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Estudos etnicorraciais se tornam obrigatórios em Matemática

Conselho universitário da UFABC aprova projeto pedagógico para curso; ação é comemorada pelo grupo Coletivo Negro Vozes

Bia Moço
Especial para o Diário
17/10/2017 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


 O conselho universitário da UFABC (Universidade Federal do ABC) aprovou novo projeto pedagógico para o curso de Matemática, no qual passa a ser obrigatória a disciplina de estudos etnicorraciais como forma de reforçar a contribuição dos negros nas ciências exatas, além de cumprir lei federal que determina o ensino de história e cultura afro-brasileira e africana no currículo escolar. Para a comunidade negra, é um marco a ser comemorado pelo grupo Coletivo Negro Vozes da instituição.

Jorge Costa, um dos alunos que fazem parte do coletivo, explicou que a construção de duas disciplinas que vão tratar do tema saíram de discussões do grupo, que posteriormente enviou as propostas à coordenação do curso, a fim de sensibilizar a direção e professores sobre a importância de levar o tema para as salas de aula.

“Nos propusemos a criar as temáticas e dar voz às discussões. A inciativa não veio da universidade, mas dos alunos que fazem parte do coletivo negro. Tivemos uma reunião com o corpo estrutural do curso – profissionais que planejam o conteúdo – e, a princípio, disseram que não havia como colocar essas disciplinas na grade, pois não havia professor”, explica Costa.

Embora não houvesse a possibilidade de contratar novos docentes, o corpo estrutural se envolveu e propôs aos alunos que apresentassem as discussões em algumas disciplinas já existentes. Um dos marcos é o de estudos etnicorraciais, que já existia de forma informal, e passou a ser obrigatória.

“Temos agora uma disciplina que trata particularmente do racismo. Essa interação tem muita importância, pois vamos discutir o tema no modelo de ensinar, e como o futuro professor propõe e passa esse conhecimento adiante”, complementa Costa.

Para o professor Francisco José Brabo Bezerra, coordenador do curso de Licenciatura em Matemática da UFABC, a iniciativa buscará refletir o real retrato da população brasileira, com mais da metade representadas por negros e pardos. “Percebe-se, na atuação do professor, que há uma prática pedagógica carente para trabalhar a diversidade etnicorracial de modo compromissado com a reversão da imagem do negro como inferior.”

Bezerra relata que há muitas crianças negras nas escolas, e por isso se torna fundamental proporcionar na formação inicial do professor, seja ele de matemática ou não, que entenda e saiba como trabalhar com todo esse público.

“Dar voz aos anseios da comunidade negra, não só da UFABC, e consciência de que algumas ações podem mudar a forma de ver e de agir do professor em sala de aula, quando lida com questões tão complexas quanto esta. Além disso, a ideia é dar voz ao que já existe na literatura e que foi produzido por negros brasileiros e estrangeiros.”

Bezerra acredita que não basta existir uma lei, é preciso seduzir o professor para abordar essa temática em sala de aula. “E isso se faz na sua formação inicial e continuada. A lei, por si só, não garante a inclusão do tema na sala de aula. Nossos alunos precisam saber da importância da história e da contribuição da população negra à sociedade brasileira.”




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