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Basquete se despede de Laís Elena Aranha

Um dia após comemorar 76 anos, ex-jogadora e ex-treinadora de Santo André morre na Capital

Por Dérek Bittencourt
13/03/2019 | 07:00
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Claudinei Plaza/DGABC


Pode até parecer chavão para quando nos despedimos de algum esportista, mas é fato: o basquete está de luto. Morreu ontem Laís Elena Aranha, um dia depois de completar 76 anos, sendo 51 deles dedicados à modalidade em Santo André. Lutando contra um câncer na mama, ela teve uma pneumonia na semana passada e estava internada no Hospital AC Camargo, em São Paulo. Seu velório será na Câmara andreense, aberto ao público e terá início às 7h de hoje. Às 15h, o corpo segue para cremação na Vila Alpina, na Capital.

Natural de Garça, Laís Elena chegou a Santo André em 1964 para jogar no extinto time da Pirelli. A ex-armadora foi pessoalmente buscada no Interior pelo ex-treinador Paulo Albano. Defendeu em quadra as cores da cidade até 1977, quando, aos 34 anos, assumiu integralmente as categorias de base andreenses. Daí foram 32 anos ininterruptos como treinadora do time adulto, até passar o bastão para a grande companheira de vida, Arilza Coraça, que ontem estava no quarto no momento da morte, juntamente com a ex-ala-armadora da Seleção Brasileira e de Santo André Vivian, 43.

“A pressão foi caindo, o batimento caindo, gritei ‘ela está indo embora’. E foi. Virou estrelinha. Pedi para guardar um lugar no time dela lá onde ela foi”, contou Vivian, sem esconder a emoção. “Fiquei com ela no aniversário dela, ontem (segunda-feira). Estava tão bonita, serena, coradinha.”

Com tantos anos de basquete, Laís se tornou referência não apenas como uma defensora da modalidade, mas alguém que ajudou a formar milhares de atletas. “Era uma mãezona para a gente. Foi guerreira. Muito coesa, entendia muito de basquete e de gente. Vale relembrar o legado que deixa: temos de lutar pela nossa modalidade. Para ela não tinha sábado, domingo, feriado. Estava sempre disposta a defender a cidade e o esporte”, disse a ex-ala Janeth Arcain.

Apesar de não ter sido treinada por Laís, a Rainha Hortência prestou sua homenagem. “Se Santo André teve equipe forte, deve muito a ela, que batalhou por patrocinadores, por manter equipe, desde a época em que ela jogava pela Seleção Brasileira até quando continuou como técnica. Nunca tive o prazer de ser dirigida por ela, mas de jogar contra. O que me vem à cabeça era que sabia que iria me marcar. Nos dávamos muito bem, tinha respeito grande e gratidão por estar sempre envolvida no meio do basquete.”

Segundo o presidente da Liga de Basquete Feminino, Ricardo Molina, Laís surpreendeu a todos com discurso durante o lançamento da LBF 2019. “Ela pediu a palavra, ninguém esperava: ‘Peço para vocês que encham o ginásio, o basquete feminino merece, precisa, está recomeçando, para que a gente tenha o basquete feminino forte novamente’. Não foi combinado. Ela falou, mesmo um pouco debilitada. Só tenho a agradecer por tê-la conhecido”, declarou.


Carreira foi marcada por títulos e 51 anos dedicados à cidade

Enganava-se quem olhava para Laís Elena e duvidava que aquela franzina senhora fosse do basquete. Mas números e conquistas são provas mais do que concretas da vencedora que foi. Como jogadora da Seleção Brasileira, sagrou-se bicampeã pan-americana, pentacampeã sul-americana, conquistou uma medalha de bronze no Mundial de 1971. Por Santo André, ainda foi tricampeã paulista, título que levantaria outras duas vezes como treinadora. Nesta função, pela equipe andreense, levou ainda o bicampeonato nacional em 1999 e na temporada 2010/2011, e faturou o Sul-Americano, em 1999.

“A vida dela foi devotada ao basquete feminino de Santo André. A gente quer que esse legado perdure por muito tempo”, disse o atual técnico de Santo André, Bruno Guidorizzi. “É pessoa para nunca esquecer”, homenageou a ex-colega de Seleção e Pirelli (onde também foi comandada por ela) Thelma Tavernari.


Prefeito declara luto oficial de três dias; Barbosa e Lilian lamentam

O prefeito Paulo Serra decretou luto oficial de três dias em Santo André em homenagem a Laís Elena, que era secretária adjunta de Esportes e Prática Esportiva da atual gestão. “Perdemos um símbolo da cidade. Era referência como pessoa, esportista e andreense. Transformou vidas de tantas meninas através do esporte e agora vinha transformando a história dela em políticas públicas. Sentimento de perda irreparável. Tem uma história que se confunde com a do esporte de Santo André”, declarou o político.

O técnico Antônio Carlos Barbosa trabalhou por três vezes com Laís na Seleção. “Não quis continuar por não gostar de avião”, lembrou. “Grande perda não só para Santo André, como para todo o basquete brasileiro”, disse. “Todos que estão envolvidos com o basquete devem a ela pelo que batalhou em momentos áureos ou quando não tinha apoio nenhum. O mínimo que podemos fazer é manter”, pontuou a ala-armadora da Seleção, Lilian.




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