Setecidades Titulo
Região tem 1.320 pessoas em situação de rua
Adriana Ferraz
Do Diário do Grande ABC
29/06/2008 | 07:00
Compartilhar notícia


São 1.320 pessoas em situação de rua no Grande ABC. Levantamento do Diário com base em pesquisas feitas pelo Ministério do Desenvolvimento Social com municípios acima de 300 mil habitantes e dados das prefeituras mostram que a exclusão na região está bem abaixo da média nacional. A proporção, em relação à população, é de 0,038%. No Brasil, o número é de 0,061%. A única exceção é São Bernardo, com taxa de 0,071%.

Apesar das diferenças quantitativas, o perfil do público pesquisado é semelhante ao nacional. A maioria esmagadora é homem, tem entre 25 e 44 anos, está fora de casa há mais de cinco anos, não concluiu o primeiro grau, tem dependência química e sobrevive de catar lixo das ruas. Cerca de 70% da população tem alguma fonte de renda.

"Eles trabalham para não mendigar. Boa parte já teve carteira assinada. Para os que vivem nesta situação há mais de cinco anos, o ganho semanal é de R$ 30 a R$ 40", explica a diretora do Departamento de Proteção Social Especial do ministério, Valéria Gonelli.

As atividades escolhidas são as que apresentam mais facilidade de trabalho e ganho rápido. "Elas querem manter sua dignidade. Precisam, pelo menos, pagar pelo seu próprio vício, seja bebida ou cigarro", comenta a diretora. A comprovação de que existe função remunerada quebra mitos. Na região, o maior percentual de moradores de rua que praticam a mendicância para sobreviver está em Mauá - 13,1%. O índice é quase o dobro do registrado em São Bernardo, de 7,9%.

Mendigar, segundo a legislação brasileira, é contravenção penal. Morar na rua, porém, é direito do cidadão. O presidente da comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo, Mário de Oliveira Filho, explica que a Constituição assegura a todo brasileiro a opção de morar em vias públicas.

"Muitos têm problemas na família, com alcoolismo ou qualquer outro tipo de vício. Outros moram nas ruas por opção e devem ter os mesmos direitos de qualquer cidadão com endereço fixo, como acesso à Saúde, Educação e Segurança. Ter ou não moradia não desqualifica a pessoa."

Miséria - Para o coordenador da Associação Rede Rua, Alderon Pereira da Costa, as novidades da pesquisa não interferem muito na imagem que as pessoas com moradia fixa têm dos moradores de rua. "O preconceito é inerente ao brasileiro, que procura se manter afastado do problema. É pesado ver uma pessoa dormindo na porta da sua casa. É a transparência da miséria humana", diz.

Para Costa, a realidade está longe de ser superada. "O poder público ainda está começando a trabalhar o tema. É preciso, porém, ter a consciência de que a solução passa pelo investimento em prevenção. Não adianta apenas construir ou aumentar vagas em albergues. Isso é política de defesa, de afastamento. Não é o número de pessoas na rua que importa, mas seus problemas, que são muito complexos. Essas pessoas chegaram ao fundo do poço e devem ter atenção de psicólogos, médicos, assistentes sociais, advogados. Uma gama de profissionais. Albergues não resolvem."




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;