Economia Titulo Vendas de veículos
Região ganha concessionária após perder 17 lojas em 5 anos

Revenda de caminhões DAF abre 25 vagas; desde 2015, setor cortou 2.000 profissionais

Soraia Abreu Pedrozo
Do Diário do Grande ABC
14/10/2020 | 00:06
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André Henriques/DGABC


Nos últimos cinco anos, o Grande ABC viu o número de concessionárias de veículos encolher. Reflexo de crises na economia e queda na produção e vendas de veículos, o setor perdeu 17 revendedoras no período e cortou 2.000 profissionais. Conforme levantamento do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos no Estado de São Paulo), feito a pedido do Diário, hoje as sete cidades contam com 79 concessionárias. Em 2015, havia 96. Queda de 17,7%.

E, conforme o Sindicato dos Comerciários do ABC, no mesmo período, o volume de trabalhadores no setor, que girava em torno de 7.000 cinco anos atrás, passou aos atuais 5.000. Redução de 28,5%.

Em meio ao cenário adverso trazido pela pandemia do novo coronavírus, no entanto, a região receberá concessionária de caminhões da marca holandesa DAF que, inclusive, ocupará espaço deixado por revendedora Ford Divepe, em São Bernardo, que fechou as portas em 2018. Foi investido R$ 1,8 milhão pela Via Trucks, que planeja abrir as portas até o fim do mês.

“Já havia planejamento estratégico antes da pandemia, mas achamos adequado seguir com ele para estarmos preparados e instalados para o pós-Covid, por isso seguimos o cronograma”, conta o diretor-geral de operação da Via Trucks São Paulo, Hovani Argeri. A DAF Caminhões chegou ao Brasil em 2013 e possui fábrica em Ponta Grossa, no Paraná.

Em um primeiro momento, segundo Argeri, serão empregados 25 profissionais. Desses, ainda faltam contratar oito. Mas, num horizonte de 36 meses, ele espera ampliar o efetivo para 100 colaboradores. O perfil procurado é o de profissionais ligados às funções operacionais de manutenção de veículos, como mecânicos e eletricistas. Mas há oportunidades também para a área comercial. Interessados podem enviar currículo para adm1@viatrucksguarulhos.com.br. Treinamento será realizado na loja de Guarulhos.

“Escolhemos o endereço da Divepe pela localização. Estamos na marginal da Anchieta e a 500 metros do Rodoanel. É a via de acesso ao Porto de Santos. E em São Bernardo é onde está concentrada boa parte das transportadoras de veículos novos, os cegonheiros”, conta o executivo.

A Via Trucks ocupa espaço de 12 mil metros e possui capacidade produtiva inicial para atender à passagem de 30 caminhões por dia, com condições de triplicar o volume com o amadurecimento do projeto.

“A DAF está se consolidando no mercado brasileiro, lançamos a segunda geração de veículos, os novos XF, e acreditamos que vamos crescer em vendas. A loja terá serviços de manutenção e atendimento ao cliente, inclusive, multimarcas. Por isso é importante estarmos onde o transportador passa, para caminhões é muito importante ter esse atendimento”, assinala.

REAÇÃO

Na avaliação de Antonio Jorge Martins, coordenador do MBA em gestão estratégica de empresas da cadeia automotiva da FGV (Fundação Getulio Vargas), a abertura de concessionária de caminhões é estimulada pelo agronegócio e pela infraestrutura, que não pararam de demandar exemplares pesados. Além disso, na pandemia, com o crescimento da adesão ao e-commerce, também houve maior procura pelos veículos, a fim de cuidar da logística da entrega. “O crescimento desse mercado se dará principalmente na oferta de assistência técnica para a manutenção de caminhões. Sem contar que os modelos atuais têm muita tecnologia embarcada, o que requer acompanhamento em caso de falha”, analisa.

Quanto ao cenário dos últimos cinco anos, em que houve o fechamento de 17 concessionárias, Martins aponta que houve mudança drástica no volume produzido pelo setor no País. “Em 2013, saíram das montadoras quase 4 milhões de veículos. Neste ano, o volume não chegará a 2 milhões, ou seja, o mercado caiu pela metade no período, e as revendedoras sentiram”, exemplifica. “Sem contar que as concessionárias são o elo mais fraco da cadeia automotiva. Há falta de investimento das fabricantes e, muitas vezes, essas revendedoras são tocadas em ambiente familiar, sem um tom profissional”, completa.

O especialista pondera também que, nos últimos anos, têm havido fusões de marcas, o que acaba por concentrar os modelos em um só endereço. Exemplo é a junção da Renault e da Nissan. Ou da Caoa Hyundai com a Chery.

Quanto aos empregos, o diretor do Sindicato dos Comerciários do Grande ABC, Jonas José dos Santos, aponta que não houve encerramento de atividade de concessionária neste ano, apesar da pandemia, e que graças à MP (Medida Provisória) 936, agora lei, as revendedoras puderam suspender salários e contratos por tempo determinado e manter os 5.000 profissionais. “Cerca de 80% do efetivo já voltou à ativa. O restante ainda está com contrato suspenso, mas isso segurou as demissões”, explica.


Vendas de 0km reagem no Grande ABC

Em setembro, as vendas de veículos zero-quilômetro reagiram no Grande ABC, assim como em todo o País, após amargar forte queda devido à pandemia do novo coronavírus.

Segundo dados disponibilizados pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores) e tabulados pelo Diário, no mês passado foram emplacadas 4.114 unidades. Em agosto, haviam sido licenciados 3.114 exemplares. Houve alta de 24,3%, ou 1.000 exemplares, entre carros de passeio, utilitários leves, caminhões e ônibus.

O crescimento do comércio se deu em percentuais superiores ao do cenário nacional. Em todo o Brasil, as vendas de veículos novos somaram 207,7 mil unidades no mês passado, alta de 13,3% na comparação com agosto. Foi o maior resultado mensal do ano.

Na avaliação de Octavio Vallejo, ex-superintendente do Sincodiv-SP (Sindicato dos Concessionários e Distribuidores de Veículos do Estado de São Paulo) e fonte do setor, o consumidor estava “bloqueado”, com medo de sair de casa por causa do risco de transmissão da Covid-19.

Com a flexibilização das regras de isolamento físico, as vendas foram reagindo. “Existia uma demanda represada, que ainda existe. O consumidor está ansioso para voltar ao mercado e trocar de carro”, afirma. “E a nossa região é ponto de reação muito grande. Já se vê muito movimento nas ruas, lojas abertas. Até o fim do ano a tendência é recuperar o tempo perdido.”

No acumulado de janeiro a setembro, o comércio de zero-quilômetro atingiu 28.257 exemplares no Grande ABC. Em todo o Brasil, foram 1,37 milhão de unidades, queda de 32,3% frente o volume dos nove primeiros meses de 2019.

Apesar da reação de setembro, a perspectiva da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) é encerrar 2020 com retração de 31% nos emplacamentos, ao 1,925 milhão de exemplares, o pior resultado desde 2005.

PESADOS

Na região, foram vendidos 45 caminhões zero-quilômetro em setembro e 417 no acumulado do ano.

Em todo o País, os emplacamentos caíram 8,3% frente a agosto e 20,3% na comparação com setembro de 2019, somando 7.400 unidades comercializadas.

O resultado leva as vendas de caminhões acumuladas desde janeiro para 62,6 mil, com queda de 16,2%. Para o fim do ano, a projeção é de retração de 14,9%.  




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