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No dia do idoso, são-caetanense comemora vitória contra Covid

Donato Santos, 84 anos, superou a doença após várias complicações; especialista vê sobreviventes como privilegiados

Arthur Gandini
Especial para o Diário
01/10/2021 | 05:10
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André Henriques/ DGABC


Donato dos Santos, 84 anos, foi infectado pelo coronavírus no ano passado e por muito pouco não se somou aos 752 idosos que foram vitimados pela Covid-19 em São Caetano. Ele foi entubado por duas vezes, chegou a não responder mais aos medicamentos e a ter o quadro declarado como praticamente irreversível. Contraiu uma superbactéria na internação e desenvolveu úlcera na perna. Sobreviveu devido ao trabalho dos médicos, ao auxílio da família – seis filhas atuam na área da saúde – e graças à sua força de vontade e fé. Hoje, quando é celebrado o Dia Mundial do Idoso, a história de superação de Santos serve de motivação para outras pessoas da faixa etária que superaram o novo coronavírus.

O morador de São Caetano costumava ter uma rotina bem ativa para a sua idade. Alfaiate, acordava por volta das 4h, pegava ônibus e ia ao bairro do Brás, na Capital, comprar materiais para trabalhar ao longo do dia. Na pandemia, foi obrigado a ficar isolado em casa. Recebeu alta do hospital em julho do ano passado, com anemia profunda, sequelas na visão, na coordenação motora, nos pulmões, com trombose e dependente para comer e fazer as necessidades. Os médicos esperavam até 8 meses para a sua recuperação, mas Santos reduziu o tempo para três meses. Hoje ele se locomove novamente sem o auxílio da bengala. “Devemos confiar nas pessoas. Comigo é assim, já deu tudo certo. Vamos confiar em Deus”, afirma ele otimista, em uma mensagem a outros idosos que se curaram da Covid-19 e agora precisam seguir com a vida.

Especialistas afirmam que, na vida pós-Covid, é fundamental que as pessoas da terceira idade sejam estimuladas ao retorno ao ambiente social, mas sem abandonar os cuidados médicos e a cautela com a crise sanitária. “Com a melhora da pandemia, o retorno do ambiente social é de extrema importância. Com todos os cuidados e seguindo os protocolos recomendados, a reconexão do vínculo familiar e amigos próximos é essencial. (É importante) O acompanhamento médico regular e auxílio psicológico também se fazem necessários nesse momento”, afirma Ana Carolina Piccioni, geriatra da SBA (Sociedade Beneficente Alemã), da casa de repouso SBA Residencial.

Para a especialista, os idosos que contraíram a Covid e não foram vítimas da doença podem ser considerados verdadeiros sobreviventes. Donato dos Santos, por exemplo, pegou o coronavírus em um dos momentos mais difíceis da pandemia, com pico do número de casos e ainda um certo desconhecimento pelos médicos sobre como tratar a doença. “A idade avançada por si só já está associada ao aumento do risco de morte e a combinação da idade avançada com comorbidades, que são muito frequentes nos idosos, acrescentam ainda mais o aumento da taxa de mortalidade nessa faixa etária”, ressalta Ana Carolina. “Aqueles que sobreviveram são privilegiados e provavelmente o fato está relacionado ao hábito de vida mais saudável e acompanhamento adequado das doenças. O efeito socioeconômico também deve ser levado em consideração, a disparidade dos serviços de saúde e a falta de acompanhamento médico de forma adequada prejudicaram muito quem foi infectado”, pontua. 

Coronavírus deixa a sequela da solidão

Os idosos tem desafio específico na vida pós-Covid: a solidão. Flavio Oliveira, psicólogo clínico da plataforma Buscoterapia, explica que é comum que haja um impacto psicológico do isolamento físico na terceira idade. “A obrigatoriedade de se afastar das pessoas. aumentou a sensação de solidão, elevou os níveis de estresse que podem causar o desenvolvimento de ansiedade e depressão”, avalia o especialista.

Ficar sozinho ao menos não foi o caso do alfaiate Donato dos Santos. Ele teve todo o apoio da família, composta pela mulher, por três irmãos, 14 filhos, 29 netos e 18 bisnetos. Seus familiares querem que ele descanse um pouco de todo o trabalho ao longo de décadas, mas o alfaite já tem subido e descido as escadas de sua casa como um treino para voltar a pegar ônibus. 

O psicólogo Flávio Oliveira afirma que a convivência social é o que mais fez falta para as pessoas da terceira idade na crise sanitária. “O idoso precisa de rotina, tem a necessidade de se sentir seguro dentro do seu dia a dia e a pandemia desconstruiu isso. Adequar-se a um novo padrão de rotina não foi nada fácil. Não poder caminhar, conversar com os amigos, não ter contato físico com filhos e netos trouxe bastante sofrimento”, afirma.

Para Oliveira, os idosos agora devem seguir em frente, mas lembrar que, mesmo que vacinados contra a Covid-19, não estão livres de uma nova contaminação. “Os cuidados devem permanecer, mas a vida precisa continuar. Os encontros com familiares e amigos próximos devem voltar a acontecer. É necessário voltar a ter o controle de suas vidas, só não se deve ignorar que a pandemia ainda não acabou”, finaliza.

ÓBITOS DA FAIXA ETÁRIA

São Caetano é a cidade do Grande ABC na qual os idosos representam a maior fatia do total de óbitos por Covid-19: 81%. Dos 907 mortes confirmadas pelo município, 754 foram de moradores com 60 anos ou mais de acordo com números retirados da Fundação Seade, plataforma do governo do Estado. 

A segunda cidade da região com o maior percentual de mortalidade entre os idosos é São Bernardo (70,6%), seguida por Santo André (69,8%), Ribeirão Pires (68,4%), Diadema (65,5%), Mauá (65,1%) e Rio Grande da Serra (63,6%). Ao todo, vieram a óbito 7.405 idosos no Grande ABC, correspondente a 69% do total de falecimentos na região (10.629).

Em números absolutos, a maior marca de óbitos de idosos foi registrada por São Bernardo (3.270), seguida por Santo André (3.083), Mauá (988), Diadema (907), São Caetano (754), Ribeirão Pires (242) e Rio Grande da Serra (55).  

PROGRAMAÇÃO ESPECIAL

A Prefeitura de Ribeirão Pires celebra o Dia Mundial do Idoso hoje com uma programação voltada à terceira idade. A comemoração tem início às 9h com a cerimônia de posse do Conselho Municipal do Idoso, relativa à gestão 2021-2023, no auditório da Secretaria de Assistência, Participação e Inclusão Social, localizada na Rua Miguel Prisco, 288, no Centro da cidade. O órgão oferece a assistência e defesa dos direitos dos idosos. 

Amanhã o Parque Oriental terá apresentações de dança com alunos de coreografia da terceira idade, a partir das 14h. A Prefeitura também anunciou que o CRI (Centro de Referência do Idoso) irá retomar as atividades presenciais a partir da próxima segunda-feira. Serão seguidos todos os protocolos de segurança e a previsão é a de que retornem 287 dos 700 alunos. 




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