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Família de mulher morta em CDP estuda ação contra o Estado

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
24/10/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Os sentimentos de tristeza e revolta tomam conta de Rosania Miranda, 47 anos, mãe de Talita Karen Miranda Ferreira, 24, morta pelo ex-namorado Thiago Santos Brasileiro, 32, no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André no sábado, durante visita íntima. A família já contatou advogado e estuda entrar com ação contra o Estado, tendo em vista o feminicídio dentro de um equipamento público.

“Além de muita tristeza, sinto revolta. Como isso aconteceu dentro de uma cadeia, local que deveria ter segurança? Não dá para entender”, questiona, inconformada, a auxiliar de produção, mãe de cinco filhos e avó de oito netos. Rosania, agora, passa a ser a responsável pelos quatro filhos de Talita (com 9, 5, 3 e 1 ano e 3 meses de idade), frutos de três relacionamentos anteriores. A família mora no Jardim Elba, na divisa entre a Capital e Santo André.

De acordo com Rosania, a filha mantinha relacionamento com Thiago há apenas quatro meses. O reencontro dos amigos de longa data aconteceu após a prisão de Brasileiro, que ocorreu em fevereiro. “Por conta de amigos em comum eles acabaram se reaproximando. Eu dava muito conselho para ela, mas não é sempre que os filhos seguem”, lamenta.

O detento assumiu a autoria do crime e alegou que estrangulou a ex-companheira até a morte após ela ter informado que queria o término do relacionamento porque havia conhecido outra pessoa. A mãe de Talita, no entanto, contesta. Segundo Rosania, a filha rompeu o namoro, há duas semanas, por ciúmes excessivo do namorado. “Mesmo preso, ele não queria que ela saísse de casa. Mandava recados e chegou a pedir para entregarem um cachorro. Foi quando ela disse que iria vê-lo pela última vez, para deixar tudo claro. Pressenti que algo daria errado e pedi para que ela não fosse. Ela disse que seria a última vez, e, de fato, foi.”

Talita, descrita pela família como trabalhadora e carinhosa, estava desempregada há quatro meses – seu último emprego foi como copeira. “Para ajudar no sustento, ela fazia bicos, vendia sorvete ou me ajudava no serviço. Ela fazia de tudo para criar os meninos. Agora eles vão ficar comigo. São os únicos pedacinhos dela aqui na terra”, destaca Rosania.

Conforme a SAP (Sistema de Administração Penitenciária), Brasileiro está preso por conta de flagrante de roubo e uso de documento falso, além de responder a mais processos pelo mesmo crime. “Ele foi transferido para unidade prisional do Interior para cumprimento de sanção disciplinar. A secretaria irá solicitar ao Poder Judiciário a internação do preso no regime disciplinar diferenciado”, disse, em nota.

Para a presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher em Santo André, Cleide Etelvina Ameirão de Almeida, o caso mostra a situação de vulnerabilidade das mulheres. “Discutimos sempre o feminicídio, mas esse em específico vai ser pauta das próximas reuniões. Ainda mais pela complexidade.”

 




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