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Sto.André tem o 'Viva - Vítimas da Violência Anônimos'
Rita Norberto
Do Diário do Grande ABC
21/06/2003 | 17:13
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Quarta-feira, 14h. A sessão começa e, logo após algumas palavras de um coordenador, a comerciante Luisa Paulus se oferece para dar o seu depoimento. “Meu nome é Luisa. Perdi meu filho, Fábio, de 22 anos, há três anos e cinco meses. Ele estava saindo de casa, de manhã, quando dois ladrões, que fugiam da polícia a pé, o abordaram para roubar o carro. Foi um tiro só, na nuca. E ele morreu na hora.” Luisa fala para quem conhece a dor que sente. Ela fala às pessoas que participam do Viva (Vítimas da Violência Anônimos), que se acredita o 1º grupo de apoio do país para ajudar pessoas que sofreram traumas e perderam pessoas de maneira violenta, abrupta e, para elas, inaceitável, como a morte de um filho de 22 anos.

Luisa narra a sua história e todos escutam, com respeito e atenção. A tragédia, lembra ela, interrompeu uma vida de planos, como a de qualquer jovem. Fábio Baptista Paulus cursava o 3º ano de Administração, trabalhava, tinha namorada. “Não tinha vícios, praticava esportes, era campeão brasileiro de jet-ski”, disse. Como qualquer jovem, saia à noite e voltava de madrugada. “Mas foi acontecer de manhã, numa rua tranqüila. É porque tinha de ser.”

Quando aconteceu, Luisa relembra que a dor e a revolta foram grandes porque “apesar de pensar que havia problemas sociais, nada justificava aquela violência”. “Questionava, até quando esta situação?” Luisa se apegou a Deus e canalizou sua força e dor em busca de justiça. E conseguiu. Seis meses após o crime, os dois ladrões estavam detidos e ainda continuam. Hoje, se sente “em paz” e quer compartilhar com outros pais o que viveu.

Viva – A reunião é aberta com uma prece, a Oração da Serenidade: “Concedei-nos, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar; coragem para modificar aquelas que podemos, e sabedoria para distinguir umas das outras”. As pessoas que querem falam. Quem não quer, apenas escuta. Criado há apenas 15 dias, o grupo está instalado provisoriamente na sede do AA (Alcoólicos Anônimos) de Santo André, que cede o espaço. Mas o grupo não está ligado nem a religião, nem a partidos políticos. Para participar, as pessoas não precisam pagar nada, apenas querer. Atualmente, o grupo reúne seis pessoas, todas com uma dor em comum: pais que perderam seus filhos.

A idéia nasceu de dois empresários da região e amigos, Gilberto Wachtler e Luiz Carlos Linko, que acompanharam de perto o sofrimento de um amigo, o supermercadista Fernando Kowati, que teve o filho, Jackson Wataru Kowati, 25 anos, seqüestrado, mutilado e brutalmente assassinado em São Bernardo – mesmo após o pagamento do resgate. “Percebemos que estas pessoas que passam por estes traumas ficavam depois completamente perdidas. Notamos que havia muitas ações de combate à violência, mas nenhum lugar onde elas pudessem receber apoio e cuidar delas próprias”, disse Wachtler.

Segundo os fundadores do Viva, a intenção é que as pessoas façam do grupo uma “válvula de escape”: serve para que troquem experiências com pessoas que passaram por problemas parecidos com os seus; falem sobre a dor; ouçam outras pessoas e saiam se sentindo mais fortes e aceitando melhor o fato ocorrido. É a teoria do espelho, difundida pelo AA. O Viva também sugere os 12 passos do AA, que, com exceção do primeiro, servem para qualquer situação-problema.

Para os fundadores, Viva e AA têm a mesma essência. “O alcoolismo é uma doença, não escolhe classe social, intelectual, raça ou credo para se manifestar. A violência também não, todos estão sujeitos. O alcoolismo é considerado uma doença incurável, como é incurável a dor de um pai que perde um filho”, disse Linko. Membro do AA há 15 anos, desde então o empresário parou de beber e hoje passa a sua experiência aos demais participantes.

Reunião – A intenção, segundo Wachtler, é que a idéia do Viva se espalhe e que outros grupos com a mesma filosofia sejam criados por todo o país. O grupo está em sua terceira reunião. No futuro, pretende ter uma sede própria e palestras com psicólogos. “A idéia é que à medida em que as pessoas vão se fortalecendo, passem aos que estão chegando a sua experiência”, disse ele. O grupo está instalado hoje na sede dos Alcoólicos Anônimos, na rua Arthur de Queiroz, 976, no bairro Casa Branca, em Santo André. Para conhecê-los, pode-se entrar em contato pelos telefones 4453-4701 ou 4401-1000.




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