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Região pode racionar gás natural por rompimento de duto na Bolívia
Hugo Cilo e Leandro Cervantes
Do Diário do Grande ABC
11/04/2006 | 08:24
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O anúncio do governo de que o fornecimento de gás natural será reduzido em 12% nesta semana nos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro – em função do rompimento do Gasbol (gasoduto Brasil-Bolívia) – acende o sinal amarelo nas indústrias Grande ABC. O temor surge da possibilidade de que o setor produtivo tenha que colocar o pé no freio num momento em que o mercado interno dá sinais de reaquecimento.

A preocupação se justifica. Segundo o Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), a ausência de sistemas duais de energia – que possibilitariam o uso provisório de outra fonte de combustível – ameaça "parar" algumas empresas da região caso haja realmente racionamento.

A ruptura no duto responsável pelo abastecimento de Estados do Sudeste também compromete o abastecimento de veículos movidos a GNV (Gás Natural Veicular). Segundo o Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC), já começa a faltar gás nos postos da região.

"Os resultados dessa crise chegaram ao Grande ABC. As distribuidoras orientam que sejam priorizados abastecimento dos ônibus coletivos e taxis", afirma o diretor do Regran, José Antonio Gonçalez Garcia, proprietário de dois postos na região. "Além disso, o temor maior dos clientes é de que o governo forneça primeiro às indústrias e residências, deixando de lado o usuário de carro", completa. Atualmente, a frota movida a GNV no país chega a 2 milhões de veículos, segundo a Abegás (Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado).

Caos – No caso do setor produtivo, a desaceleração – ou paralisação, na pior das hipóteses – do fornecimento de gás poderá causar um "caos", na avaliação do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo), de Santo André. "Se houver falta de gás, pára tudo. Não existe ‘caixa-d’água‘ de gás ou qualquer tipo de estoque regulador para que possamos agüentar uma interrupção no fornecimento, por mais rápida que seja", garante o diretor da Resiplastic, fábrica de produtos plásticos em Mauá, José Jaime Salgueiro, que é diretor-titular do Ciesp Santo André – órgão responsável também por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.

Para Salgueiro, a intranqüilidade causada pelo rompimento de gás expõe a fragilidade dessa matriz energética nas indústrias da região. "Além da questão política dessa fonte de energia, já que o fornecimento de gás é monopolizado pela Petrobras e, pelo menos de imediato não há perspectivas de aumento de oferta, existe ainda a questão ambiental. Isso porque muitas empresas que antes utilizavam outros combustíveis, como o óleo ou a madeira, e hoje utilizam o gás, teriam dificuldades em retornar ao antigo sistema casa haja racionamento, por conta de restrições da legislação ambiental", completa Salgueiro.

Já o diretor-adjunto do Ciesp Diadema, Walter Bottura, considera a possibilidade de redução do fornecimento de gás devido ao rompimento do gasoduto apenas "um dos problemas" desse tipo de energia. "O rompimento de um duto é um fato isolado, que será resolvido", minimiza Bottura. "O fato é que a demanda pelo produto tem crescido muito, isso aliado à questão política da Bolívia e à possibilidade de ausência do produto disponível no mercado provavelmente causará um aumento dos preços".

Termelétricas – Não são apenas postos de combustíveis e indústrias que amargam os efeitos da crise de abastecimento de gás natural. Segundo o Ministério de Minas e Energia, a contenção no fornecimento terá como alvo em especial as usinas termelétricas de energia. O corte provisório às geradoras de eletricidade deverá atingir 72% – muito acima dos 12% previstos para as distribuidoras.




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