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Mensalão completa 10 anos e coloca PT da região à prova

Compra de votos parlamentares na gestão Lula foi condenado pelo STF em 2013; eleição do ano que vem será a 1ª pós-sentença

Por Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
17/05/2015 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


O esquema de compra de votos de parlamentares na Câmara durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), denominado de Mensalão, completou uma década na quinta-feira, em alusão à divulgação das denúncias do caso, e coloca o petismo do Grande ABC – região berço do partido – à prova. A condenação dos envolvidos pelo STF (Supremo Tribunal Federal) saiu em 2013, um ano depois da última eleição municipal. O pleito do ano que vem será o primeiro após a sentença da Corte, o que pesará se somado ao processo de corrupção na Petrobras.

Nas duas últimas disputas (2008 e 2012), três prefeitos do PT foram eleitos. Em São Bernardo, Luiz Marinho se alçou, conquistou dois mandatos neste período e agora tem Tarcisio Secoli, integrante do primeiro escalão do Paço, como favorito para encabeçar a chapa. Há sete anos, Mário Reali (Diadema) e Oswaldo Dias (Mauá) entraram na lista. No páreo de três anos atrás, os ex-deputados Carlos Grana (Santo André) e Donisete Braga (Mauá) tiveram sucesso nas urnas e hoje projetam empreitada de reeleição. Independentemente da atuação de cada governo, nas sete cidades, a cúpula da sigla trata com prudência a atual circunstância enfrentada no País.

Na denúncia oficial que foi acolhida pelo STF, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, então presidente do PTB, deu detalhes do esquema de corrupção, do qual fazia parte, esclarecendo que parlamentares que compunham a chamada base aliada recebiam recursos do PT por conta do apoio ao governo federal. As investigações da Polícia Federal apontaram que empresas de telefonia injetaram R$ 127 milhões nas contas da DNA Propaganda, administrada por Marcos Valério, que alimentava o caixa.

No Mensalão, 37 pessoas foram denunciadas (veja arte ao lado). Figuras históricas do PT integraram o rol, como José Dirceu, José Genoino, Delúbio Soares, Luiz Gushiken e João Paulo Cunha. Do Grande ABC, o então deputado Professor Luizinho, de Santo André, que era líder do governo petista, figurou entre os acusados, porém foi absolvido em seguida – por unanimidade e saiu ileso no julgamento do caso. Do total de réus, 25 foram condenados à prisão, incluindo Dirceu, Genoino, Delúbio, Roberto Jefferson e o publicitário Marcos Valério.

Luizinho criticou o processo ao considerar que o episódio se tornou “espetáculo midiático”. Segundo o ex-deputado, a denúncia contra ele foi sem fundamentos, “acusado, condenado e apenado ao ter acabada sua carreira política”. “Sofri massacre. Foi absurdo eu ter sido denunciado. Fui punido por todos esses anos. Vi a minha honra ser destruída. Até hoje algumas pessoas acham que fui cassado”. Nos pleitos de 2006 e 2008, saiu derrotado. O petista concluiu que o PT tem de reavaliar o momento. “Tivemos avanços. É inaceitável o dito Mensalão do PSDB e DEM não terem sido julgados até hoje.”

O cientista político Rui Tavares Maluf, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, avaliou que apenas a partir da sentença do Mensalão foi possível verificar resultado negativo, configurado na campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT), em 2014. “Isso influencia com maior diferença com o episódio do Petrolão, que impactará a médio e longo prazos.”

Professor de Ciências Políticas do FGV e da PUC, Francisco Fonseca alegou que o caso distanciou o PT da classe média, que não se vê contemplada. Para ele, a sigla se rendeu às regras do jogo. “Quando assumiu o poder, deixou de querer alterar as peças. Não se empenhou na questão que era sua bandeira e deu início ao jogo, que era feito pelo governo Fernando Henrique (Cardoso, PSDB).” 




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