augusto Pinochet foi preso na Inglaterra, por ordem da Justiça da Espanha. A ordem de prisão pode ser estendida aos principais, digamos, executivos do Dops. Será uma confusão imensa, pondo de novo em discussão da Lei da Anistia.

Fora isso, a família de Miguel Sabat Nuet aguarda que o governo brasileiro lhe entregue os ossos, o que equivale ao reconhecimento de que o preso morreu sob sua guarda. Pedirá então uma indenização, cujo valor se baseará no montante pago pelo Tesouro a perseguidos políticos da época da ditadura. Há dois tipos de indenização: uma que é paga de uma só vez e outra, devida mensalmente. Pode haver acumulação, ou seja, uma quantia de uma só vez, mais mensalidades. Mas o importante não é a indenização: é o caso criminal. Pode ir longe.

A LAGOSTA DE BANGU
Não dá para entender o governo federal: a Secretaria Especial da Pesca está promovendo uma campanha de incentivo ao consumo de pescado em todo o Brasil, e o governo faz escândalo porque o ex-banqueiro Salvatore Cacciola, detido em Bangu 8, teria comido lagosta. Ué, Bangu 8 faz parte do Brasil! Mas toda a história é bobagem: o escândalo só surgiu agora porque um habeas-corpus de Cacciola está sendo julgado pelo Superior Tribunal de Justiça.

A TRUTA DE BRASÍLIA
O grande escândalo dos últimos dias está passando batido: foi a confirmação pelo Senado de uma nova diretora da Anatel, com a missão específica de aprovar a mudança de normas que permitirá a compra da Brasil Telecom pela Oi. A compra já foi feita, os bancos oficiais já abriram linhas de crédito, mesmo estando tudo fora da lei; e a coisa chegou a tal ponto que se diz abertamente que o negócio depende apenas das modificações legais para ser fechado de vez.

JOGO JOGADO
A disputa paulistana, com três candidatos principais - Marta, Alckmin, Kassab - lembra muito a eleição estadual de São Paulo de 1986, também com três candidatos: Antônio Ermírio, Maluf e Quércia. Antônio Ermírio saiu na frente, seguido à distância por Maluf e, em terceiro, subindo lentamente, Quércia. Quércia dizia que o adversário não era Antônio Ermírio, o líder, mas Maluf: quando Maluf fosse alcançado, iriam buscar Antônio Ermírio. E ganhou a eleição.

JOGO A JOGAR
Tudo indica que seja esta a estratégia de Kassab: encostar em Alckmin, tomar-lhe o ‘voto útil' de quem só quer derrotar o PT, e aí desafiar a líder. Marta lidera com ampla margem, mas também enfrenta alta taxa de rejeição. Tudo indica que a campanha ganhará muita movimentação a partir deste fim de semana.

JOGO SEM CARTAS
O presidente Lula já se acostumou a perder eleições em seu berço político, São Bernardo. Foram três em seguida, no primeiro turno, sempre para alianças articuladas pelo hoje prefeito William Dib. Desta vez, Lula quer mudar o jogo: empenha-se pessoalmente na campanha do petista Luiz Marinho, que perde nas pesquisas para Orlando Morando. E está exagerando um pouco. Ontem, lançou a pedra fundamental da Universidade Federal do ABC, em São Bernardo, sem se lembrar de que a licitação da obra está suspensa por problemas jurídicos. A UFABC, aliás, não tem nem projeto arquitetônico. Só nome e pedra fundamental.

FORA DO BARALHO
O PT de São Caetano, que nas pesquisas está lá embaixo (o atual prefeito, José Auricchio, surge com maioria absoluta), tenta ganhar fora das urnas: quis cassar o favorito, acusando-o de promover com fins eleitorais a tradicional Festa Italiana, realizada na mesma época há quase vinte anos. A Justiça negou o pedido da coligação petista: ganhar as eleições, só mesmo nas urnas.

BOI DORMINDO
Não dê importância à foto do celular do ministro da Defesa, Nelson Jobim, que registra uma reunião com o "ministro José Dirceu". Faz parte das boas maneiras tratar um político pelo cargo mais alto que já ocupou. É só isso.




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