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Mileum miledois!
Creso Peixoto
09/09/2017 | 07:00
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 Lá se vão dois segundos enquanto você lê o título desta coluna. Este tempo é considerado como o mínimo de segurança entre veículos na mesma faixa. Suficiente para que um motorista pise no freio e evite bater no automóvel à frente.

Não foi o que aparentemente ocorria pouco antes das 8h de 30 de agosto de 2017, na Rodovia Carvalho Pinto, Jacareí, São Paulo. Colidiram 36 carros, com duas mortes e 20 feridos. Já a ‘Copa do Mundo’ do pior engavetamento mundial não sai do Brasil. Em 15 de setembro de 2011 foram 300 veículos, com um morto e 50 feridos na Rodovia dos Imigrantes.

Infelizmente, muitos motoristas brasileiros costumam guiar ‘em cima’ do veículo dianteiro. Reproduzem bandos de animais em fuga. A diferença é que animais correm em velocidade que suas pernas permitem e a colisão não tem lata entre seus corpos. Motoristas parecem entender que, como todos guiam assim, por que tenho que ser diferente? Por que teria que me afastar? Não pensam que algum pode ‘meter o pé’ no freio a qualquer momento e, em uma cadeia de eventos, vir a ocorrer interminável número de choques.

A ação de frear é automática. Não se pensa: acendeu a luz de freio, pedal acionado e pronto. A razão deve prevalecer, portanto, antes da necessidade de frear. Separar-se de forma prudente do veículo à frente faz a vida ir bem mais à frente, com o perdão da rima.

A recomendação de direção defensiva indica deixar distância que equivalha a dois segundos, entre veículos na mesma faixa. Experimente! Sugestão: espere o veículo à frente passar por um pilar de viaduto, por exemplo. Daí, mentalize, lentamente: 1.001, 1.002. Corresponderá ao tempo de dois segundos. Caso você ainda esteja mentalizando e o pilar passar pelo seu veículo, está a menos de dois segundos do veículo à frente. Freie e se afaste. Simples, não? Porém, a tentativa de se ensinar a técnica do mileum miledois na Rodovia D. Pedro I, anos atrás, gerou curiosas placas. Lembro-me de uma pichação muito comum em rodovias não apenas do Grande ABC, do tempo em que digital era apenas algo do dedão: ‘Cão Fila, km 26, São Bernardo do Campo’, que, tenho certeza, morrerei e nunca saberei por que Tozinho, seu autor, resolvera inundar rodovias com sua mensagem. Deve ter motorista com cabelo grisalho que até hoje se lembra de placas com dizeres 1.001, 1.002, de alguma viagem interiorana...

O que importa é que, acionados os conhecidos breques, anglicismo de freagem, todos mantenham distância entre si até a parada total.

Vários pesquisadores estudaram a ação de freagem em cadeia de veículos. Os resultados indicam que, a 100 km/h, a distância segura entre veículos varia entre 30 m a 90 m, com média de 60 m.

Há regulamentação e multa específica para motoristas que não cumpram distância de segurança, nos artigos 29 e 192 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro). Mas não há a objetividade de distâncias a respeitar. São letras subjetivas.

Em 2015 foram aplicadas milhares de multas por não se guardar distância segura entre veículos, em rodovia próxima a São Paulo. Geraram surpresa e recursos a cofres públicos. Não geraram a função maior de multas: medo generalizado de ser flagrado, muito menos melhoria no processo educacional.

A alegada impossibilidade de não se poder medir a distância é prova de que o CTB está doente, talvez na UTI. Na atualidade, há tecnologia e até preço para obrigar instalar sensores na frente de cada veículo, alertando o motorista para aumentar a distância. Câmeras com leitor inteligente de imagens podem facilitar a fiscalização, visando atribuição de infrações, em ambiente com notificação da fiscalização específica, em placas aos motoristas. Aos que achassem que isso acarretaria reforço à propalada indústria da multa, sugeriria conversar com quem perdera entes ou amigos esmagados por caminhões que não conseguiram frear.

Claro, o ideal, Educação. Para entender e deixar mesmo uma distância segura.




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